Le Roi est mort, vive le Roi!

No último Domingo os portugueses foram convidados a irem a votos, para escolher o seu próximo Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito à primeira volta!

Mal, bem ou talvez, os resultados da votação suscitam-me três tipos de reacções: previsibilidade, surpresa e preocupação.

A primeira, a previsibilidade da elevada abstenção que se registou, com mais de metade dos portugueses a não votarem. As causas são múltiplas, algumas antigas e outras recentes: alguma desilusão das populações com os políticos e partidos nacionais; a erosão do papel do Presidente, provocada pela magistratura de Cavaco Silva; a incomodidade do sistema de votação, mas também o facto desta campanha eleitoral ter sido morna e sem temas mobilizantes, os grandes partidos políticos não se envolveram directamente na mobilização e porque um dos candidatos já era previamente apresentado como o vencedor, desmobilizando possíveis votantes.

Foi evidente que, num contexto de vantagens e desvantagens dos candidatos, Marcelo partiu para estas eleições, com mais de dez anos de exposição mediática, enquanto comentador político televisivo, dando-lhe uma enorme vantagem sobre os seus adversários. Simpático, afectivo, piscando inteligentemente o olho à Esquerda e à Direita, assumindo algum distanciamento do PSD, do CDS e de Cavaco Silva, com um discurso bem centrado em causas sociais, o Presidente agora eleito (52%) não precisou de gastar dinheiro em cartazes e comícios para convencer a população a elegê-lo, nomeadamente quando os dois principais opositores se envolviam na conquista dos votos do PS.

O desconhecido Sampaio da Nóvoa foi, perante o principal candidato, um digno perdedor (22,9%), obtendo o segundo lugar numa competição política a que não estava habituado e na qual sofreu as consequências do seu claro posicionamento político em favor de um PS pouco adaptado a apoiar um candidato presidencial independente do partido. Um homem de carácter e valor que pretende agora afastar-se da política.

Surpresa evidente foi o excelente resultado obtido pela candidata assumidamente partidária Marisa Matias (10%), colocando o Bloco de Esquerda, que já tinha obtido um bom resultado nas anteriores eleições legislativas (19 deputados), como um partido estável e a ter em conta na cena política portuguesa.

Um pequeno apontamento também surpreendente foi o resultado obtido pelo simpático calceteiro de profissão, mais conhecido por “Tino de Rãs”, com mais de 150 mil votos expressos, conseguindo o apoio das gentes mais humildes com quem contactou e a expressão dos descontentes com a política nacional.

Surpresa ou não, foi o mau resultado da candidatura “espontânea” da socialista Maria de Belém (4,24%), que alguns “pesos pesados” do partido convenceram a candidatar-se, com a promessa de que arrastaria o eleitorado socialista a apoiá-la, mesmo sabendo que António Costa nunca o faria. Erro de cálculo ou a manifestação de perversas intenções dentro do partido!?

Uma outra surpresa desagradável, neste caso para o PCP, trouxe à luz do dia as fragilidades de uma outra candidatura partidária. A de Edgar Silva, que obteve um péssimo resultado (3,95%) e não me parece ter sido por não ter “uma candidata engraçadinha”, como disse insultuosamente o secretário-geral do PCP, após conhecer os resultados, referindo-se a Marisa Matias. Parece que tudo serve ao PCP para justificar as derrotas que não consegue transformar em vitórias.

Por outro lado, este fraco resultado do PCP pode vir a ser um motivo de preocupação para o Governo de António Costa se os “duros” do Comité Central convencerem o seu secretário-geral de que, a culpa disso, é consequência do apoio do PCP ao actual Governo. Situação que poderia conduzir à queda do Governo.

Entretanto, dizem igualmente que o PS, ao não apresentar um candidato oficial e obtendo um mau resultado, pelo somatório dos votos de Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, foi o grande perdedor com a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa.

Não creio, embora me suscite alguma perplexidade positiva quem pode estar na origem desta análise, senão vejamos:

– O PCP perderá ainda mais, se romper o acordo com o Governo, por um motivo fútil;

– Marcelo deu todas as garantias de manter a estabilidade governativa de António Costa;

– António Costa, ao não indicar um candidato oficial do PS, não arriscou colocar o PS como vencido, face a um PàF (PSD/CDS) desejoso de vingança;

– O mau resultado de Maria de Belém, sabendo-se da preferência de António Costa por Sampaio da Nóvoa, anulou as eventuais vozes dissidentes dentro do PS.

Parece-me que nestas eleições presidenciais em Portugal houve mais do que um vencedor…

LUIS BARREIRA

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