INSTITUTO RICCI DE MACAU E CENTRO CARDEAL NEWMAN PROMOVEM CURSO DE CONTEMPLAÇÃO E LIDERANÇA

INSTITUTO RICCI DE MACAU E CENTRO CARDEAL NEWMAN PROMOVEM CURSO DE CONTEMPLAÇÃO E LIDERANÇA

Criados para a Grandeza

O Instituto Ricci de Macau e o Centro de Cultura e Artes Performativas Cardeal Newman juntaram forças e lançaram, no início do corrente ano, o Curso de Contemplação e Liderança. A formação, ministrada pelo actual director do “think tank” jesuíta, padre Stephan Rothlin, decorre uma vez por mês até ao final de Junho; está aberta a todos e visa abrir novos caminhos para a vivência da fé através da meditação, da auto-disciplina e da compaixão.

Chegam de vários quadrantes da vida civil, trazem consigo diferentes expectativas, mas partilham a crença de que a contemplação, quando bem direccionada, pode abrir as portas a uma transformação espiritual ou, pelo menos, a uma maior auto-disciplina.

Nas três primeiras sessões do Curso de Contemplação e Liderança, que o Instituto Ricci de Macau está a promover em colaboração com o Centro de Cultura e Artes Performativas Cardeal Newman, participaram gestores, professores universitários, líderes religiosos e meras donas de casa. O leque eclético de participantes reflecte a natureza de uma formação que, mais do que conceber a liderança como a capacidade de conduzir e comandar os outros, a entende como uma forma de nos gerirmos a nós mesmos. «Tivemos pessoas em posição de liderança, como o director executivo de uma pequena empresa local ou o responsável por uma instituição católica, mas também estudantes e professores universitários, ou ainda donas de casa», explica o padre Stephan Rothlin, ao referir-se à forma como o curso foi recebido. «Devemos, obviamente, ter em mente que a liderança começa com um processo de auto-gestão, por um esforço para convencer o “animal selvagem” que há em nós a adaptar-se a uma vida de auto-disciplina e de compaixão», acrescenta o director do Instituto Ricci de Macau, ele que é também o responsável por orientar a formação.

O Curso – que decorre nas instalações do Centro de Cultura e Artes Performativas Cardeal Newman, na Calçada da Vitória, no último sábado de cada mês – teve início no final de Janeiro e termina no final de Junho. A próxima está agendada, excepcionalmente, para quarta-feira da próxima semana e, a exemplo das demais, é antes de qualquer outra coisa um convite para redescobrir o silêncio. «A oração contemplativa conduz ao silêncio e o silêncio é já uma grande descoberta num mundo cheio de ruído e cheio de distracções. Tendo em conta os desafios inerentes a este processo, concebi um programa de “Contemplação e Liderança” que se vai prolongar ao longo do “Ano Inaciano”, que se estende de Maio de 2021 até Julho de 2022 e que se refere à transformação espiritual profunda pela qual enveredou Santo Inácio depois de ter sido ferido por um tiro de canhão há quinhentos anos», acentua o padre Stephan Rothlin. «A prática repetida da contemplação leva gradualmente à conversão e a conversão ajuda a superar o egoísmo e os receios que possam existir. A tendência é para que quem se dedica à contemplação se dedique mais ao serviço dos outros e ao bem comum», complementa o sacerdote suíço.

O silêncio é, de resto, um fundamento básico de uma prática com larga tradição no seio da Igreja Católica, mas que tem vindo a perder projecção à medida que o mundo se deixou resvalar para uma espiral de caos e de azáfama. Em termos teológicos, as alusões à contemplação são frequentes na Bíblia e o Livro dos Salmos – um dos textos litúrgicos que servem de ponto de partida para o curso ministrado pelo Instituto Ricci – é disso um bom exemplo. A meditação é mencionada por catorze vezes no Livro dos Salmos e para o padre Stephan Rothlin a prática da contemplação oferece a quem por ela envereda a possibilidade de redescobrir «a profunda sabedoria da Bíblia». «Infelizmente, a prática da contemplação nem sempre é cultivada pelos católicos e creio que serão muitos os que nem sequer possuem uma cópia da Bíblia. A contemplação pode oferecer uma oportunidade única para que redescubram a profunda sabedoria da Bíblia», defende. «Em termos mais específicos, no âmbito das práticas da Igreja, os 150 salmos oferecem – não apenas aos padres e aos diáconos, mas também aos leigos – uma janela maravilhosa para a complexidade das histórias da Bíblia e inspiram-nos também a reconhecer as experiências de Jesus Cristo. Todos os sentimentos humanos ressoam na linguagem poética dos Salmos», considera o padre Stephan Rothlin.

O silêncio e o desapego são um bom princípio no caminho para a auto-disciplina e para a compaixão, mas a meditação é também um recurso que favorece uma compreensão mais fundamentada dos Evangelhos e da Palavra de Deus, aponta o sacerdote: «Alcançando o silêncio interior, ficamos também melhor capacitados para melhor descobrir os Evangelhos, em particular a perspectiva mística do Evangelho de São João. O estudo de São João com um mestre como o padre Xavier Léon-Dufour, com as suas “Leituras do Evangelho de São João”, foi para mim um abrir de olhos durante os meus estudos de Teologia em Paris. No entanto, a contemplação conduz ainda mais além, a uma compreensão mais holística e abrangente do que significa “ter nascido do alto”, como Jesus explica no diálogo que mantém com o líder judaico Nicodemus».

Os Evangelhos e a Palavra de Deus não são, no entanto, o único farol para quem se propõe enveredar pela via da contemplação. Os exemplos de figuras maiores da vida da Igreja podem e devem também ser considerados. «A contemplação aponta para as raízes cristãs da meditação. Mais especificamente, a contemplação pode ajudar a aceitar e a compreender melhor formas católicas de oração e de ascetismo que quase caíram no esquecimento, como o jejum ou a prática regular do Rosário ou das ladainhas», refere o director do Instituto Ricci de Macau, concluindo: «Também ajuda a uma prática mais abrangente dos Sacramentos, em particular da Eucaristia, como experiências de salvação e de união com Cristo Crucificado e Ressuscitado. Também recomendo o exemplo de vários mestres da vida contemplativa, como São Boaventura, Teresa de Ávila, Teresa de Lisieux, Charbel Makhlouf e Charles de Foucauld».

O curso pressupõe uma componente teórica, mas também uma dimensão mais prática, e os participantes são convidados a levar um tapete de meditação. O Centro de Cultura e Artes Performativas Cardeal Newman disponibiliza um a quem não conseguir levar.

Marco Carvalho

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