PAPA FRANCISCO: QUANTO MUITO DESPEDIDA, NÃO RESIGNAÇÃO!
Ainda há muita estrada para andar
Na viagem de regresso a Roma, depois de uma visita de vários dias ao Canadá, as palavras do Papa Francisco fizeram soar o alarme. “Papa pode resignar!” foi o título de abertura de muitos telejornais e radiojornais, depois de beberem a informação veiculada, em primeira mão, pelas agências de notícias internacionais. Mas não! O Papa não pode resignar porque tem isso em mente. O Papa pode resignar porque a lei vaticana o permite, como fez Bento XVI.
Aliás, só os mais distraídos, ou aqueles que preferem ser vaticanistas apenas quando o “circo pega fogo”, é que interpretaram as palavras de Francisco como uma resignação eminente. É que logo após a sua eleição, em Março de 2013, quando questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de um dia secundar a opção tomada meses antes por Bento XVI, o Santo Padre respondeu que cabe ao Espírito Santo decidir, ainda que encarasse com naturalidade que esta pudesse vir a ser uma nova realidade ou tradição na Igreja Católica. Na ocasião, argumentou que hoje o mundo se transforma a grande velocidade, sendo que mesmo para o Papa – qualquer que ele seja – é difícil acompanhar a evolução dos tempos, decidindo em conformidade.
A verdade é que numa interpretação e análise mais a frio, foram muitos os Órgãos de Comunicação Social que aligeiraram o discurso. No voo para Roma, durante a habitual entrevista aos jornalistas, o Papa Francisco disse, liminarmente, que a decisão está longe de estar tomada, embora – como tudo na vida (aqui já estamos nós a acrescentar) – «a porta está aberta».
Pelo que tem sido a sua postura desde que se sentou na Cadeira de Pedro, Jorge Mario Bergoglio não terá quaisquer pruridos em anunciar a vacatura do cargo quando considerar que o deva fazer, mas também não é de faltar aos compromissos. Daqui a um ano tem lugar a edição de Lisboa da Jornada Mundial da Juventude. É pois sabido o carinho que os Papas têm por Portugal, não só por ser um país maioritariamente católico, mas porque desde 1917 é a Nação de Nossa Senhora de Fátima, que com Nossa Senhora de Lourdes e Nossa Senhora de Guadalupe forma o “tríptico mariano” mais popular em todo o mundo. Francisco disse que irá lá estar, pelo que só se as forças não o permitirem é que não completará mais esta missão.
Como sempre acontece, a tentação da notícia fácil, impactante, vendável, vai tomar conta das redacções nos próximos tempos, com os media a procurarem em qualquer acção do Papa um sinal de que a resignação vai dali a nada acontecer. Acontece que a História da Igreja não é feita de fogachos, irreflexões ou estados de alma de um homem só. A Igreja é vontade colectiva guiada pela Razão, e não o resultado da soma de várias vontades individuais. É entidade onde o egoísmo não tem lugar, pois existe para servir o Outro, segundo Ele. E tantas vezes Francisco tem falado do flagelo do descarte, que dificilmente a todos nós, CRISTÃOS, irá descartar. E mesmo que a despedida venha a ter lugar, primeiro há que assegurar que as Chaves da Igreja e a Pedra sobre a qual foi construída ficarão em mãos seguras. Pelo bem da Humanidade!
José Miguel Encarnação