Isabel Capeloa Gil, Reitora da Universidade Católica Portuguesa, sobre a aproximação entre a China e o Vaticano

«Macau tem uma função diplomática importante».

Tomar o pulso às actividades da Universidade de São José, estreitar a cooperação com a Diocese local, as autoridades da RAEM e a Universidade de Macau, são os principais objectivos da visita ao território de Isabel Capeloa Gil. Ao abordar as relações sino-vaticanas com O CLARIM, a reitora da Universidade Católica Portuguesa atribui a Macau um importante papel diplomático.

O CLARIMEncontra-se em Macau, entre os dias 18 e 27 de Abril. Qual é o objectivo desta visita?

ISABEL CAPELOA GIL – O objectivo é acompanhar as actividades da Universidade de São José que temos vindo a desenvolver em conjunto e estreitar também os laços com o território, mais concretamente com as autoridades oficiais na área do Ensino Superior e com outras universidades de Macau.

CLA que nível estão previstos os encontros com as autoridades oficiais da RAEM?

I.C.G. – Ao nível do secretário [para os Assuntos Sociais e Cultura] e da direcção do GAES [Gabinete de Apoio ao Ensino Superior] e da DSEJ [Direcção dos Serviços de Educação e Juventude].

CLQual o âmbito desses encontros?

I.C.G. – Avaliar o que tem sido a relação entre a [Universidade] Católica [Portuguesa] e a RAEM na área da formação. Temos muitos alunos de Macau a fazer formação integral, a frequentar os nossos cursos, sobretudo na área do Direito, mas também nos Estudos Portugueses, na Tradução, no ensino do Português como língua estrangeira. E estamos aqui também para estudar outras formas de desenvolver novas actividades com outras instituições do território. São estes os objectivos gerais, dado que para nós a Universidade Católica é particularmente importante, no âmbito dos nossos objectivos de internacionalização, de estreitar os laços com Macau, que sempre foram fortes e vão continuar a ser, tenho a certeza! Estreitar os laços com Macau e, através de Macau, também com a China.

CLEstá prevista a assinatura de mais algum protocolo para além dos que já estão em vigor?

I.C.G. – Para já não. Temos protocolos para a formação de licenciados na área do Direito. Neste momento, interessa-nos sobretudo avaliar o que foi feito e o que poderemos fazer no futuro.

CLE quanto a outras instituições do território?

I.C.G. – Temos um protocolo com a Universidade de Macau. Pretendemos alargar o âmbito da cooperação. Neste momento, temos uma cooperação ao nível do intercâmbio de estudantes. Podemos alargar a outras áreas. É o normal nos processos de internacionalização das universidades e que abrange três áreas: o ensino, a investigação e a formação profissional. Estarei também com o reitor da Universidade de Macau e vamos estudar essas possibilidades de expansão. Mas como digo, esta visita é sobretudo de avaliação e exploratória.

CLQue avaliação faz ao percurso da Universidade de São José até ao momento?

I.C.G. – É uma universidade muito jovem, fundada em 1996 e instituída pela Universidade Católica, em parceria com diocese de Macau. Tem feito um caminho de grande solidez. Creio que os primeiros anos são sempre difíceis, porque é necessário afirmar-se num território novo. Afirmar-se também sem o financiamento que seja aquele que vem dos estudantes. Obviamente, é necessário ter as finanças sempre muito transparentes, coisa que a Universidade sempre tem feito. O crescimento da Universidade e o alargamento para áreas diversas do saber, e o conhecimento que já tem em algumas áreas, por exemplo nas Indústrias Criativas e no campo das Ciências da Comunicação, é bem exemplificativo do trabalho que tem sido feito nos últimos anos. Depois, há áreas como a Arquitectura, com imenso reconhecimento, que no fundo são bem a mostra que o caminho que a USJ tem vindo a trilhar vai no sentido correcto. É claro que há sempre escolhas, mas isso é como em todos os processos de crescimento. A avaliação que faço do percurso da Universidade de São José é francamente positivo.

CLA Universidade de São José vai em breve mudar-se para o novo campus, na Ilha Verde. Será uma mais-valia?

I.C.G. – Com certeza que será uma mais-valia. É um desejo de há muitos anos da Universidade. Na verdade, tal como acontece com todos nós, que precisamos de uma casa para viver, também uma organização, como é esta universidade, precisa de ter um espaço próprio para se desenvolver. Isso vai agora acontecer com o campus da Ilha Verde. Estou certa que a mudança também irá trazer ainda mais sinergias às actividades da Universidade.

CLOs contactos com a diocese de Macau incidem sobre que áreas?

I.C.G. – Tivemos já hoje [19 de Abril] um encontro muito agradável e muito interessante com o senhor bispo [D. Stephen Lee]. Conversámos sobre aquilo que tem vindo a ser o desenvolvimento da Universidade de São José e também sobre a participação da Católica na ajuda ao desenvolvimento das actividades no território. Vamos continuar a falar sobre a forma como a Universidade Católica em Portugal pode continuar a capacitar algumas áreas especificas de desenvolvimento, nomeadamente na criação de graus conjuntos com a USJ. A conversa foi um pouco também para mostrar aquilo que tínhamos feito, agradecer o apoio da Diocese e disponibilizar a Católica para tudo aquilo que a Diocese entender que seja necessário para desenvolver a sua missão de Igreja e missão de Igreja no Ensino Superior.

CLQue importância atribui a Macau?

I.C.G. – Para a Católica, o desenvolvimento de quaisquer laços ao nível do Ensino Superior com a China passa sempre por Macau. A aposta que temos feito no território está relacionada e tem a ver com os laços únicos que unem Portugal ao Sudeste da China, à missão da Igreja Portuguesa e, sobretudo, também a uma grande vontade de ajudar a desenvolver Macau e a USJ, que entendemos ser uma universidade irmã.

CLAcredita que Macau pode desempenhar um papel importante na aproximação entre a China e o Vaticano?

I.C.G. – Creio que sim. Tem uma função diplomática importante, mas há momentos em que é importante pensar que o Vaticano tem pugnado sempre pelo desenvolvimento de sociedades pacíficas, sem conflitos e que permitam o desenvolvimento integral do equilíbrio, com esta visão do universo que é a visão cristã. Certamente que haverá pontes de diálogo com a China, que é um grande país para o século XXI. E Macau tem aqui um importante papel a desempenhar como porta de ligação entre a Ásia e a Europa, tal como aconteceu no passado com os contactos que a Europa fez com a Ásia, por via dos missionários cristãos que chegaram ao Oriente e estiveram na China.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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