Fórmula 1 – Época de 2015

Morreu mais um piloto

É, infelizmente morreu mais um piloto de Fórmula1… Chamava-se Jules Bianchi e tinha 25 anos. Pensava-se que seria um futuro campeão; morreu em nome do espectáculo depois de longos nove meses em estado vegetativo, o que levou o pai a dizer, dois dias antes da sua morte: «Seria melhor ter morrido instantaneamente, o sofrimento de o ver sofrer é demasiado violento».

Várias pessoas vieram até nós com a eterna pergunta: «– António, a Fórmula1 é perigosa?». Ao que respondemos: «– Não, não é!… Sim, é!».

Para ter um acidente de automóvel o meu lugar preferido seria, sempre, ao volante de um carro de corridas, num qualquer circuito, dentro de um veículo preparado para absorver choques, suportar danos muito significativos, vestindo um fato desenhado e construído para minimizar a terrível hipótese de um incêndio (se bem que obrigatoriamente haja um extintor de cinco quilos instalado no carro) e num lugar onde a poucos minutos de distância há uma equipa de socorro para auxiliar o piloto – ou pilotos no caso dos ralis – o que se traduz em segurança e risco calculado. Se comparado com um acidente numa viatura corriqueira, numa rua ou estrada normais, a segurança fica a muitos, mas mesmo muitos, quilómetros de distância. A mesma segurança (safety) que fez com que muitos pilotos tenham tido acidentes terríveis, doentios só de se ver, e tenham voltado para as boxes pelo próprio pé. Mas nem sempre foi assim!

No início da Fórmula1 os capacetes não eram obrigatórios e muitos pilotos usavam simples barretinas de tecido e óculos para se protegerem das pedras e do óleo projectado pelos outros carros. Quando foi imposto o uso de cintos de segurança muitos foram os nomes famosos que se insurgiram contra esse facto, pois diziam: “em caso de incêndio prefiro poder fugir sem ter o cinto de segurança”. E muitos foram os que ficaram para trás na Fórmula1 – nos testes, treinos, qualificações e nas corridas – e noutras fórmulas, para além dos que perderam a vida ao volante de outro tipo de carros (algo muito normal até 1980). Até hoje morreram 48 pilotos de Fórmula1: quinze nos anos 50, catorze nos anos 60, doze nos anos 70, quatro nos anos 80, dois nos anos 90, e um em 2015.

Se comparamos com as centenas de pilotos que conduziram – e conduzem – carros de Fórmula1, desde o longínquo dia 13 de Maio de 1950 até hoje, não podemos dizer que a lista seja demasiado grande, se bem que a perda de uma vida humana seja sempre de lamentar. Enzo Ferrari não assistia às corridas «para não ver aqueles jovens generosos que morriam nos carros que fabricava», e Sir Jackie Stewart abandonou as corridas de automóveis, como piloto, depois da morte do seu companheiro de equipa, François Cevert. Stewart disse: «Certamente não é preciso que todos estes jovens morram ao fim-de-semana para que o desporto exista!», e em nome de Cevert dedicou-se a tornar o desporto motorizado mais consistente e seguro. Três vezes campeão do mundo de pilotos, Jackie Stewart contribuiu para a acentuada quebra dos números fatais a partir da década de 80, quando apenas se verificaram quatro mortes nos circuitos, seguidas por duas nos anos 90 (Roland Ratzenberger e Ayrton Senna). 21 anos depois foi a vez de Jules Bianchi.

De todas as mortes verificadas na Fórmula1 há a salientar três. Wolfgang von Trips, Ferrari, Monza. Precisava apenas de um ponto para ser campeão do mundo; uma colisão com o Lotus de Jim Clark pôs fim ao sonho, naquele que foi o terceiro maior acidente do desporto automóvel. Jochen Rindt, Lotus, Monza. Uma falha de travões custou a vida ao único campeão do mundo a título póstumo. E Ayrton Senna, o único (tri)campeão do mundo a falecer numa corrida da categoria.

O desporto motorizado é perigoso. Todos os que se metem dentro de um carro, avião, barco ou em cima de uma moto sabem que o imponderável pode acontecer, mas, ainda como diria Enzo Ferrari, «aqueles jovens generosos», e outros menos jovens, continuarão a tripular engenhos concebidos para andarem cada vez mais depressa, mais rápido e… mais seguros, em busca de uma única coisa: a vitória.

E por morrer, o motociclismo de competição, onde os pilotos não podem contar com monoblocos em carbono, safety cells, HANS (Head And Neck Safety device – aparelho de segurança da cabeça e dos ombros) e cintos de segurança, está de luto, uma vez mais. Dois pilotos espanhóis – Daniel Rivas Fernandez e Bernat Martinez – faleceram numa corrida do Campeonato do Mundo de Superbikes, no passado fim de semana, no circuito de Laguna Seca, nos Estados Unidos.

Mas a vida continua e já este fim de semana corre-se o Grande Prémio da Hungria de Fórmula 1, no circuito de Budapeste. Tem quatro mil 381 metros de perímetro, com algumas curvas críticas, especialmente a curva no fim da recta da meta – um gancho à direita, a descer pronunciadamente, onde Nelson Piquet (pai) um dia deu espectáculo ao ultrapassar não uma, mas duas vezes, um seu adversário.

Os Mercedes poderão voltar a dominar tudo e todos, à semelhança do que têm feito, isto porque tanto a Ferrari como a Williams, aparentemente as únicas equipas que conseguem competir com os carros alemães, já vieram declarar ter problemas de aderência neste circuito, que é muito rápido e exige muito apoio aerodinâmico.

Até ao baixar da bandeira de xadrez tudo pode acontecer… até que um Manor ganhe!

Manuel dos Santos

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