Mais algumas Causas?
Há sim, ainda há mais uma causa, à qual São Tomás se dedicou. É chamada de Causa Exemplar. O que é então uma causa exemplar? A causa exemplar é “a influência causal exercida por um modelo ou um exemplo sobre uma acção de um agente (exterior)” (William A. Wallace, “Os Elementos da Filosofia: Um Compêndio para os Filósofos e Teólogos”, 105).
Deixem-nos dar um exemplo. Quando Miguel Ângelo (a causa eficiente) pensou em esculpir a “Pietà” o fim último era o de fazer uma escultura, mas já tinha uma ideia ou modelo específico de como se poderia vir a parecer. Este modelo-em-mente é a causa exemplar.
Antes de alguém escrever um artigo não tem apenas um fim último (escrever o artigo). Também possui uma ideia genérica do conteúdo e do estilo do artigo. Esta ideia genérica é a sua causa exemplar. A partir desde exemplo vemos quão importante é a causa exemplar. Alguém que comece a escrever sem ter uma causa exemplar muito provavelmente escreverá algo absurdo, ou sem sentido.
A causa exemplar está na mente da causa eficiente e pode ser inspirada, naturalmente, por algo exterior à mente da causa eficiente. Foi por isso que São Tomás disse que “um artífice produz uma determinada forma na matéria, em resultado do exemplo que tenha na sua frente, seja este exemplo visto exteriormente, ou um exemplo interno concebido na sua mente” (Summa Theologiae I, q44, a3).
Dos dois exemplos acima fornecidos podemos ver que a causa exemplar está de alguma forma relacionada com a causa formal. No entanto, a causa formal está na coisa em si própria (é uma causa intrínseca), enquanto que a causa exemplar está na mente do artífice (ela é exterior à coisa, é uma causa extrínseca).
Também podemos ver que a causa exemplar tem algum relacionamento com a causa final porque ambas são encontradas na causa eficiente. À primeira vista parecem ser a mesma. E qual é a diferença? A diferença está nos respectivos objectos: enquanto que a causa final move a vontade, a causa exemplar guia o intelecto (Teodoro de la Torre, “História Popular da Filosofia”, 116).
Deixem-nos falar de Teologia.
Deus é a Suprema da Causa Eficiente. Ele tem uma causa exemplar, um modelo-em-mente? Na verdade, sim. São João dizia: «No princípio existia o Verbo [Logos]; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus. No princípio Ele estava em Deus. Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência (João., 1:1-3)».
Deus disse: «Faça-se a luz» E a luz foi feita (Génesis., 1:3). Deus criou com a Sua Palavra, o Seu Logos.
O Logos é o O-Modelo-Na-Mente-De-Deus. Toda a criação segue um padrão de Deus. São Paulo afirmou: «porque foi Nele que todas as coisas foram criadas, no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis (Colossenses., 1:16)». Alguns ícones antigos que retratam a Criação mostram Cristo presente em cada dia da Criação.
Mas ainda há mais.
O Logos não é apenas o modelo da criação, mas também um modelo para a recriação do Homem, para a sua recuperação, a sua redenção, a sua santificação. Se alguém quiser ser salvo e ser santificado, necessita de olhar para o Modelo, o Logos, porque «Ele a imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criatura (Colossenses., 1:15)». Alguém que deseje ser santo terá que aprender com o Exemplo, Jesus Cristo.
Pe. José Mario Mandía