Fórmula 1 – Época de 2016

Regresso à Europa e o “azar” de Hamilton

O Circo da Fórmula 1 regressa ao Velho Continente depois das quatro primeiras corridas terem ocorrido longe de “casa”. A próxima prova é o Grande Prémio de Espanha, no Circuito da Catalunha, considerado um pouco por todas as equipas como o seu “quintal” particular. Este facto justifica-se por ser este o circuito escolhido pela Federação Internacional do Automóvel (FIA) para acolher todos os testes oficiais da categoria – resumem-se a três testes, com a duração de quatro dias cada, desde há cerca de oito anos. A redução do número de testes imposta pela FIA teve como objectivo a redução de custos mas, como sempre, os custos cresceram até se tornarem insuportáveis, o que tem levado as equipas mais pequenas a aparecerem e desaparecerem com bastante frequência.

Para se ter uma noção do que são os custos na Fórmula 1, damos como exemplo o desenvolvimento de um motor, que segundo Helmut Marko, conselheiro da Red Bull e ex-piloto da Fórmula 1, custa entre 16 a 28 milhões de euros, sendo que os mais baratos não são os que ganham corridas. Os actuais fabricantes de motores são a Ferrari, Mercedes Benz, Honda e Renault. A Red Bull utiliza motores Renault, preparados pelos seus engenheiros e rebaptizados de Tag Heuer – algo que já se tinha visto no passado, quando os motores da marca francesa chegaram a ter quatro nomes diferentes.

Um motor de competição, mesmo nas categorias de iniciação, custa muito dinheiro para ser desenvolvido, estando os da Fórmula 1 fora do alcance do comum dos mortais. É por essa razão que outros fabricantes de motores de competição, que fornecem outras categorias, se escusam quando são contactados por potenciais equipas ou por equipas já existentes que desejam ter um motor “diferente”. Em princípio, um motor “cliente” deverá ser do mesmo ano e ter o mesmo rendimento dos motores das equipas oficiais, mas se olharmos para as prestações da Manor (Mercedes Benz) e da Sauber (Ferrari) só podemos questionar essa regra…

Tudo na Fórmula 1 é dispendioso, incluindo os pilotos, especialmente ao serviço das equipas da metade superior do pelotão. Os cinco pilotos mais bem pagos são Sebastian Vettel (43,8 milhões de euros anuais), Fernando Alonso (35), Lewis Hamilton (27,2), Kimi Raikkonen (24,6) e Nico Rosberg (13,6). Temos ainda que contar que muitos pilotos recebem mais uns tostões pelos “stickers” que trazem agarrados aos fatos de competição.

O tempo em que as equipas eram (mais ou menos) amadoras há muito que desapareceu da memória dos menos conhecedores deste desporto, mas não se pense que nas outras séries de topo, como Resistência, Rallies, Rally Raid, Stock Cars (NASCAR) e outras menos conhecidas, os valores são menores. A existência de uma larga variedade de categorias em cada uma destas séries resulta em grande afluência de concorrentes, o que as mantêm financeiramente saudáveis.

Um amigo perguntou-me se considerava correcta a punição imposta ao piloto russo Daniil Kvyat por parte da Red Bull Racing, que o despromoveu para a segunda equipa da marca de bebidas energéticas, a menos competitiva Toro Rosso. Como é obvio, não tenho que considerar correcto ou incorrecto o facto do piloto russo ter sido punido pelos responsáveis da Red Bull, em consequência das colisões com Sebastian Vettel (Ferrari), nos Grandes Prémios da China e da Rússia, que destruíram a possibilidade de alcançar boas posições e pontos no final das respectivas provas, já para não falar nos estragos infligidos no carro de Vettel, no próprio carro e no carro do seu companheiro de equipa, Daniel Ricciardo, que na Rússia foi obrigado a desistir pelos danos causados com o acidente. Mark Webber, ex-piloto de Fórmula 1 na Red Bull, afirmou que a punição é um pouco pesada, mas esperada. Talvez a formação já estivesse à procura de um pretexto para o fazer. Kvyat é um bom piloto, com possibilidades de ter um bom futuro na categoria, mas é muito impetuoso. Deverá ter mais calma, pois se até ao final desta época não mostrar resultado terá certamente que procurar outra equipa se quiser continuar na Fórmula 1.

Outro ponto que está a gerar muita polémica entre os fãs da Fórmula 1 é o desempenho de Lewis Hamilton, que ainda não teve uma corrida “limpa” no actual campeonato. Os rumores têm crescido desde as três vitórias de Rosberg no final do ano passado. Assim que Hamilton se sagrou campeão do mundo de pilotos, o alemão ganhou todas as corridas. Esta proeza têm alimentado múltiplas teorias da conspiração, sendo que a Mercedes não tem ficado bem na fotografia. A acusação de que Rosberg está a ser favorecido começa a incomodar a marca de Estugarda, a ponto da Mercedes, para além de Lewis Hamilton, ter vindo apresentar as suas razões para a impossibilidade de um esquema a favor de Rosberg, em detrimento de Hamilton. Há um ditado popular que diz: “não há fumo sem fogo”. Veremos, pois, o que as próximas corridas nos revelam, e se o britânico deixa de ter “azar”….

Manuel dos Santos

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