Um motorzinho, por favor!
Este fim-de-semana o Grande Circo regressa ao México, onde já esteve por duas vezes – a primeira, entre 1962 e 1970; a segunda, entre 1986 e 1992. Desde então o País nunca mais recebeu a Fórmula 1, embora tenha sido profusamente utilizado para corridas locais e campeonatos dos Estados Unidos. Foi baptizado como Autódromo Hermanos Rodríguez, em homenagem aos pilotos mexicanos Ricardo e Pedro, se bem que este último tenha sido o que mais se destacou.
Ambos começaram muito novos a competir, primeiro nas motos e mais tarde nos automóveis. Ricardo morreu no circuito que passou a ter o seu nome, em 1962, durante os treinos livres do primeiro Grande Prémio do México em Fórmula 1. Já o irmão, Pedro, faleceu ao volante de um Ferrari durante uma corrida do campeonato inter-série, em Norisring, na Alemanha. Pedro foi por todos considerado o “Rei da Chuva”, destacando-se ao volante dos poderosos Porsche 917, tendo vencido muitas das provas em que participou, inclusivamente na Fórmula 1. Depois do seu desaparecimento as autoridades mexicanas decidiram juntar o seu nome ao do irmão.
O Circuito Hermanos Rodríguez está localizado muito perto da Cidade do México, a capital do País, a dois mil 290 metros de altitude, o que causa problemas à afinação dos motores – antes eram aspirados, pelo que hoje não se devem deparar com os mesmos problemas – e à preparação física dos pilotos, pouco habituados a correrem a grandes altitudes.
O regresso do Grande Prémio do México foi mais um “coelho tirado da cartola” pelo sempre inovativo patrão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone. O “Senhor Fórmula 1” está a pensar organizar mais corridas nos Estados Unidos, apesar de ainda há muito pouco tempo, em Sochi, no Grande Prémio da Rússia, no início deste mês, ter afirmado publicamente não se sentir confortável com os Estados Unidos.
É normal que num dado país as corridas de Fórmula 1 mudem de lugar de quando em vez, tendo a Alemanha, durante alguns anos, utilizado dois circuitos (Hockenheim e Nurburgring) alternando-os de dois em dois anos. Outros países há cujos proprietários dos autódromos se digladiam para terem a “honra” de organizarem o evento. Nos Estados Unidos o respectivo Grande Prémio de Fórmula 1 foi disputado em Watkins Glen, de 1961 a 1980, e a partir daí em Long Beach, Las Vegas (no parque de estacionamento do Casino Caesars Palace), Detroit, Phoenix e na famosa “oval” de Indianápolis – na realidade trata-se de um rectângulo com os cantos arredondados. Na edição de 2005 desta prova apenas seis carros, os que usavam pneus da Bridgestone, alinharam na grelha de partida. Todas as escuderias equipadas com pneus da Michelin tiveram graves problemas com as borrachas, que não suportavam as exageradas forças laterais, podendo explodir, colocando em risco a integridade dos pilotos. Apesar de apenas seis carros usarem pneus da Bridgestone (marca multinacional de raiz norte-americana), a corrida teve lugar. Tiago Monteiro conseguiu chegar em terceiro, numa prova que foi adjectivada pela maioria como verdadeira farsa.
De regresso à actualidade, se bem que para a Mercedes o campeonato deste ano – falta México, Brasil e Abu Dhabi, – em termos do que havia para ganhar, ou seja, os mundiais de construtores e de pilotos, esteja encerrado, os seus responsáveis deverão fazer um esforço extra para desalojar Sebastian Vettel, e o seu Ferrari, do segundo lugar da classificação do campeonato de pilotos, recolocando Nico Rosberg na segunda posição, que lhe tem pertencido durante toda a temporada.
De momento a Fórmula 1 tem apenas quatro fabricantes de motores: a Mercedes Benz, a Ferrari, a Honda e a Renault. Para além do que já aqui foi escrito, a novela em torno das equipas do milionário Dietrich Mateschitz, Red Bull e Toro Rosso, não pára de surpreender. Depois da guerra com a Renault sabe-se agora que a equipa procurou ajuda junto da Mercedes, que lhe recusou fornecer motores, por razões mais do que óbvias – estaria a favorecer um “perigoso” rival, – e da Ferrari. A Casa de Maranello, essa, só estaria disposta a vender a versão deste ano, o que viola as novas regras para a atribuição de motores, que entrarão em vigor em 2016.
Com a Mercedes e a Ferrari de fora, a Honda terá sido a derradeira hipótese, mas – ao que consta – nem o pedido feito por Ecclestone surtiu efeito. A Honda até estaria aberta a fornecer os motores de terceira geração, não fosse Ron Dennis ter vetado o “negócio”. Dietrich Mateschitz estará, pois, a renegociar com a Renault, pois caso abandone o Grande Circo arrisca-se a ter de responder em tribunal por não cumprimento do contrato firmado com a FOM (Formula One Management).
E assim se chegou à caricata situação de “um motorzinho, por favor!”.
Manuel dos Santos