Fórmula 1 – Época de 2017

Massa despede-se do Brasil

O Circo desta temporada está a chegar ao fim. Assistiremos à retirada de Felipe Massa, pela segunda vez. O “massinha”, como é conhecido o piloto brasileiro, regressou da sua “aposentadoria relâmpago”, a pedido da Williams, para apoiar o jovem piloto canadense Lance Stroll, que se estreava na Fórmula 1. Stroll foi ocupar o lugar deixado vago com a transferência de Valtteri Bottas para a Mercedes. Com a saída de Felipe Massa, pela primeira vez em muitos anos não haverá pilotos brasileiros na Fórmula 1 em 2018.

O Autódromo José Carlos Pace (Brasil) é um circuito difícil, diríamos mesmo perigoso, mas onde os pilotos se sentem bem. Possui um dos mais longos “pit lane” do desporto motorizado e é um dos cinco traçados da Fórmula 1 onde as provas se correm no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Os outros quatro são Marina Bay (Singapura), Circuito das Américas (Estados Unidos, Austin, Texas), Autódromo Enzo e Dino Ferrari (Imola, Itália) e Yas Marina (Abu Dhabi).

O circuito brasileiro foi construído num terreno impróprio para a construção civil, havendo ainda hoje vestígios do seu passado pantanoso no interior do perímetro. O Grande Prémio do Brasil, com uma pequena interrupção entre 1978 e 1981, foi sempre disputado na capital económica do Brasil, São Paulo, desde 1972. À semelhança de Sepang, na Malásia, tem o problema das chuvas torrenciais. Já várias corridas foram interrompidas a meio da distância devido à quantidade de acidentes provocados pelas condições climatéricas.

Contudo, também foi devido às mesmas condições climatéricas que a Fórmula 1 assistiu ao aparecimento de uma nova estrela. Em 2016, em São Paulo, um jovem piloto holandês, de seu nome Max Verstappen, saiu da quarta posição do “grid”, mas despistou-se e foi relegado para o fim do pelotão. A 16 voltas do fim da corrida parou para mudar os pneus, tendo efectuado uma recuperação que lhe valeu o terceiro lugar do pódio. Foi, sem duvida, uma das melhores exibições de puro talento – de sempre – na Fórmula 1.

Este ano a meteorologia brasileira prevê trovoadas e chuva forte para sexta e sábado, e céu limpo e sol para Domingo. Macau tem uma diferença horária de dez horas para o Brasil, pelo que às 10 horas da manhã em São Paulo serão 20 horas em Macau. A agenda está assim escalonada: Treinos livres 1, hoje, 10 horas – 11 horas e 30; treinos livres 2, hoje, 14 horas – 15 horas e 30; treinos livres 3, sábado, 11 horas – 12 horas. Provas de qualificação: Sábado, 14 horas – 15 horas. Corrida: Domingo, 14 horas – 16 horas.

Lewis Hamilton sagrou-se campeão do mundo de pilotos pela quarta vez, acendendo à restrita categoria dos “Great Pilots” da Fórmula 1. A época de 2017, que irá terminar com o Grande Prémio de Abu Dhabi, no Circuito de Yas Marina, foi uma das mais polémicas dos últimos tempos, mesmo que ainda faltem duas corridas para o cair do pano. Lewis Hamilton mostrou-se um piloto completo, sem falhas, como disse Niki Lauda, três vezes campeão do mundo de pilotos e director não-executivo da Mercedes: «Nesta época, Lewis Hamilton mostrou estar numa outra dimensão, sem cometer erros, sendo, sem dúvida, o melhor do “grid”».

Por sua vez, Hamilton afirmou: «O número quatro é muito bom [referindo-se à quarta vitória no Campeonato do Mundo de Pilotos], mas já quero o número cinco». O piloto britânico poderá vir a igualar, ou mesmo ultrapassar, o recorde de sete vitórias de Michael Schumacher. Com 32 anos e estando no máximo das sua capacidades, poderá correr até aos 40 anos, ou talvez um pouco mais. Podem pensar estranho que lhe concedamos tal longevidade, mas muitos dos pilotos que se afastaram da Fórmula 1 passaram para outras categorias, tão ou mais desgastantes, com muito sucesso. Não nos esqueçamos, por exemplo, que nos “States” os pilotos vão para a “reforma” perto dos cinquenta anos.

Entretanto, há um assunto que está a deixar a Fórmula 1 com os cabelos arrepiados. O supremo patrão da Casa de Maranello, Sergio Marchionne, não está de acordo com algumas das novas regras para os motores da Fórmula 1, nem com o futuro pensado pelos novos donos da especialidade. Chase Carey, patrão da Liberty Media, a empresa que adquiriu os direitos de tudo o que se relaciona com a Fórmula 1, tem pressionado para que sejam introduzidas alterações – algumas delas já (muito) visíveis – que transformariam a Fórmula 1 «num circo americano global», segundo as palavras de Marchionne. «I don’t want to play NASCAR global. I just don’t. (Eu não quero fazer algo como um NASCAR a nível global. Simplesmente não quero.)»

O campeonato NASCAR disputa-se com carros quase iguais. A diferença nas carroçarias está na frente dos carros – cada marca pode ter uma frente que se assemelhe aos carros de uso corrente – e nas cores dos patrocinadores, o que faz com que muitas vezes uma única equipa – podem ter mais do que dois bólides – tenha cada carro com as cores do seu patrocinador individual.

O início das corridas já passou a ter muito da cultura americana, o que está a chocar os espectadores e telespectadores, com paradas de pilotos antes e depois das corridas, saudação da bandeira do país de cada Grande Prémio e execução ao vivo do respectivo hino nacional, entrevistas no fim da qualificação e na pista, deixando de lado toda a cultura desportiva que a Fórmula 1 criou desde 1950. Como será a Fórmula 1 sem a Ferrari? E as outras equipas alinharão com o novo estilo americanizado, ou seguirão a Ferrari, a única equipa que sempre esteve no “grid” de largada até hoje?

Manuel dos Santos

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