Cair do Pano
Os campeonatos do mundo de Fórmula 1 de 2015 chegarão ao fim quando o último carro passar a bandeira de xadrez no Circuito de Yas Marina, em Abu Dhabi. O traçado, com cinco mil 554 metros de perímetro, é mais uma obra do arquitecto alemão Hermann Tilke. Está localizado na ilha artificial de Yas, na costa leste do pequeno emirato. Abu Dhabi é o mais importante dos sete emiratos que formam a aliança dos Emiratos Árabes Unidos. Todos eles têm um Governo monárquico, hereditário e absolutista. Por duas vezes as corridas de Fórmula 1 foram contestadas por razões políticas, mas nunca canceladas, pois “The Show Must Go On”. Por falar em “show”, em Abu Dhabi existe um grande centro de diversões, que tem a Ferrari como tema principal. Segundo nos disseram, está aberto 24 horas por dia, todos os dias.
O Yas Marina foi o primeiro circuito a receber corridas que terminam de noite, sem contar com a mítica classe de “Resistência”. A prova de Fórmula 1 começa às cinco horas da tarde, com os potentes holofotes já acesos para minimizar o impacto da transição entre o dia e a noite. A pista foi apresentada ao mundo do desporto automóvel, em Fevereiro de 2007, durante o “Festival de Fórmula 1”, em que muitos pilotos, mesmo sem serem desta categoria, se juntaram para apreciar e experimentar o novo circuito. Durante o referido festival, as autoridades desportivas locais anunciaram que seria o palco da última corrida dos mundiais de Fórmulas 1 entre 2009 e 2016.
Em termos desportivos, a prova, que se disputa em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, tem 55 voltas, o que corresponde a pouco mais de 305 quilómetros. Os Mercedes e os carros com motores da marca alemã parece darem-se bem neste autódromo.
No ano passado, Hamilton venceu a corrida, seguido dos dois Williams Mercedes de Massa e Bottas. Já o segundo piloto da Mercedes, Nico Rosberg, teve vários problemas e acabou num longínquo 14º lugar. Este ano, no entanto, parece que Rosberg encontrou vida nova. Tem ganho tudo desde que Hamilton se sagrou Campeão do Mundo de Pilotos e a Mercedes conquistou o mundial de construtores. Muitos comentadores perguntam até que ponto as famosas “team orders” não terão contribuído para a aparente fácil supremacia de Hamilton.
A Mercedes terá um adversário de peso nesta última corrida do ano: a Ferrari. Os carros da equipa italiana, que no início da época não eram velozes, tornaram-se mais competitivos, pelo que uma vitória em Yas Marina, por qualquer um do seus pilotos, não é de descartar. Ambos estão muito bem cotados nas casas de apostas.
Entretanto, fala-se que a Lotus irá voltar a desaparecer do Grande Circo, sendo absorvida definitivamente pela Renault. A marca francesa deverá voltar a dar o seu nome à equipa. A Renault até não estava interessada no negócio, mas as perdas em termos de publicidade e o retorno das vendas de automóveis citadinos obrigaram a “Régie” a seguir em frente. Deste modo, a Renault irá voltar às pistas utilizando o seu próprio nome. A Honda, que segundo os seus directores desportivos «não esperava que os motores de Formula 1 estivessem tão avançados e sofisticados», diz-se agora com capacidade de fornecer um motor «muito competitivo» para a próxima temporada. Esperamos então que a Renault e a Honda voltem às vitórias em 2016, contribuindo para tornar a Fórmula 1 mais interessante.
Passando a outro tópico, o australiano Mark Webber, ex-piloto da Red Bull Racing, onde por vezes esteve perto de ser Campeão do Mundo de Pilotos, algo que sempre lhe foi negado em proveito de Sebastian Vettel, sagrou-se finalmente campeão do mundo, mas em Sport Protótipos, no Mundial de Resistência. Pensamos que já veio tarde esta vitória, pois Webber é um dos melhores pilotos que passou pela Fórmula 1. A sua entrada no Mundial de Resistência deixou a categoria rainha mais pobre, melhorando a competição nos Sport Protótipos.
Por último, umas palavras para o “nosso” Grande Prémio de Macau. Ninguém pode apontar as falhas que foram sendo cometidas ao longo de 22 anos a João Manuel Costa Antunes, o homem forte da Comissão Organizadora. Para o bom e para o mau, os sucessos e insucessos recaem num todo, neste caso formado por centenas de pessoas. O GPM está muito melhor em muitos aspectos, muito para além da sua – esperada – evolução natural.
Claro está que há sempre um “mas”. Como vimos dizendo há já uns anos, havendo outras pessoas que corroboram da mesma ideia, o posto de comissários na bancada junto à primeira curva deveria ser auxiliado por um sistema de luzes ao nível do muro da pista. Nesse lugar, onde os carros já vão muito depressa, os pilotos só têm olhos para a recta que os levará até à curva do antigo Mandarim. Nenhum consegue ver as bandeiras de sinalização. No caso do TCR, foi uma sorte ninguém se ter magoado, mas a verdade desportiva foi alterada. Se houvesse uma luz amarela, ou mesmo encarnada, muitos dos pilotos teriam “levantado o pé”, algo que não aconteceu.
Considerações à parte, parabéns a todos os envolvidos na organização, incluindo os homens e mulheres “invisíveis” que integram as empresas de segurança, as polícias e o Corpo de Bombeiros, entre outras entidades. Para o ano há mais. Se não for melhor, que seja ao mesmo nível.
Manuel dos Santos