Fórmula 1 – Época de 2017

Todos são favoritos

A Fórmula 1 regressa à vida, uma vez mais, no Circuito de Melbourne (Austrália), para uma nova era que se deseja mais excitante e competitiva que as últimas dez. Depois dos testes efectuados por todas as equipas, apenas uma mostrou resultados negativos. A McLaren regressou das férias de Inverno com grandes expectativas, devido aos bons testes do conjunto motor da Honda, completamente redesenhado, efectuados na fábrica da construtora. No entanto, algo não correu bem nos testes de Barcelona, no Circuito da Catalunha, e os carros cor de laranja e pretos foram os que menos voltas completaram, debatendo-se com graves problemas em tudo um pouco.

Se comparada com as outras equipas, onde a Mercedes se destacou com mais de mil voltas, virtualmente sem experimentar qualquer problema sério nas duas sessões de quatro dias no circuito catalão, a McLaren “não esteve lá”. O desespero dos novos donos da McLaren foi de tal ordem, que Eric Boullier, o novo homem forte da equipa fundada por Bruce McLaren, admitiu que se estivessem a usar motores Mercedes, já estariam a lutar pelas vitórias neste momento. Sabe-se que a McLaren contactou entretanto a fábrica alemã para a possibilidade de voltar a usar os seus motores, tentando regressar a um recente passado de glórias com tal equipamento.

Se tivermos em conta os resultados destes testes, parece que a Red Bull e a Ferrari poderão fazer frente aos carros alemães, mas, como se sabe, muitas vezes o que se vê em Barcelona acaba por não corresponder aos tempos da primeira sessão de treinos livres em Melbourne.

Levantaram-se dúvidas, que muitos aceitaram como verdades, sobre as potencialidades de Valtteri Bottas, em comparação com Nico Rosberg. Ora, Bottas nunca disse que era como Rosberg; afirmou, isso sim, não sentir qualquer tipo de pressão contrária à que enfrentou na Williams. O piloto finlandês, a determinado momento dos testes de Espanha, estabeleceu a volta mais rápida do conjunto de testes. Conhecendo a carreira de Bottas, que passou por Macau, pensamos que ainda não vai ser desta que os Mercedes irão “abrir a porta” para a intromissão de quem quer que seja nos dois lugares mais altos do pódio. Os Ferrari foram brilhantes, os Red Bull também, mas os Mercedes foram iguais a eles próprios, com uma prestação impecável durante os oito dias de testes.

E já que falamos de pressão: aparentemente algo não está bem com Lewis Hamilton. Depois do pai do piloto britânico ter publicamente afirmado que Bottas deveria ter cuidado com a sua carreira, agora foram dois ex-pilotos, Damon Hill (campeão do mundo em 1996) e David Coulthard (vice-campeão do mundo em 2001), a avançaram com a possibilidade de Hamilton abandonar a Fórmula 1, mesmo que a meio da época, se viesse a sentir-se desmotivado, pois que a Mercedes devia dar-lhe mais liberdade. Hamilton perdeu a disputa do título para Rosberg, no ano passado, e se Bottas se impuser, ou conseguir melhores resultados do que o seu companheiro de equipa, talvez este cenário possa vir a ser real.

Este ano o “grid” conta com novos nomes e com o “regresso” de Felipe Massa. O piloto da Williams devia ter finalizado a carreira no ano passado, mas a saída de Bottas para Mercedes fez com que o fossem buscar a casa e o pusessem a servir de “babysitter” a Lance Stroll. Sendo o segundo piloto mais jovem da Fórmula 1, Stroll foi excelente nas fórmulas de iniciação, vencendo em 2014 o Campeonato Italiano de Fórmula 4, em 2015 a Toyota Racing Series, e em 2016 o Campeonato Europeu de Fórmula 3, enquanto passeava classe por quase todos os circuitos da Fórmula 1, com um Williams de um modelo anterior para se adaptar aos carros muitíssimo mais potentes do Grande Circo. Apesar de tudo danificou o carro com gravidade em Barcelona, o que fez com que a Williams regressasse mais cedo a casa.

Outro dos novos nomes, Stoffel Vandoorne, já participou numa corrida de Fórmula 1 em 2016, ao substituir Fernando Alonso depois deste ter sofrido um acidente. Vandoorne é um piloto muito rápido, mas pensamos que à semelhança de Alonso está na equipa errada.

Também “promovido” foi Esteban Ocon, piloto que passou recentemente por Macau, sem fazer muito e sem dar nas vistas, mas que na realidade é muito dotado e merecia um carro melhor. Se os Force India mantiverem o nível de competitividade dos dois últimos anos, Sergio Pérez e Ocon poderão ameaçar o trio da frente (Mercedes, Ferrari e Red Bull).

Gene Haas continua a ser um cliente privilegiado da Ferrari, que lhe fornece motores do ano, exactamente iguais aos dos carros da Scuderia, incluindo “updates” regulares. Tendo sido o segundo melhor estreante de sempre (depois da Brawn, de Ross Brawn, que venceu o Mundial de Pilotos e o Mundial de Construtores no seu ano de estreia, e desapareceu em seguida, transformando-se na Mercedes) Gene Haas, após o sexto lugar no Mundial de Construtores, olha mais para cima no pelotão. Em Barcelona a Haas F1 teve alguns problemas com os motores Ferrari. A saída de Esteban Gutiérrez deixou um lugar vazio na equipa americana, pelo que Romain Grosjean tem agora como companheiro de equipa Kevin Magnussen, um piloto muito rápido, mas atreito a acidentes. Já os Sauber, os Renault e os Toro Rosso passaram nos testes de Barcelona, com as prestações que se esperavam.

A partir de hoje, com os primeiros treinos livres da temporada, tudo passa a ser mais sério. Já ninguém vai esconder o seu real potencial. O que fizerem nos treinos livres irá reflectir-se nas qualificações. E no Domingo, como disse um dia o campeoníssimo Fangio, «todos podem ganhar, todos são favoritos».

Manuel dos Santos

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