Laudato Si e compostagem na celebração do Dia da Terra
O Grupo de Escuteiros Lusófonos de Macau antecipou-se às celebrações do Dia da Terra com uma visita, no passado fim-de-semana, à horta biológica dos jesuítas. A deslocação serviu para que uma dezena e meia de Exploradores e Pioneiros descobrissem os mistérios da compostagem, e também a mensagem da Encíclica Laudato Sisobre a salvaguarda do Meio Ambiente. Amanhã é a vez dos Lobitos visitarem as instalações da empresa Mighty Greens.
O mundo assinalou ontem o Dia da Terra e Macau não foi excepção. No passado fim-de-semana, o Grupo de Escuteiros Lusófonos de Macau (GELMac) esteve na horta biológica dos padres da Companhia de Jesus para aprender sobre as técnicas de compostagem aplicadas pelo padre Fernando Azpiroz e também sobre a posição da Igreja Católica em relação à protecção do Meio Ambiente e à defesa daquela que é a nossa “casa comum”: a Terra.
Os aspectos ambientais têm vindo a ganhar uma grande projecção no seio da Igreja Católica desde que o Papa Francisco lançou, em Junho de 2015, a Encíclica Laudato Si, na qual o Pontífice apela à responsabilidade, partilhada por todos, de proteger o planeta. O Santo Padre lembra que a destruição do Meio Ambiente e a extinção das espécies é um desafio que prejudica a todos, afectando os mais pobres com maior incidência. Na Encíclica, a segunda que publicou na qualidade de sucessor de São Pedro, Francisco estabelece uma “relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta” e coloca ênfase na importância de transmitir esperança às novas gerações, para que encarem o futuro da Terra como uma responsabilidade comum.
No passado sábado, um grupo de uma dezena e meia de Exploradores e Pioneiros – escuteiros com idades compreendidas entre os dez e os dezoito anos – inteiraram-se de alguns dos desafios relacionados com a degradação ambiental e o aquecimento global, numa visita à Residência Jesuíta que serviu ainda para aprender sobre técnicas de compostagem com o padre Fernando Azpiroz. «Ficámos a saber das experiências de compostagem do padre Azpiroz, com as quais transforma as folhas caídas das árvores, papel, café e cascas de fruta em fertilizante, e achámos que seria muito interessante celebrar o Dia da Terra, partilhando estas experiências com os nossos jovens, como forma de os sensibilizar para a importância da reciclagem na preservação do Meio Ambiente», explicou Armindo Vaz, em declarações a’O CLARIM. «A actividade arrancou com uma apresentação teórica sobre a urgência de medidas concretas para travar a degradação do Meio Ambiente, as alterações climáticas e a extinção das espécies. Tais medidas devem partir de todos nós, reduzindo o consumismo e o desperdício, e aumentando a reciclagem. A compostagem é um bom exemplo de reciclagem, ao transformar desperdícios em fertilizantes biológicos para que sejam utilizados em hortas caseiras», acrescentou o dirigente do GELMac.
Os escuteiros que participaram na iniciativa tiveram a oportunidade de iniciar, eles mesmos, um novo processo de compostagem com frutas, legumes e tubérculos que trouxeram de casa. Semearam ainda legumes e colheram alguns dos vegetais criados pelo padre Fernando Azpiroz. Segundo o sacerdote argentino, a iniciativa cumpre um desígnio fundamental: mobilizar as novas gerações para aquele que é, porventura, o maior desafio que terão pela frente. «A Laudato Si explica o que é óbvio. A nossa casa comum está em estado de emergência. Nos próximos anos, teremos de decidir se queremos que a Terra se torne num local como Marte – um planeta onde não há ar para respirar, onde não há água que possa sustentar a vida e onde a vida não é possível sem algum tipo de ajuda externa – ou numa casa comum, onde todos, especialmente os mais pobres, podem ter acesso a ar saudável, a água potável e a ecossistemas cheios de vida», referiu, alertando de seguida para a necessidade de «uma casa comum para todos, onde todas as criaturas possam coexistir connosco e que possamos legar às novas gerações. É necessário formar pessoas que saibam e que sejam capazes de dar resposta a esta situação de emergência. Acredito que as gerações mais jovens são muito mais sensíveis a este desígnio, a este enorme desafio. Devemos confiar firmemente na sua capacidade de restaurar a saúde da nossa casa comum, mas, ao mesmo tempo, devemos ajudá-los a preparar-se para este desafio».
A Laudato Sicoloca grande ênfase na salvaguarda da biodiversidade e na protecção das espécies, um desígnio que em grande medida – apontou o padre Azpiroz – começa em cada um de nós através da adopção de práticas como a compostagem ou a reciclagem. «Um dos temas que são transversais ao documento é a dignidade que cada criatura e que cada espécie tem de si própria. Cada criatura, cada espécie é única, porque é amada e criada por Deus de uma forma também ela única. O seu carácter único faz com que sejam insubstituíveis, até porque cada um contribuiu de forma única para um ecossistema mais vasto», sublinhou o também director da Casa Ricci Serviços Sociais. «Esta perspectiva é muito importante em ecossistemas mais frágeis e mais complexos, como é o caso da Amazónia ou da Bacia do Congo. No que diz respeito ao futuro, na Encíclica Laudato Si, o Papa lembra-nos que a perda de uma única espécie implica a perda do seu genoma, um património que é único. Essa perda implica que as futuras gerações estarão privadas de recursos genéticos que poderão eventualmente exercer um papel fundamental no que diz respeito às necessidades futuras da Humanidade», concluiu o padre Fernando Azpiroz.
Assim, depois de ter apresentado os mistérios da compostagem a uma dezena e meia de Exploradores e Pioneiros, o GELMac realiza amanhã uma actividade idêntica, ainda que direccionada para os Lobitos, com uma visita às instalações da empresa Mighty Greens, pioneira na exploração de novas técnicas de cultivo em Macau.
Marco Carvalho