CENTROS DE TESTES AO ÁCIDO NUCLEICO: QUATRO VOLUNTÁRIOS PARTILHAM A SUA EXPERIÊNCIA COM OS LEITORES

CENTROS DE TESTES AO ÁCIDO NUCLEICO: QUATRO VOLUNTÁRIOS PARTILHAM A SUA EXPERIÊNCIA COM OS LEITORES

Jesus como modelo de serviço ao próximo

A par dos profissionais de saúde, são a parte mais visível sempre que alguém se desloca aos centros de testes em massa espalhados pela RAEM. Trata-se dos muitos voluntários que todos os dias emprestam umas horas da sua vida pessoal para ajudar a população de Macau a realizar os testes com a maior brevidade e segurança possíveis. Muito importante também é o apoio que prestam aos idosos e a quem sofre de alguma incapacidade física. Quatro voluntários partilharam há dias com O CLARIM a sua experiência pessoal.

Natural do Gana, Abubakar Sadik Abdullah estuda na Universidade de São José (USJ) e é já um dos voluntários com alguma experiência no acompanhamento dos utentes dos centros de testes em massa. No currículo conta com quatro participações, em diferentes ocasiões, o que no seu entender é apenas mais uma extensão do trabalho que vem realizando desde 2021 na USJ. «Na primeira semana de cada mês, costumo participar nos trabalhos de reciclagem promovidos pela USJ, no Campus da Ilha Verde. Aliás, se for a ver bem, participo em quase todas as acções de voluntariado organizadas pela USJ», disse Abubakar.

Questionado sobre quais os momentos que mais o têm marcado nas semanas de testes ao Covid, lembrou um episódio em especial: «O momento inesquecível foi ter ajudado uma idosa a entrar no centro [de testes]. Como se a minha ajuda fosse a perna extra que precisava para se deslocar. Senti-me feliz mas ao mesmo tempo triste, pois esta idosa encontrava-se sozinha».

Uma vez que não domina a língua chinesa, Abubakar considera ser importante saber comunicar por meio da linguagem corporal. Para ele, todas estas experiências têm contribuído para «fortalecer a alma através do amor do perdão e da ajuda ao próximo».

Também estudante da Universidade de São José, Edward Yee estreou-se este ano nos centros de testes, mais precisamente no dia 28 de Junho. O incentivo chegou, primeiro, pela página do Facebook de um amigo e, de seguida, por palavras do bispo de Macau. «Na homilia da Missa Dominical de 26 de Junho, o bispo [D. Stephen]Lee disse que devemos seguir Cristo e não temer em nos sacrificarmos para amar a Deus e aos outros. E disse que mesmo no meio de uma pandemia devemos fazer mais de forma positiva», recordou Edward, acrescentando: «No mesmo dia a USJ lançou o desafio, e eu e a minha mulher inscrevemo-nos sem pensarmos duas vezes».

Entre inúmeros sentimentos, Edward destacou o facto de muitos voluntários passarem horas a fio no exterior dos centros de testes, vestidos da cabeça aos pés, expostos ao Sol, ao calor e à humidade. À memória veio também «o cansaço extremo sentido por todos [os voluntários], embora a atmosfera seja sempre alegre e positiva, contribuindo para um forte espírito de equipa».

A vontade de querer ajudar o próximo não surgiu agora, tendo Edward cooperado com a delegação da Cruz Vermelha em Macau antes de concluir a licenciatura. No caso da pandemia de Covid-19, encara o contributo que tem vindo a dar como uma «missão atribuída por Deus, com o objectivo de ajudar a sociedade em geral». No seu entender, «para se ser um bom católico não chega participar nas actividades da paróquia, ir à Missa e receber a Eucaristia».

Miranda, cujo apelido preferiu manter no anonimato, não é estudante mas sim funcionária da Universidade de São José. Até à data em que falou a’O CLARIMjá havia dado um pouco de si, do seu tempo e dedicação, por três vezes, aos cidadãos que nos últimos dias se deslocaram ao centro de testes em massa instalado no Campus da Ilha Verde.

A razão para deixar o conforto do lar em prol de quem vive os constrangimentos resultantes do Covid-19 são simples de compreender: «Os testes de massa são uma empreitada de grande escala para a sociedade de Macau. Tenho tempo e capacidade, e uma vez que aqui nasci e cresci quero contribuir para ajudar um pouco esta pequena cidade».

Miranda revelou alguma emoção pelo facto de ver «tantos jovens sem medo e sem demonstrar cansaço, levados pela paixão e sentido de pertença comum a ajudar todos os cidadãos». «Espero que estes jovens continuem a alimentar a sua dedicação mesmo após a pandemia. É um sacrifício que requer não só dedicação como ser-se virtuoso. Espero que compreendam a beleza que é utilizar as suas vidas em prol dos outros, difundindo amor a cada canto de Macau».

A terminar, partilhou um ensinamento de D. Stephen Lee: «O bispo Lee alerta-nos, todos os Domingos, a nunca nos queixarmos quando confrontados com tempos difíceis. Fé é vida! Temos de sair de casa, ir para a rua e praticar a nossa fé no dia-a-dia. Em Mateus 25:40, Jesus ensina-nos que devemos amar não apenas quem está connosco mas também quem está distante, pois ao fazê-lo estamos a ajudar Jesus. O voluntariado é exactamente isto, não é?».

O último voluntário a falar ao nosso jornal foi Hugo Cheang Ka Keong, estudante na Universidade de Macau. Desde o início da pandemia já deu o seu melhor em oito ocasiões, em três locais diferentes: Escola Oficial de Seac Pai Van, Colégio Diocesano de São José (edifício 6) e Colégio Canossiano do Sagrado Coração.

Estando actualmente a frequentar o Catecumenato, Hugo Cheang começou por explicar que se alistou como voluntário pois «Deus convida-nos a ter espírito de sacrifício e a servi-Lo, servindo os outros. Ao fazê-lo, aprendo a ser mais humilde e paciente. Mais: como membro da sociedade, penso que deverei dar o meu contributo em todos os momentos, principalmente quando Macau precisa de grande ajuda de todos».

Este voluntário admitiu não ser fácil «estar várias horas vestido da cabeça aos pés, com viseira e máscara KN 95, o que por vezes obriga a falar alto para que as pessoas entendem as indicações. Muitas vezes, os cidadãos falam de modo agressivo, chegando mesmo a insultar quem está ali para os ajudar».

Apesar de todas as contrariedades vividas até hoje – Hugo Cheang terá inclusivamente contactado directamente com pessoas infectadas – este jovem não pensa em desistir, procurando estar presente sempre que as circunstâncias o justifiquem. «Se todos as pessoas tiverem medo, quem irá sobrar para efectuar estas tarefas? Jesus também sabia que ia morrer na cruz e, no entanto, enfrentou a morte, sofrendo o que sofreu por todos nós».

José Miguel Encarnação 

com Jasmin Yiu

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