Filosofia, uma dentada de cada vez (45)

Alguma vez viram os animais aparecerem com novas ideias?

A Natureza é maravilhosa. A Natureza é fascinante. Basta observar os pássaros a construírem os ninhos, as formigas a fazerem os formigueiros, ou as abelhas a construírem uma colmeia.

Mas vocês nunca se interrogaram porque é que os pássaros nunca desenharam novos tipos de ninhos, porque é que as formigas nunca pensaram em novos tipos de formigueiros, ou porque é que as abelhas não conceberam novos tipos de colmeias? No reino animal apenas o Homem é capaz de conceber um lugar onde ele possa viver. E ainda, mesmo que duas pessoas possam habitar em dois apartamentos que são em tudo semelhantes em aspecto, tamanho e volume, no entanto decorarão os seus apartamentos de forma diferente.

Alguma vez imaginaram os pássaros a reunirem-se e a decidirem fazer eleições para elegerem o seu próprio presidente? Macacos em grupo, em manifestações, em luta pela democracia?

Já se viu em algum lugar galinhas a fazerem uma escola para os seus pintainhos? Ou já se viu cães a organizarem concertos? Onde é que já se viu águias aparecerem com novos tipos e formações de voos? Gatos a tentarem arranjar novas formas de caçarem ratos?

Alguma vez viram os animais aparecerem com novas ideias?

Como seres humanos, sabemos que em muitos aspectos somos semelhantes aos animais. Uma dessas semelhanças é que somos capazes de sentir e observar coisas que se passam à nossa volta. Também temos paixões – zangamo-nos, ou ficamos felizes, ou tristes, ou com medo, ou temos esperança. Mas parece existir algo no Homem que o diferencia profundamente dos animais.

A maneira como apreendemos as coisas é uma forma superior de conhecimento. Do que aprendemos, somos capazes de aplicar a nossa experiência e conhecimentos recolhidos de outras situações, que são diferentes das situações em que aprendemos esses factos. Não somos apenas capazes de emitir sons relacionados com o que sentimos (como os que os animais fazem), mas também somos capazes de comunicar ideias a outros seres humanos e, assim, somos capazes de cooperar e de interagir com eles. Somos capazes de planear o nosso futuro, reconhecer o relacionamento entre diferentes experiências e ideias, estruturar projectos específicos a partir de conceitos abstratos. Somos capazes de reflectir sobre as coisas que conhecemos, avaliá-las e de as quantificar.

O Homem parece possuir poderes sensoriais mais elevados (apurados) do que os poderes sensoriais dos animais. Enquanto os sentidos apenas nos informam das características visíveis de coisas específicas, podemos pôr a questão “O Quê?”. Esta questão, por muito inocente que possa parecer, leva-nos a conhecer mais sobre algo, ou alguém, para além dos traços físicos. Esta questão não pode ser respondida pelos sentidos.

A nossa capacidade de compreender (apreender) o essencial das coisas que nos rodeiam torna possível compreender o seu uso. Já pensaram, por exemplo, a coisa maravilhosa que é ver que o silicone que é usado em “chips” de computadores é feito a partir de areia? No início pensámos que a areia era boa para se ter numa praia, e também era boa para construir casas. Mas mais tarde, através da pesquisa científica e tecnológica, chegámos a um melhor conhecimento da sua natureza ou essência, e verificámos que a areia poderia prestar um grande serviço à humanidade.

A linguagem também nos diz que temos uma maior capacidade de conhecimento quando dizemos, por exemplo, “eu penso que”, ou “eu creio que”, ou “sim, eu compreendo o que quer dizer”, ou “você sabe (sabia)?”. Quando pedimos a alguém que nos explique algo, esse facto demonstra que temos um intelecto que pode chegar à essência das coisas (a palavra “intelecto” vem do Latim “intus”, que significa “para dentro”, e “legere”, que significa “ler”. Assim sendo, a palavra “intelecto” significa literalmente “ler dentro” de algo, ver dentro de alguma coisa).

Pe. José Mario Mandía

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