Espera activa por quem amamos

1º DOMINGO DO ADVENTO – Ano B – 3 de Dezembro

Espera activa por quem amamos

«Estai, pois, atentos e vigiai! Porquanto não cabe a vós saber quando será este tempo. É como um homem que viaja para outro país e, deixando a sua casa, encarrega cada um de seus servos das suas tarefas e ordena ao porteiro que vigie. Vigiai, pois, uma vez que não sabeis quando regressará o dono da casa: se à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo ou mesmo ao raiar do dia. E, em vindo repentinamente, que não vos surpreenda entregues ao sono. O que vos tenho dito, proclamo a todos: Vigiai!» (Marcos 13, 33-37).

O Evangelho de Marcos tem o seu clímax na cruz de Nosso Senhor. A Sua insistência para a vigilância dos Seus discípulos é comovente e aponta para aquele fim trágico – mas ao mesmo tempo glorioso: a manifestação do amor salvador e transformador de Deus. Nestes poucos versículos, três vezes Ele exorta os Seus discípulos a permanecerem acordados; também por três vezes pediu o mesmo a Pedro, Tiago e João no Getsémani, mas o sono venceu-os (Mc., 14, 32-42).

Uma longa espera por um autocarro ou conduzir em hora de ponta pode enervar-nos…; o mesmo pode acontecer na sala de espera de um hospital ou de uma clínica dentária. Para a maioria de nós, tal é uma perda de tempo, um tempo que não conta para as nossas vidas. Momentos como estes podem acabar em cansaço ou tédio. No primeiro caso, sentimos vontade de chegar a casa e descansar; no segundo caso, procuramos divertir-nos com alguma coisa ou apenas fazer algo com as diversas aplicações do nosso “smartphone”. Basta olhar para as pessoas quando aguardam num qualquer lugar e veremos que os “smartphones” mais parecem uma chupeta comum… Acontece que a tentativa de “matar” o tédio também pode acabar em vazio e frustração, se não pior, em vício.

Mas esta não é a espera que o Senhor pede aos Seus discípulos.

Minha mãe ensinou-me a esperar com amor. Após a morte do meu pai, todos pensávamos que ela cairia no desespero e na tristeza. Pois surpreendeu-nos totalmente! Empenhou-se na nossa paróquia “Caritas”, preparou algumas crianças, incluindo uma menina cega, para a Primeira Comunhão, realizou peregrinações a santuários marianos e tricotou camisolas e cachecóis para os netos e bisnetos. Quando eu frequentava o nosso Seminário em Buenos Aires, a cerca de setecentos quilómetros da minha cidade natal, gostava de fazer-lhe algumas visitas-surpresa, uma ou duas vezes por ano. Viajava de autocarro a noite toda e chegava em casa de madrugada. Assim que cruzava o portão da rua, ela apercebia-se pelo barulho, e antes mesmo de eu bater na porta de casa, já ela a estava a abrir com um grande sorriso: «– Estava à sua espera, filho!». Foram momentos como este que me fizeram sentir o amor da minha mãe e compreender como a sua dor e solidão se entrelaçavam no amor e na esperança, contribuindo para dela sempre receber um abraço amoroso.

Esperamos o Amado, Jesus Cristo, que nos garantiu a Sua chegada, mas propositalmente não nos disse a hora, para que nos mantivéssemos activos nessa tensão de Amor. Na verdade, a qualidade da nossa espera é definida pela experiência “já, mas ainda não” da salvação de Deus (cf. Mc., 16, 19-20). Foi isto, precisamente, que a comunidade de Marcos viveu no meio das muitas dificuldades da vida missionária e das perseguições que teve de suportar. Na cruz, a História da Salvação atinge a sua conclusão no que a Cristo diz respeito, mas ainda não para nós. A vida dos discípulos-missionários – da Igreja – caracteriza-se por um manejo sábio e prudente de toda a tensão. Fugir desta realidade é um pecado de omissão e preguiça.

Durante os meus primeiros anos como missionário nas Filipinas, fui designado para uma paróquia rural em Zamboanga del Sur. Lá, os produtores de arroz de Mindanao ensinaram-me outra lição sobre como esperar de forma activa. Plantar arroz exige muito esforço: primeiro, é preciso limpar o mato; depois, arar o solo, preparar os canais de irrigação, plantar as mudas…

E quando tudo parece estar terminado, é fundamental continuar a trabalhar duro, para que a cultura prospere e sobreviva até à época da colheita: regar e fertilizar, afastar os pássaros, etc. As diferentes fases deste tempo intermédio obrigam os agricultores a esperarem de forma activa, sendo que um dia todo este trabalho irá resultar numa alegre colheita (Sal., 126, 5-6). Estas etapas são referidas na narração de Marcos: o dono da casa poderia chegar “à noite [quando Jesus foi traído (Mc., 14, 17)] ou à meia-noite [quando foi julgado (Mc., 14, 53)], ou ao canto do galo [quando Pedro o negou (Mc., 14, 72)], ou ao amanhecer [quando foi condenado (Mc., 15, 1)]”.

A cruz de Cristo é a nossa vitória. A única maneira de viver a nossa esperança é estarmos totalmente comprometidos com o nosso trabalho e missão quotidianos, na fidelidade ao Fiel. Na plenitude dos tempos, Ele revelará a Sua glória àqueles que tiverem a ousadia de arriscar a vida ao serviço do Evangelho (Mc., 1, 15). Viver cada momento com intensidade, confiando naquele que nos garantiu a Sua presença «até ao fim dos tempos» (Mt., 28, 20), faz de nós Seus apóstolos num mundo que tende a ignorar Deus. O nosso envolvimento diário na missão que nos foi confiada fará com que o nosso presente histórico se venha a transformar na Sua história, quando todos forem recapitulados em Cristo (Ef., 1, 10).

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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