Menino prodígio
Menino prodígio, de seu nome Max Emilian Verstappen, piloto de Fórmula 1, filho de um ex-piloto de Fórmula 1… Até aqui, nada de muito especial! Vimos outros filhos de ex-pilotos, incluindo o filho (Damon Hill) de um ex-bicampeão do mundo, Sir Graham Hill, o único a mostrar “serviço” a sério, sagrando-se também ele campeão do mundo em 1996, e Jacques Villeneuve, que também foi campeão do mundo, embora o pai, o “incrível” Gilles, nunca tenha conseguido alcançar esse objectivo.
Max, como todos os pilotos que querem ser alguém no desporto automóvel, começou pelos kart, vencendo tudo o que havia para vencer. Depois fez testes em carros, mostrando-se superior a todos os outros pilotos, até mesmo em comparação com nomes de topo nessas categorias. Em 2014 venceu o Europeu de Fórmula 3; veio a Macau e fez a volta mais rápida, classificando-se no sétimo lugar; venceu o Zandvoort Masters de F3, e por isso foi chamado para piloto de testes da Toro Rosso, onde seria o piloto mais jovem de sempre a conduzir (oficialmente) um carro de Fórmula 1.
Ao contrário do que muitos pensam, não foi no Grande Prémio da Austrália de 2015 que Max conseguiu esse feito; foi em 2014, ao participar numa sessão de testes oficiais da FIA. Tripulou um carro da Toro Rosso, a 29 de Setembro de 2014, um dia antes de fazer 17 anos. O teste era oficial, e como tal o facto ficou registado. Depois, foi a sua forma de conduzir, inconformado com as ordens para se manter atrás do seu companheiro de equipa, Carlos Sainz Jr., averbando pontos significativos na temporada de estreia. O jovem “rookie” mostrou que estava ali para se afirmar. Dois quartos lugares, um sétimo, três oitavos, um nono e um décimo, fizeram com que o jovem piloto belga, que corre com uma licença holandesa, espantasse o mundo do desporto automóvel.
Alguns chamaram sorte ao seu sucesso, mas agora aconteceu em Espanha: Max Verstappen, o miúdo, o garoto, atreveu-se a aguentar os ataques de Kimi Raikkonen durante 22 voltas. O ex-campeão do mundo foi incapaz de encontrar uma solução para contornar a condução fria e calculista do jovem Max. A Ferrari desculpou-se com uma aparente falta de velocidade de ponta nos seus carros, o que teria impedido o piloto finlandês de ultrapassar Verstappen.
Como muitos outros que viram a corrida desde o início – leia-se, desde a primeira sessão de treinos livres – já esperávamos algo do género, sendo que a contribuição dos pilotos da Mercedes, ao atirar com os seus dois carros para fora da pista, na quarta curva do circuito, foi bem-vinda. Max subiu ao pódio, ladeado por dois campeões do mundo. À sua direita, Raikkonen; à sua esquerda, Sebastian Vettel – juntos somam cinco títulos.
Como o Mónaco não é exactamente Espanha, Max não tem muitas ilusões, nem esperança, de chegar perto do pódio este fim-de-semana, mas tudo pode acontecer.
Quanto ao que se passou com os dois pilotos da Mercedes em Espanha, os comissários foram unânimes em classificar a situação como “incidente de corrida”. Várias pessoas sentiram-se incomodadas, tendo soltado frases como: “onde já se viu?” ou “são malucos!”. No século passado registaram-se várias situações idênticas, sendo que na altura falava-se bem mais do que se fala agora. Sem termos de consultar livros ou a Internet, lembramo-nos de alguns episódios. Na década de 50, o mesmo será dizer no início da Fórmula 1, Fangio, o “maestro”, pôs o seu Mercedes e o do seu companheiro de equipa, Stirling Moss, fora de prova. Ayrton Senna e Alain Prost também fizeram essa triste figura, primeiro como companheiros de equipa (McLaren) e depois como adversários – Senna na McLaren e Prost na Ferrari – no Grande Prémio do Japão, em dois anos consecutivos. Houve outros, mas estes dois exemplos foram os mais notórios.
A Mercedes encarou o “incidente” com naturalidade, como algo que infelizmente aconteceu, não proibindo Hamilton e Rosberg de competirem entre eles. Parece estar tudo bem, mas…
Rosberg só tem contrato com a Mercedes até ao final deste ano e Toto Wolff afirmou que se não se chegar a uma conclusão nas negociações em curso entre a equipa e o piloto, existe a possibilidade da Mercedes contratar Fernando Alonso. Será? Pelo que se sabe, o espanhol ainda tem mais dois anos de contrato com a McLaren, pelo que não deve estar disponível. Outra opção poderá ser Max Verstappen, que por agora é a “mercadoria mais quente” da Fórmula 1. Com a aproximação da “silly season”, em que todos os rumores podem ter algo (ou muito) de verdade, ou em que as verdades de hoje já não o são amanhã, tudo pode acontecer. A Red Bull, essa, nem quer ouvir falar em desfazer-se do garoto.
Este fim-de-semana há Grande Prémio do Mónaco. Sem sombra de dúvida, o único circuito em que a corrida só é importante para as equipas, pilotos e alguns jornalistas da especialidade. Todos os outros são figurantes, vedetas, personalidades da alta sociedade, que se dirigem ao Principado, não para ver o Grande Prémio, mas para serem vistos e verem os seus pares. A corrida é o que menos lhes desperta o interesse. Muitos nem sabem que tipo de carros correm nas ruas de Monte Carlo….
Manuel dos Santos