Quanto à solidariedade
Da última vez falámos sobre o terceiro princípio – subsidiariedade. Hoje vamos ver um princípio complementar: o princípio da solidariedade.
Podemos dizer que da mesma forma que o princípio da subsidiariedade emana da dignidade humana (o primeiro princípio), o princípio da solidariedade nasce da necessidade que todos temos de nos esforçarmos pelo bem comum (o segundo princípio).
Numa orquestra, o maestro tem que deixar tocar cada um dos músicos, mas cada um tem que tocar em coordenação com os outros músicos. De outro modo a orquestra não produzirá uma sinfonia, mas sim uma cacofonia. Além da subsidiariedade, necessitamos de solidariedade. Quando ambos os princípios são usados correctamente, os direitos dos indivíduos e o bem da sociedade em geral são protegidos e promovidos. E na sociedade alcança-se um balanço correcto entre as forças centrípetas e as forcas centrífugas.
O princípio da subsidiariedade previne uma excessiva e desnecessária centralização e concentração de poderes e iniciativas, seja na família, numa empresa, numa instituição, numa nação, ou na aldeia global. Numa nação evita a eclosão de ditaduras e colectivismo que são características do Estado socialista. Antes promove a iniciativa e o crescimento do individuo e da sociedade.
O princípio da solidariedade, por outro lado, evita o aparecimento da anarquia, individualismo, liberalismo e injustiças (tais como negligenciar ou prejudicar minorias). São João Paulo II escreveu que a solidariedade “não é um sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas próximas ou distantes. Pelo contrário, é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos” (encíclica Sollicitudo rei socialis, 38).
O princípio da solidariedade também pode ser chamado de princípio da amizade, da caridade ou da cooperação. Existe a necessidade dos indivíduos ou grupos trabalharem em conjunto, porque há tarefas que ultrapassam a capacidade de um único indivíduo ou mesmo de pequenos grupos. O recente resgate dos jovens jogadores de futebol na Tailândia é um exemplo concreto do que se pode conseguir quando a solidariedade internacional é chamada a intervir.
A tecnologia fez o mundo mais pequeno e existe uma maior consciência que as nações não se podem ignorar mutuamente na sua busca pela paz e prosperidade. Para citar, uma vez mais, São João Paulo II: “Simultaneamente, no mundo dividido e perturbado por todas as espécies de conflitos, vai aumentando a convicção de uma interdependência radical e, por conseguinte, da necessidade de uma solidariedade que a assuma e traduza no plano moral. Hoje, mais talvez do que no passado, os homens dão-se conta de que estão ligados por um destino comum, que há-de ser construído juntamente, se se quiser evitar a catástrofe para todos. Das profundezas da angústia, do medo e dos fenómenos de evasão como a droga, típicos do mundo contemporâneo, emerge progressivamente a ideia de que o bem, ao qual todos somos chamados, e a felicidade, a que aspiramos, não se podem obter sem o esforço e a aplicação de todos, sem excepção, o que implica a renúncia ao próprio egoísmo” (Sollicitudo rei socialis, 26).
Pe. José Mario Mandía