A Imaculada Conceição nos dias de hoje
Quando eu era criança, ouvi estas duas expressões muitas vezes: “Ave Maria Purísima” e “Sin pecado concebida”. Os mendigos batiam à porta da nossa casa na cidade El Oso (Ávila), enquanto diziam em voz alta: “Ave Maria Purísima” (“Salve, a mais pura”). A nossa mãe respondia sempre: “Sin pecado concebida” (“Concebida sem pecado”). Mais tarde, percebi que tal significava, realmente, a Imaculada Conceição.
O Papa Pio IX declarou o dogma da Imaculada Conceição no dia 8 de Dezembro de 1854: “Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina que sustenta que a Santíssima Virgem Maria, na primeira instância da sua concepção, por uma graça e privilégio singular concedida por Deus Todo-Poderoso, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada livre de toda a mancha do pecado original, é uma doutrina revelada por Deus e, portanto, a ser acreditada firme e constantemente por todos os fiéis” (Pio IX, Ineffabilis Deus).
A Imaculada Conceição, celebrada a 8 de Dezembro, é uma Solenidade em todo o mundo católico. Refere-se à concepção de Maria no ventre da sua mãe, Ana, que ficou grávida do seu marido, Joaquim. Nove meses mais tarde, ela nasceu: O nascimento de Maria é celebrado a 8 de Setembro.
Devido ao pecado dos nossos primeiros pais – tradicionalmente, Adão e Eva –, todos os seres humanos nascem com o chamado pecado original (cf. Gén., 3; Catecismo da Igreja Católica nos388 e 389), ou seja, uma natureza ferida e frágil. Todos, excepto Maria! Apenas a ela, e pelo poder de Deus, os méritos da redenção de Jesus, o Filho de Deus, foram aplicados a Maria de forma antecipada. Porquê? Porque ela ia ser a Mãe do Filho de Deus, Jesus Cristo, Deus-homem: parece muito correcto que aquela que ia ser a Mãe de Deus nascesse sem qualquer mancha de pecado – totalmente pura e imaculada. Como o teólogo Duns Scotus disse maravilhosamente: “Potuit, decuit, ergo fecit” – Deus podia fazê-lo; era conveniente fazê-lo; portanto, Ele fê-lo.
SIGNIFICADO DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA –Qual é para os crentes em Jesus o significado da Imaculada Conceição de Maria? A grande festa mariana da Imaculada Conceição aponta-nos algumas verdades significativas.
A existência do pecado (1) –Deus criou o homem e a mulher. Havia perfeita harmonia e paz no seu lar, o Paraíso. Havia harmonia. Quando os nossos primeiros pais cometeram pecado – desobedeceram a Deus –, separaram-se de Deus, do amor de Deus: o pecado é uma traição ao amor, um fracasso na auto-realização, escuridão, escravidão: «Aquele que comete pecado é escravo do pecado», disse Jesus (Jo., 8, 34).
A compaixão de Deus (2) –A vergonha nunca é a última palavra de Deus. Assim, Ele enviou o seu Filho único para nos salvar do pecado e da infelicidade. Mas Ele enviou o seu Filho como seu Filho e Filho de Maria. E para fazer de Maria a digna Mãe de Deus, e por causa dos méritos de Jesus aplicados a ela de forma antecipada, ela foi concebida sem pecado original: a Imaculada Conceição.
A dignidade da mulher (3) –São Tomás de Aquino escreve: “Se um homem diz a uma mulher: ‘Por tua causa estou condenado’, a mulher pode responder: ‘Por minha causa [de Maria] foste salvo’”. Maria é o maior ser humano depois de Cristo (Deus e Homem): ela é a Mãe de Deus. E porque ela é a Mãe de Deus, foi concebida sem pecado original; ela é virgem e mãe; foi assumpta ao céu em corpo e alma. O grande Miguel Ângelo foi criticado por alguns por ter tornado Maria tão jovem na sua deslumbrante “La Pietà”. O artista respondeu, assim, aos seus críticos: “As mulheres castas mantêm a sua aparência fresca. A Madonna estava sem pecado, sem sequer o menor desejo incasto, e por isso é sempre jovem”. São Tomás refere que o pecado faz envelhecer as pessoas. Há algum tempo, uma amiga telefonou-me para me dizer que me viria visitar no dia seguinte, o meu dia de aniversário: «– Quero ver se tens uma nova ruga», disse, ao que respondi: «– Já não me interessam as rugas no meu corpo, mas sim as rugas na minha alma».
O respeito pela vida desde o momento da concepção (4) –A vida humana é um grande dom que implica uma grande tarefa: a tarefa de a defender e promover na família e na sociedade, desde o momento da concepção até à morte natural. A vida começa no momento da concepção e, portanto, o aborto (o fim da vida quando ainda não é viável) é para muitos entre as mulheres e os homens um crime que clama ao céu. Com todo o respeito e a nossa compaixão para com as mulheres que abortam os seus filhos, temos de denunciar o aborto: sim, à adopção; não ao aborto, ou ao fim da vida de uma criança por nascer, que tem direito à vida como todos nós.
Pontos luminosos:celebramos o nascimento de Maria (8 de Setembro) nove meses após a sua concepção (8 de Dezembro); celebramos o nascimento de Jesus (25 de Dezembro) nove meses após a sua encarnação (25 de Março).
A NOSSA RESPOSTA
Celebramos hoje a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria e também, como ensina São Paulo VI, “a preparação radical para a vinda do Senhor” (Marialis Cultus). Na viagem do Advento somos convidados a preparar-nos para o Nascimento de Jesus no Natal. A Solenidade da Imaculada Conceição lembra-nos o pecado, uma “obra das trevas” como um obstáculo que temos de remover das nossas vidas para deixar entrar o Menino Jesus no Natal.
A caminho do Natal, que Maria nos leve até ao presépio. Que ela nos ajude a preparar um lugar para Jesus nos nossos corações, nas nossas famílias. Lembremo-nos que não havia lugar para eles na hospedaria em Belém. Neste Natal, não haverá lugar para Jesus em corações orgulhosos, egoístas e impiedosos.
Que Maria, a “Purísima”, nos ajude a ser humildes, generosos e clementes.
Pe. Fausto Gomez, OP