Filosofia, uma dentada de cada vez (73)

Quais as quatro ideias importantes sobre a sociedade que devem ser lembradas?

Conforme já dissemos, faz parte da natureza humana associarmo-nos com outros seres humanos. Esta associação pode ter muitas formas, duas das quais são necessárias ao homem: A família e a nação.

A família é a primeira e a mais básica instituição humana. É onde o individuo nasce, é educado e amadurece. No entanto, a família não pode sobreviver só por si. Ela necessita de uma nação para se apoiar e defender os seus direitos. Também há outras “sociedades” que o homem pode criar nos campos da educação, profissão, política, cultura e da religião, onde todas essas associações contribuem para o desenvolvimento da cada pessoa.

Que ideias ou princípios importantes necessitamos conhecer e lembrar acerca da sociedade? São quatro e cada um pode ser aplicado de maneira diferente a diversos níveis da sociedade: (1) a dignidade de cada ser humano, (2) o bem comum, (3) o princípio da subsidiariedade (subordinação) e (4) o princípio da solidariedade.

O primeiro princípio é a dignidade humana. Já discutimos este assunto anteriormente (ver FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ, Nº 54). Cada ser humano, seja qual for o seu ou a sua condição (social), merece o respeito da sociedade.

Do primeiro princípio, passamos ao segundo: o bem comum. Se cada pessoa merece respeito, têm que ser criadas condições na sociedade que permitam a cada um desenvolver ao máximo o seu potencial. Isto é o que significa “bem comum”.

Peter Drucker fez a seguinte observação sobre a importância do bem comum: “Esta não foi a primeira sociedade pluralista da História. Mas todas as outras sociedades pluralistas anteriores destruíram-se a si próprias porque ninguém cuidou do bem comum. Eles abundam nas comunidades, mas não podem sustentar a comunidade, quanto mais criá-las. Se as nossas sociedades pluralistas querem fugir ao mesmo destino, os dirigentes de todas as instituições deverão aprender a ser líderes (dirigentes) para além das paredes (a serem dirigentes no terreno)” – Peter Drucker, “De Líder para Líder”, 1999. (N.d.A. – Devo esta frase ao Instituto Ricci de Macau, que a utiliza na sua página de Internet a propósito do simpósio anual “Explorar a Faixa Económica da Rota da Seda e da Rota Marítima da Seda do Século XXI: O Desafio do Intercâmbio Intercultural e da Comunicação”, que irá decorrer em Macau nos dias 22 e 23 de Novembro).

Quais os elementos necessários para alcançarmos o bem comum? O primeiro já foi aqui mencionado: respeito pela dignidade de cada pessoa. Uma pessoa não se pode desenvolver se não for respeitada e não for provida nos bens básicos essenciais. Esta afirmação aplica-se tanto às famílias como à sociedade em geral.

Em segundo lugar, “o bem comum necessita do bem estar social e do desenvolvimento do grupo em si” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1908). Este desenvolvimento não se restringe aos aspectos materiais (comida, vestuário, abrigo, saúde, emprego), mas também aos aspectos espirituais (educação, cultura, religião).

Finalmente, “a paz, a estabilidade e a segurança de uma ordem justa” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1909) também são necessárias.

Por tudo o que falámos acima, podemos verificar que o bem comum precisa de uma autoridade para coordenar os esforços da comunidade e dos seus membros. Uma orquestra sinfónica poderá ter os melhores instrumentos e os melhores músicos, mas mesmo assim precisa de um maestro, de forma a poder tocar harmoniosamente. A todos os níveis, seja na família, na sociedade civil ou num grupo religioso, é necessária uma autoridade. A autoridade é precisa não por si mesma, mas por causa do bem comum. Se a autoridade não trabalhar para o bem comum, ela terá perdido o seu direito e dever de governar.

E o que fazer com a subsidiariedade e a solidariedade? Veremos na próxima vez.

Pe. José Mario Mandía

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