Lições dos Reis Magos – I

As pessoas espertas perguntam, as pessoas espertas actuam

«Os Reis Magos do Oriente chegaram a Jerusalém, e perguntaram: “Onde está aquele que nasceu como Rei dos Judeus? Porque vimos a Sua estrela no Oriente, viemos adorá-Lo” (Mateus 2:1)».

Os Reis Magos sabiam algo muito importante. Estavam cientes de que não sabiam tudo. Sócrates ensinou-nos que «a sabedoria verdadeira é saber que nada sabemos». Foi por isso que os Reis Magos pediram informações. Eles usaram a virtude da prudência.

O que é a Prudência? A prudência é uma das quatro virtudes cardeais (sendo as outras três, a Justiça, a Fortaleza e a Temperança). E basicamente significa “Bom Julgamento”. O “Catecismo da Igreja Católica” ensina-nos que «a Prudência é a virtude que nos fornece raciocínio prático para discernirmos o nosso bem verdadeiro em todas as circunstâncias e escolhermos os meios certos para o conseguirmos». «O homem prudente olha por onde vai (Provérbios 14:15)». O que é “o nosso bem verdadeiro”? O nosso bem verdadeiro é uma felicidade perene. Como vimos há algumas semanas, essa felicidade perene é chamada “Paraíso”.

O Catecismo acrescenta que a Prudência «é chamada auriga virtutum (o condutor das virtudes); ela guia as outras virtudes estabelecendo regras e medidas. É a Prudência que prontamente guia o julgamento da nossa consciência. O homem prudente determina e direcciona a sua conduta de acordo com o seu julgamento. Com o auxílio desta virtude nós aplicamos os princípios morais a casos particulares sem erros, e ultrapassando dúvidas sobre como conquistar o bem e evitar o mal».

A primeira coisa que um homem prudente faz é informar-se sobre as opções que se lhe oferecem. Não toma decisões precipitadas. Não baseia as suas acções apenas nos seus sentimentos ou intuição. A prudência é um requisito importante para o exercício da nossa liberdade. Como vimos algumas semanas atrás, uma escolha irracional pode vir a ser uma escolha irresponsável. Mas como nós definimos a Liberdade como sendo uma escolha inteligente, é por isso que precisamos de prudência.

Primeiro Passo: Pergunte. Para nos podermos informar, precisamos de estudar. Precisamos de fazer perguntas. A 21 de Março de 2007, o Papa Bento XVI, dirigindo-se a uma delegação da Faculdade de Teologia de uma Universidade Alemã (Tubigen), disse: «Para se ser um teólogo e efectuar essas funções para a Universidade, e eu arrisco-me a dizer para a Humanidade – e por consequência, o serviço que se espera de um teólogo – ele terá que ir mais fundo e perguntar: Mas, o que foi dito, é verdade? E, se é verdade, afecta-nos? E como é que nos afecta? E como é que nós podemos reconhecer que é verdadeiro e que nos afecta?»

O Papa acrescentou ainda: «Só se perguntarmos, e se as nossas perguntas forem radicais, assim como a Teologia deve ser radical acima de qualquer especialização, é que podemos esperar obter respostas a essas perguntas fundamentais que nos afectam a todos nós… Antes de tudo, temos que fazer perguntas. Aqueles que não fazem perguntas não obtêm respostas».

Uma vez Sócrates disse: «A sabedoria começa com o senso de maravilha». Quando nos maravilhamos fazemos perguntas. Quando fazemos perguntas, tornamo-nos mais conhecedores.

Segundo passo: Oiçam. O Papa Bento XVI disse: «Mas eu acrescentaria que para a Teologia, mais do que ter a coragem de perguntar, também precisamos de ter a humildade de escutar as respostas que a Fé Cristã nos dá; a humildade de compreender e entrever nessas respostas a sua razoabilidade e assim fazer com que elas sejam novamente acessíveis ao nosso tempo e a nós próprios».

O Reis Magos foram suficientemente humildes para ouvir os conhecedores da Lei. Por essa razão que reencontraram a Estrela.

Temos que aprender a ouvir os outros, mas acima de tudo temos que aprender a ouvir a Deus. Uma pessoa que não reza não pode ser uma pessoa prudente, porque ainda não escutou a voz Daquele que tudo sabe.

Terceiro passo: Actue. Os Reis Magos usaram a informação que receberam. Em contraste com a atitude dos Peritos das Escrituras. Eles sabiam onde é que Jesus nasceria, mas não tomaram qualquer acção com relação a esse conhecimento. Tão imprudente. Tão néscia. Tão… (Que Pena! A prudência diz-me para não usar palavras desagradáveis).

O mais frequente é as pessoas pensarem que a prudência é o mesmo que precaução, passividade ou inação. Não, não, não, e outra vez não. «A Prudência é a razão correcta em acção», como escreveu S. Tomás de Aquino (Summa Theologiae), segundo Aristóteles. «Não se deve confundir a prudência com timidez, ou medo, nem com duplicidade ou dissimulação» (“Catecismo da Igreja Católica”).

A Prudência é a virtude que o Papa Francisco se referiu na sua homilia da Epifanía, no ano passado, se bem que tenha usado outra frase para a definir: «Astúcia Espiritual». Ele disse: «Precisamos de acolher a luz de Deus nos nossos corações, e ao mesmo tempo cultivar essa astúcia espiritual em que é possível combinar a simplicidade com a perspicácia, conforme Jesus disse aos seus Discípulos. “Sejam espertos como as serpentes e inocentes como as pombas” (Mateus 10:16)».

Pe. José Mario Mandía

jmomandia@gmail.com

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