Família e Fé

Existe fé sem obras?

Todos nós, alguma vez, teremos ouvido um comentário semelhante a este de uns pais em relação ao seu filho:

O rapaz até é bastante inteligente. O problema é que, como se distrai com facilidade, os testes não lhe correm nada bem. Isso é o que explica que ele não consiga tirar boas notas.

Evidentemente, a culpa não é só dele. Talvez o que esteja errado seja o modo actual de avaliar os conhecimentos de um aluno. Os professores deviam ter isto presente para não cometerem injustiças que bradam aos céus.

É completamente absurdo reprovar um aluno numa matéria só porque ele, sendo um pouco desatento, fica “bloqueado” no momento do exame. É preciso que os professores aprendam a avaliar as capacidades de um aluno sem as reduzirem àquilo que são capazes de demonstrar no momento do teste.

Depois de ouvir este comentário, perguntemo-nos com calma:

Se um aluno é verdadeiramente inteligente – no sentido próprio da palavra – será que essa sua capacidade não o levará a estar atento nas aulas? A estudar a matéria superando a tendência para a distracção? A preparar-se bem para fazer um exame?

Ou, com outras palavras:

Pode uma pessoa ser realmente inteligente se esse talento não a leva a esforçar-se para ter força de vontade? A superar a tendência para a dispersão? A estar atenta numa aula quando isso exige esforço?

A enfrentar um exame como aquilo que é: o melhor modo que conhecemos – com as suas limitações, evidentemente – para avaliar os conhecimentos adquiridos por um aluno?

Se um aluno é genuinamente inteligente dar-se-á conta de que, com a sua falta de força de vontade, não fará nada de útil na vida.

Perceberá que, sem esforço, a tendência para a preguiça sufocará as suas capacidades intelectuais.

Algo similar acontece na vida de um cristão.

Hoje em dia, é comum ouvirmos dizer que aqueles que vão à Missa aos Domingos são piores do que aqueles que não vão.

Será que isto é realmente assim? Pode uma pessoa dizer que acredita em Jesus Cristo e depois não viver de acordo com os seus ensinamentos? Será que acredita mesmo, ou não terá esquecido que “a fé sem obras está morta” (Tg 2, 17)?

Tem alguma lógica uma pessoa dizer-se católico não praticante? Não será a mesma coisa que um ciclista dizer-se não pedalante?

A pergunta é óbvia:

Se o senhor não pedala, porque é que diz que é ciclista?

A resposta é a habitual:

É uma questão de tradição. Já o meu pai era ciclista e o meu avô também. Eu também sou, só que não tenho nenhuma pachorra para pedalar. Dá trabalho e não vale a pena.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria 

Doutor em Teologia

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