Últimos Testes em Espanha
Dentro de menos de duas semanas tudo deixará de ser “a feijões” e os resultados, ou a falta deles, serão a valer. Os últimos testes deverão ter acabado ontem e uma aparente hierarquia começa a impor-se.
Os carros da Ferrari parece terem sido os que mais evoluíram, depois da “chicotada psicológica” que foi a demissão de quase 90% da equipa directiva da Scuderia, incluindo o seu (ex-)presidente, Luca di Montezemolo. Também não deve ter sido apenas a chegada do ex-tetra-campeão do mundo de pilotos, Sebastian Vettel, que alterou tão profundamente as prestações da equipa de Maranello, mas deve ter ajudado bastante. Os Ferrari FT-15 apresentaram-se em todos os treinos, competitivos e fiáveis, cumprindo um bom número de voltas, sem problemas de maior.
Nico Rosberg, da Mercedes Benz, afirmou que os Ferrari poderão ser o principal adversário este ano. A Mercedes Benz AMG tem-se mostrado mais interessada em “limar arestas” em termos de garantir a fiabilidade, considerada mais importante que um “show” de velocidade absoluta, por apenas alguns momentos. Segundo fontes da equipa alemã, a velocidade de ponta extrema só serve para os sábados – leia-se qualificações – enquanto que a outra velocidade, constante e duradoura, é para as corridas.
Os Red Bull Renault, com Daniel Ricciardo, que no ano passado foi muito mais piloto que o companheiro de equipa, Vettel, em parceria com o russo Daniil Kvyat, que estava na Toro Rosso – a equipa “júnior” da marca das bebidas energéticas – também se tem portado muito melhor do que no início do ano passado, por esta altura. Durante esta bateria de testes ter-se-á revelado um perigo para qualquer outro candidato aos títulos deste ano.
A Williams Mercedes mantém os comentadores na dúvida, se terá evoluído, ou não. Massa chegou a efectuar um terceiro melhor tempo já nesta segunda sessão de treinos oficiais da FIA, mas de resto não houve muitas notícias da equipa de Sir Frank Williams, dirigida pela filha, Claire.
Os Sauber Ferrari apresentaram-se, aparentemente, mais competitivos que no ano passado, com uma equipa de pilotos renovada, tendo agora Marcus Ericsson, ex-Caterham, e Felipe Nasr, ex-piloto de teste da Williams, dupla que parece estar a “dar boa conta do recado”.
A Lotus, pela primeira vez desde sempre, no seu já longo historial conjunto, passou a usar um motor alemão, neste caso da Mercedes Benz, melhorando muito com este novo propulsor.
A Sahara Force India, que só ontem deverá ter apresentado o novo carro [esta crónica foi redigida no início da semana], fez o 4.º melhor tempo entre as equipas em presença – cortesia de um fantástico grupo de motorização Mercedes que equipa os carros da marca indiana.
A McLaren é o “bombo da festa”. O novo motor da Honda enfrenta este ano os mesmos problemas que todos os outros fabricantes de motores sofreram no ano passado. Fernando Alonso e Jenson Button têm tentado levar o carro de testes a velocidades e distâncias percorridas dignas da equipa britânica, mas sem o conseguir. Sem ser um problema muito grave, o que aflige o novo grupo de motorização nipónico é uma multidão de pequenos defeitos, alguns aparentemente reparados à pressa, falhando uns atrás dos outros. Parece que Fernando Alonso devia ter ficado na Ferrari…
Algo que não afecta directamente o desempenho dos carros, mas que se tornou importante, pelo menos em termos comerciais, foi a proibição dos pilotos de alterarem os desenhos e coloração dos capacetes durante toda a época. Se bem que pareça algo absurdo, para os fãs do desporto automóvel, e consequentemente para os patrocinadores, os capacetes identificam os pilotos que os usam. No entanto, Vettel, que em cerca de 15 anos usou mais de 90 capacetes diferentes, já afirmou que se a penalização for apenas de umas centenas de euro para a caridade, então irá continuar a mudar de capacete, sempre que lhe apetecer!
De notar que repetimos várias vezes palavras como “aparentemente”, “parece que” e etc. As equipas de Fórmula 1, e não só, durante os testes em conjunto com as congéneres adversárias, já nos habituaram a que todas, sem excepção, mesmo as mais pequenas e não competitivas, escondam o potencial real dos seus carros.
Não estará a Mercedes Benz a esconder uma velocidade de ponta que sabe ser possível e muito superior à dos adversários, dedicando-se ostensivamente a longas quilometragens, com a desculpa da fiabilidade? A McLaren estará assim tão mal como aparenta? Os Red Bull serão mesmo os carros mais rápidos, junto com os Ferrari? E o que se passa realmente nas boxes da Sauber e da Williams? Estas e outras questões começarão a ser respondidas no próximo dia 13 de Março no Circuito de Melbourne, na Austrália, com o início dos treinos livres. E estes, sim, já serão “a doer”…
Manuel dos Santos