Tempo do Advento inicia este Domingo
O termo deriva do Latim adventus, que significa em Português “vinda”, “chegada”, do verbo advenire, “chegar a”.
De acordo com o uso actual, o Advento é um tempo litúrgico que começa no Domingo mais próximo da Festa do apóstolo Santo André (30 de Novembro) e abrange quatro Domingos. O Primeiro Domingo pode ser já em 27 de Novembro, e então o Advento tem 28 dias, ou pode ser adiado até 3 de Dezembro, tendo apenas 21 dias. Corresponde, portanto, ao quarto ou sexto Domingo (nos Ritos Ambrosiano e Moçarábe) antes do Natal. Em 2023, no Rito Latino, o Tempo do Advento começa este Domingo, 3 de Dezembro, e termina no Domingo de 24 de Dezembro, véspera de Natal.
No que respeita ao simbolismo, é um tempo de louvor à vinda de Cristo como Redentor, o Criador do universo, combinado com súplicas de protecção perante o mal. Trata-se da preparação para a vinda (advento) tríplice de Jesus: a comemoração do Nascimento de Jesus, ou a sua Encarnação em Belém; da sua presença sacramental perpétua na Eucaristia; e da expectativa para a Segunda vinda de Cristo. O Advento é também um tempo especial, um caminho litúrgico e espiritual, de preparação que dá início a um novo “Ano Litúrgico”, ou eclesiástico, para a Igreja Católica. Do ponto de vista litúrgico, o Advento organiza-se em torno dos quatro Domingos que antecedem o Natal, que depois são integrados na grande celebração do Nascimento de Jesus Cristo e da sua subsequente Epifania.
Em todos os dias do Advento devem ser celebrados o Ofício e a Missa do Domingo ou féria correspondente, ou pelo menos deve ser feita uma comemoração dos mesmos, independentemente do tipo de Festa celebrada. Durante o Advento, a cor usada na liturgia da Igreja é o roxo. Esta cor simboliza austeridade e evoca um sentimento de penitência. É utilizado porque ajuda os fiéis a terem consciência da necessidade da conversão, a “estarem preparados”, a reavivar os seus corações antes da chegada iminente do Senhor. As leituras bíblicas do Advento são extraídas, sobretudo, do profeta Isaías (Primeira Leitura), mas também de outras passagens proféticas do Antigo Testamento.
Toda a Liturgia da Palavra tem referência à chegada do Messias. O profeta Isaías, São João Baptista e Maria de Nazaré são apresentados pela Igreja como os grandes modelos de preparação para o Advento de Cristo. O Tempo do Advento é dividido em duas partes. Uma primeira parte no Domingo, 3 de Dezembro, Primeiro Domingo do Advento, até 17 de Dezembro, que é uma etapa mais escatológica, ou seja, mais orientada para a “Segunda vinda”, isto é, a vinda do Senhor no fim dos tempos. A segunda parte começa na segunda-feira 18 de Dezembro, estendendo-se até ao Domingo de 24 de Dezembro. É a chamada “Semana Santa” do Natal, a última etapa antes do Nascimento de Jesus, na qual a Igreja intensifica a preparação dos fiéis. O cerne da liturgia passa a ser a meditação sobre o mistério da Encarnação, ou seja, o surgimento da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade na história: o Natal.
Quando começou a celebração do Advento? É difícil de precisar. Temos uma referência ao “Tempo do Advento” em 380, na Península Ibérica, no Sínodo de Saragoça, em cujo Cânone IV surge uma prescrição de uma preparação ascética de três semanas para a Epifania, período durante o qual ninguém podia “faltar à igreja”. Havia então a preparação de catecúmenos para o Baptismo, que se administrava na Festa da Epifania. Recorde-se que o Natal era antigamente também celebrado na Epifania, a 6 de Janeiro. Na Gália (actual França, aproximadamente), o bispo de Tours, Perpétuo (458 – 488), instituiu um tempo de preparação para o Natal e, em Roma, o Sacramentário Gelasiano, em finais do Século V, refere já o Advento, reservando-lhe mesmo cinco Domingos. Existem também duas homilias de São Máximo, bispo de Turim (415 – 466), intituladas “In Adventu Domini”, mas sem referência a algum momento especial, pois o título pode até ser um acréscimo de copista. Existem algumas homilias, atribuídas a São Cesário, bispo de Arles (502 – 542), nas quais ocorrem menções a uma preparação antes do Natal.
Há relatos de que o Advento começou a ser observado entre os Séculos IV e VII em vários lugares do mundo, como preparação para a Festa do Natal. Também se deve recordar que a colecção de homilias do Papa São Gregório I (o Grande) (590 – 604) começa com um sermão para o “Segundo Domingo do Advento”. No ano 650, em Espanha, o Advento era celebrado com cinco Domingos. O Papa São Gregório VII (1073 – 1085), da “reforma gregoriana”, tenha-se em boa nota, reduziu os cinco Domingos para quatro.
O Advento daqueles tempos era mais ascético, com efeito, pois prescrevia jejum e abstinência durante seis semanas, como na Quaresma. Era a chamada “quaresma de São Martinho”. De registar ainda que vários sínodos produziram leis relativas à observância dos jejuns durante o Advento, alguns começando a 11 de Novembro, outros no dia 15 e outros já no Equinócio de Outono. Outros sínodos proibiram a celebração do casamento.
A vertente escatológica, a Segunda vinda do Messias, só surgiu no final do Século VII, em Roma, o que fez com que o Advento passasse a ser celebrado durante cinco Domingos. Já agora, refira-se que o Advento existe nas igrejas reformadas, em particular na Anglicana e na Luterana. Entre os Ortodoxos, há um período de quarenta dias de jejum como preparação para o Natal.
Nas tradições, recordem-se o calendário ou a coroa do Advento. Esta coroa ou grinalda era feita de galhos, sempre verdes, entrelaçados, em círculo, no qual são colocadas quatro grandes velas representando as quatro semanas do Advento. A luz nascente indica a proximidade do Natal e da Luz que é Cristo para o mundo. A cor roxa das velas, como cor litúrgica do Advento, é um convite à purificação e contemplação da espiritualidade do Advento. Já a vela cor-de-rosa representa a alegria (gaudete), o Senhor está próximo! Os detalhes dourados prefiguram a glória do Reino adveniente, na sua dimensão escatológica. Além desta vertente mais espiritual, existe o lado mais mundano da montagem da árvore de Natal e da troca de presentes neste dia.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa