Família e Fé

Acreditar em Deus é ser intolerante?

É um facto histórico. São Pio X, no dia 27 de Maio de 1906, beatificou dezasseis carmelitas de Compiègne, mártires durante a Revolução Francesa.

Corria o ano de 1794. No processo de condenação, as autoridades judiciais pronunciaram a seguinte sentença: Condenadas à morte por fanatismo.

Uma das religiosas, com grande simplicidade, perguntou:

Senhor juiz, por favor, que quer dizer fanatismo?

E o juiz respondeu:

«– É a vossa estúpida adesão à religião».

Ela, dirigindo-se às outras carmelitas, disse-lhes:

«– Irmãs, vocês ouviram? Somos condenadas pela nossa adesão à fé católica. Acreditar em Deus é considerado um fanatismo e uma intolerância com os outros».

Fizeram-nas sair da prisão da Consiergerie e obrigaram-nas a dirigir-se para o local do suplício, a Praça do Trono, já repleta de gente sedenta de sangue. Era o dia 17 de Julho.

Ao chegarem perto da guilhotina, estas dezasseis mulheres que se preparavam para morrer começaram a cantar o hino “Veni Creator Spiritus” (“Vinde Espírito Santo”).

A morte, para um cristão, nunca tem a última palavra.

Este modo de actuar, numa situação humanamente tão difícil, manifestava tudo menos fanatismo e intolerância.

Mas o cântico começou a tornar-se cada vez mais débil, à medida que as suas cabeças caíam uma após a outra.

Por fim ficou somente uma, a prioresa, Madre Teresa de Santo Agostinho. As suas últimas palavras foram estas:

«– O amor será sempre vitorioso, porque o amor vence sempre».

Não condenou ninguém. Não morreu com ódio a ninguém. As suas últimas palavras foram um grito de esperança.

Ontem como hoje, marcar com a suspeita de intolerância todo aquele que defende convicções religiosas é uma atitude pouco tolerante.

E com facilidade, quantas pessoas caem imperceptivelmente neste erro.

Muitas vezes defendem que uma opinião, para ser verdadeiramente tolerante, tem de ser completamente laica.

Parece que pôr este adjectivo é sinónimo de que se trata de algo neutro, que está por cima de qualquer tipo de debate, e que por isso deve ser aceite pacificamente por todos.

E em nome de verdades laicas, que combatem sem tréguas qualquer tipo de intolerância, já se cortaram muitas cabeças.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria 

Doutor em Teologia

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *