Em nome dos pobres
Na viagem de cinco dias às Filipinas, entre 15 e 19 de Janeiro, o Papa Francisco fez fortes apelos para a defesa dos valores humanos, da família e dos jovens. Condenou a corrupção dos políticos e salientou que o povo filipino desempenha um papel fundamental de evangelização na Ásia devido à sua «riqueza cultural e herança religiosa». Macau esteve presente.
À chegada ao único país de maioria católica no continente asiático, o Santo Padre foi recebido na Base Aérea de Villamor e depois da recepção de boas-vindas deslocou-se para a Nunciatura Apostólica, em Metro Manila.
Na manhã do dia seguinte encontrou-se com o Presidente das Filipinas, Noynoy Aquino, no Palácio de Malacanang, onde disse que «a mensagem cristã tem tido imensa influência na cultura filipina», enaltecendo depois «a coragem heróica, fé e resiliência demonstrada por muitos filipinos» com a passagem do super tufão Yolanda (Haiyan), em Novembro de 2013.
Fez também menção à importância das famílias e das comunidades locais na preservação dos valores fundamentais relacionados com a dignidade humana e realçou «a muitas vezes esquecida contribuição real dos filipinos da diáspora para a vida e bem-estar das sociedades onde vivem», palavras que assentam que nem uma luva à realidade de Macau.
A homília celebrada na Catedral da Imaculada Conceição, na parte antiga da cidade de Manila, em Intramuros, ficou marcada pela intervenção inicial de Francisco: «Amas-me?» – palavra que foi imediatamente cortada pelo imenso coro de pessoas apinhadas no exterior: «Simmmmmm!».
Surpreendido com a reacção, “Lolo Kiko” (Avô Xico) – forma carinhosa como é tratado pelos filipinos – desculpou-se ao dizer que não estava a falar dele, mas sim a citar uma passagem do Evangelho (João 21:15 -17).
«Estejam presentes para aqueles que, vivendo no meio de uma sociedade castigada pela pobreza e corrupção, são fracos de espírito e tentados a desistir, para deixar as escolas e viver nas ruas», salientou, ao dirigir «uma palavra especial aos jovens padres, religiosos e seminaristas» presentes na missa.
De tarde concedeu uma audiência colectiva a várias famílias filipinas no “Mall of Asia Arena”, onde depois de proferir algumas palavra em Inglês pediu permissão para prosseguir em Espanhol, a sua língua nativa, também parte da herança cultural das Filipinas. No exterior, milhares de pessoas seguiam os acontecimentos pelos ecrãns gigantes. Uma idosa filipina traduzia para uma familiar as palavras do Santo Padre.
À saída, já o Sumo Pontífice tinha abandonado o complexo no papamóvel, com acenos para a multidão em delírio, O CLARIM falou com o ex-arcebispo de Manila, cardeal D. Gaudencio Rosales, que estava radiante com a impressionante moldura humana. «Olhem à volta. É um sentimento nacional. Já houve quatro visitas papais e todos os três papas [João Paulo II foi duas vezes] disseram a mesma coisa», atestou, ao salientar a importância e o papel das Filipinas na expansão do catolicismo na Ásia.
No dia seguinte, o Papa Francisco viajou de avião para Tacloban, cidade que mais devastação teve com a passagem do super tufão Yolanda, para celebrar no aeroporto local missa em Latim e homilia em Espanhol. «Gostaria de vos dizer uma coisa do meu coração. Quando vi em Roma esta catástrofe [do super tufão, soube que] teria de vir cá. E nesses dias decidi vir cá. E aqui estou eu convosco – um pouco tarde, mas estou cá», confessou, após pedir à multidão se podia falar em Espanhol, porque tinha «um tradutor, um bom tradutor».
Na Catedral de Palo pediu desculpa por ter que abandonar Tacloban com celeridade, porque se permanecesse por muito mais tempo as condições meteorológicas causadas pelo tufão Amang (Mekkhala) poderiam impedir o regresso a Manila. Contudo, foi ainda a tempo de almoçar com trinta sobreviventes do super tufão Yolanda e abençoar o Centro para os Pobres à passagem do seu veículo pelo local.
Crença
Na manhã do dia 18 participou no encontro com jovens promovido na Universidade de São Tomé, onde começou por lamentar a triste morte de Kristel, uma jovem filipina voluntária nos Serviços de Apoio Católico que havia sido atingida pela queda de um andaime devido ao vento forte que se fez sentir em Tacloban.
Emocionou-se depois com palavras e lágrimas de uma jovem ex-sem-abrigo, que durante o seu discurso questionou por que razão Deus permitia que tantos jovens sofressem. Pondo de parte o discurso oficial respondeu que também ele, Sua Santidade, não tinha resposta, mas que devíamos todos aprender a chorar, e não apenas os descartados da sociedade, pois só assim seríamos bons cristãos.
Às 15 horas e 30 iniciou a celebração da maior missa do mundo. No Rizal Park (Luneta) estiveram entre seis a sete milhões de pessoas que aguentaram a chuva e o frio durante horas a fio, numa verdadeira prova de fé. Havia também quem carregasse pequenas estátuas do Santo Niño, símbolo da fé católica nas Filipinas.
Macau presente
Joseph Sychangco, docente da Universidade de Macau, liderou um grupo de quatro crentes da RAEM, que se juntou em Manila a católicos de Hong Kong, da China (Xangai), do Japão e do Vietname. Chegaram ao Rizal Park por volta das quatro e meia da manhã.
Kenneth Dy, de Hong Kong, ficou deslumbrando com o grande número de pessoas que participou na missa «como uma grande família». Christopher Jose, filipino a estudar na Universidade Baptista de Hong Kong, ficou «bastante impressionado com a devoção do seu povo e amor ao Papa».
Já Tarcísio Tanaka, japonês de ascendência brasileira com perfeito domínio da língua portuguesa, compreendeu o imenso trabalho que terá pela frente como futuro missionário no Japão. O Santo Padre despediu-se das Filipinas na manhã da passada segunda-feira, sem não antes se encontrar na Nunciatura Apostólica com o pai de Kristel Padasas, a quem ofereceu dois medalhões e três rosários.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
Em Manila