Festa Religiosa tem lugar na Praia da Maçãs (Portugal)

Tradição e inovação na Senhora do Mar.

É possivelmente uma das romarias mais características do litoral português e uma das poucas que tem vindo a conseguir integrar aspectos, valores e actividades da realidade actual. Em vez de ter ficado estagnada no tempo, a Festa da Nossa Senhora da Praia, na Praia das Maçãs, tem conseguido acompanhar o evoluir dos tempos, da vila e da zona onde se celebra.

Este ano assinalaram-se os 125 anos da romaria e uma vez mais a comissão organizadora quis inovar. A aposta para 2018 foi o Street Food, um risco assumido visto que «nesta zona as pessoas estão pouco habituadas a comer na rua», confessou-nos um dos organizadores. «Especialmente durante o Verão, altura em que o Sol aperta e apetece é estar na praia», explicou-nos. Nesta zona da Serra de Sintra, mais concretamente em Colares (Praia das Maçãs), os residentes habituaram-se a comer em casa, e quando saem para uma refeição fora gostam de se sentar à mesa, de preferência com vista para o mar e com ambiente controlado dado o calor. Ainda assim, a organização decidiu que este ano a aposta recairia no Street Food – comida de rua que viesse com valor acrescentado e que trouxesse algo de inovador, e não o corriqueiro hambúrguer, bifana ou cachorro. Houve oferta de tostas em pão com sementes (feitas no local), pão com chouriço em forno a lenha (também cozido no momento), os kurtos kalacs (uma espécie de pão/bolo tradicional da Transilvânia que pode ser servido doce ou com recheio salgado) e, claro está, a “nossa” comida tailandesa.

A festa durou quatro dias. Nos primeiros três dias apenas se abriram as portas para as refeições ao final da tarde devido ao calor. Foi um início um pouco tímido, mas pouco a pouco as pessoas foram chegando. No último dia, Domingo, foi a enchente total desde a hora do almoço. Como era o dia da procissão, a organização pediu aos operadores de Street Food para abrirem as portas mais cedo, a fim que as pessoas tivessem mais oferta para almoçar. Enquanto nos três dias anteriores tiveram a oportunidade de ver e conhecer os conceitos presentes, no Domingo todos comeram e os lugares existentes foram poucos para tanta gente.

Esta tradição religiosa teve início em 1893 com o famoso compositor e pintor romântico Alfredo Keil (autor da música do Hino Nacional de Portugal, “A Portuguesa”) que após ter decidido mandar construir a Capela da Vida Guida deu início à Festa da Nossa Senhora da Praia.

“Os andores são levados até ao oceano onde ficam a aguardar o lançamento de pétalas de rosa vindas do céu”, podia-se ler num dos folhetos da Irmandade de Nossa Senhora da Praia.

Esta manifestação religiosa foi recuperada em 1984, tendo conhecido um primeiro interregno após a morte do compositor e pintor Alfredo Keil, em 1907, tendo sido retomada entre 1936 e 1944. Segundo reza a história, a procissão terá sido inspirada pela lenda de que teria sido encontrada uma imagem de Nossa Senhora junto às rochas da Praia das Maçãs.

A grande particularidade desta festa, que atrai milhares de curiosos todos os anos, é a ida dos andores desde o areal até ao mar da Praia das Maçãs. De acordo com a tradição, aguardam dentro de água sete ondas (uma nota actual introduzida por um desporto muito popular nestas paragens: o surf). De facto, estando a Praia das Maçãs ligada ao surf desde há muitos anos, é normal que o evento inclua alguns aspectos dessa cultura. Assim como também tenta, de ano para ano, inovar e encontrar outras formas de atrair visitantes à vila.

Este ano foram muitos milhares os que vieram de fora para participar na romaria e nas noites de festa. O cartaz musical foi diversificado e bastantes atraente. A aposta no Street Food parece ter sido uma decisão acertada. Todos os visitantes estavam satisfeitos, pelo que ficou desde logo decidido que voltaremos a participar no próximo ano. Em termos organizativos, no que respeita ao Street Food, pouco houve a apontar, apesar de ter sido a primeira experiência. No entanto, há sempre aspectos que podem melhorar. O acesso à água potável não era o ideal e não se conseguia chegar ao ponto de esgoto. Durante a noite não havia energia eléctrica, o que para os carros de Street Food é um problema acrescido, tendo em conta que há alimentos armazenados em frigoríficos. Em 2019 estes são alguns pormenores a ter em conta, o que aliás foi transmitido à organização. Quanto à localização…. Bem, com uma vista de 180 graus para o mar, não se pode pedir melhor. Mas também aqui há um dado a apontar: o espaço é limitado e não permite o crescimento do certame em edições futuras.

Relativamente à cerimónia religiosa, resta dizer que a procissão é sempre encabeçada por seis elementos a cavalo da Guarda Nacional Republicana, sendo acompanhada pela Banda Filarmónica do Mucifal e pela banda dos Bombeiros Voluntários de Colares. Bem alto são erguidas as imagens de Nossa Senhora da Praia, Nossa Senhora dos Mares (Azenhas do Mar), Nossa Senhora do Carmo (padroeira dos Surfistas da Praia das Maçãs), São Marçal (padroeiro dos Bombeiros Voluntários), Menino Jesus, Nossa Senhora de Fátima, São José, do Sagrado Coração de Jesus e de Santo António de Lisboa.

Este ano, a par de todas as outras iniciativas para assinalar os 125 anos da romaria, foi lançado um selo comemorativo, editado pelos Correios de Portugal, com desenho de António Magalhães e uma tiragem de três mil exemplares. Com porte pago para o correio doméstico, o selo reproduz a imagem de Nossa Senhora e o postal completa-se com a capela construída por Alfredo Keil em 1890.

João Santos Gomes

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