Fórmula 1 – Época de 2015

Mónaco: no Reino da Fantasia

A Fórmula 1 regressa este fim-de-semana ao único circuito onde nunca deveria ter corrido. E isto falando não apenas da Fórmula 1, mas ainda do tempo dos famosos carros de Grand Prix que, se comparados aos carros de hoje, eram poderosos monstros com motores gigantescos, compridos, largos e sem muita possibilidade de pôr no chão todo o poder que esses motores lhes concediam. Os carros, por incrível que possa parecer, tinham velocidades de ponta iguais, ou superiores, aos Fórmula 1 actuais. Apenas eram mais lentos, por volta, devido a vários factores combinados. Usavam pneus inadequados, estreitos, desenhados para acabarem as corridas, sem troca de borracha – leia-se, com pouca aderência. Os carros eram bastante mais pesados, o que deixava os travões em muito mau estado ao fim das primeiras dez voltas. Por essa razão travavam muito mais cedo do que hoje, em que um F1 desacelera de 300 kph para 80kph em 30 metros. E levavam muitíssimo mais tempo a atingirem a velocidade máxima. Para além disso, os carros estavam tão à vontade no circuito do Principado do Mónaco como um elefante dentro de uma caixa de fósforos.

Os Fórmula 1 actuais melhoraram este constrangimento. Os carros modernos estão no Circuito de Monte Carlo – a designação oficial – como elefantes dentro de caixas de sapatos. Os carros modernos só estão no famoso circuito citadino por uma razão: Glamour. Sempre assim foi e sempre assim será, enquanto a Fórmula 1 existir, o que contra todos os indícios já esteve mais longe de acontecer. Seria pena pois é a disciplina mais antiga do Desporto Motorizado.

O Mónaco não é tanto a corrida de Fórmula 1, nem as outras cinco ou seis que compõem o evento. 90% das pessoas que se deslocam ao Principado durante 3 ou 4 dias não estão sequer relacionadas com o deporto automóvel. Actores, de todos os tipos e categorias, muitos deles (e delas) em busca de alguém que os veja e leve até ao início de uma carreira em qualquer tipo de ocupação, de preferência nas artes. O casino enche-se e o Mónaco vive dias em que a crise não existe; tudo é cor-de-rosa e brilhante durante as 96 horas do evento.

E na pista, como é?

Os pilotos sentem-se empolados pela atmosfera e prometem aquilo que sabem de antemão que os carros não irão fazer. Todos os chefes de equipa sonham com o “factor Mónaco”, seja lá o que isso for, para os ajudar a amealhar uns pontinhos, quiçá um lugar no pódio. No Mónaco, como disse o grande Fangio, «não há favoritos». Todo e qualquer piloto pode vencer no Circuito de Monte Carlo, que já viu um piloto que se encontrava na sétima posição vencer a corrida na última volta. Em pouco mais de dois quilómetros os outros seis pilotos fizeram-lhe o favor de bater nas barreiras de protecção. A pessoa mais espantada com tudo o que se passou foi Olivier Panis, que celebrou ali a sua primeira – e última – vitória na Fórmula 1. Este ano, devido a todas as variantes do circuito monegasco, com um pouco de sorte um dos vinte pilotos irá vencer o Grande Prémio do Mundo da Fantasia. Até pode ser um Mercedes Benz, visto que Nico Rosberg venceu as duas últimas edições da prova.

Voltando a coisas mais sérias, parece que a Fórmula 1, que anda pelas ruas da amargura, com a fuga dos fãs dos circuitos e dos telespectadores dos ecrãs das televisões, fazendo com que a disciplina perca o grau de visibilidade mínima sustentável para se manter, está a definhar. A piorar a situação, os “gurus” do que já foi o evento com mais espectadores e audiência do mundo tiveram um encontro e deram mais um “tiro nos pé”. O regresso aos reabastecimentos de combustível está para breve. Mas será que resolve as maleitas da velha senhora?

Vejamos: os reabastecimentos foram banidos por serem muito perigosos e… caros. A fórmula 1 actual debate-se com uma das maiores crises financeiras de sempre, devido ao que já referimos (falta de audiências = falta de patrocínios. Ora, preparar os carros para voltarem a ter tanques de combustível mais pequenos custa muito dinheiro. E são dois tipos diferentes. Um para as corridas no sentido dos ponteiros do relógio, e outro para as corridas em sentido contrário. Os pilotos com tanques cheios tendem a não arriscar ultrapassar os outros concorrentes, esperando apenas que os adversários tenham um maior consumo que os obrigue a encher o tanque mais vezes. Os pneus da Pirelli não estão preparados para este tipo de competição.

Alguém já comparou a ideia do regresso aos reabastecimentos, depois dos milhões gastos nas novas regras, que têm pouco mais de um ano (e ainda têm muito para se desenvolverem), a uma pessoa que comprou um iPhone topo de gama, que ao verificar que não lhe proporciona o que desejava deita fora o telefone e regressa à loja para comprar um telemóvel… dos antigos!?

Muitos comentadores, alguns ainda do tempo dos carros com motor frente, avançam com uma solução simples: corridas mais rápidas, mais barulhentas, onde haja muitas ultrapassagens e alguns sustos, disputadas nos autódromos tradicionais, com mais de 60% das corridas em solo europeu. Deste modo, voltaríamos a ter as bancadas cheias e os telespectadores regressariam aos canais de televisão, num mundo real muito longe do actual mundo da fantasia.

Manuel dos Santos

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