O saber moral
Se observarmos com calma veremos que, nos nossos dias, muitos pais estão preocupados com a educação dos seus filhos. Eles falam Inglês – melhor que os pais – navegam pela Internet e até ouvem música no MP3 – geringonça que os pais nem se atrevem a tentar perceber como é que funciona.
No entanto, parece que lhes falta alguma coisa.
Os filhos têm uma visão da vida e um modo de actuar que parece pôr em risco o seu futuro. Os pais tentam repetidamente chamar-lhes a atenção para isso, mas tudo fica em águas de bacalhau.
De onde vêm essas atitudes, se nunca lhes faltou nada na vida? Porque é que parecem faltar pontos de referência no seu modo de actuar?
Demasiadamente tarde, muitos pais apercebem-se de que essa ausência de pontos de referência está directamente relacionada com uma defeituosa formação moral dos filhos.
Parecia que a formação moral era uma imposição de valores, desnecessária e até contraproducente. Uma história da carochinha. No entanto, essa história deixou pontos de referência à geração anterior – pontos que agora se lamenta que os jovens não possuem.
Qual é a mentalidade actual mais difundida sobre a formação moral?
Diria, sem carregar demasiadamente as tintas, que para muitos jovens a moral reduz-se aos mandamentos da Igreja – sobretudo em matéria sexual – que mantêm as pessoas reprimidas – gente masoquista – à espera de chegar à felicidade na outra vida.
Claro que com uma visão tão maravilhosa e motivante como esta, só os tolos desejam uma formação deste tipo.
É preciso que os primeiros e os principais educadores – se alguém se esqueceu, são os pais! – não tenham nenhum tipo de receios em explicar aos seus rebentos desde a mais tenra idade – primeiro com o exemplo e depois com a palavra – que a moral não é um conjunto de regras que nos reprimem e nos impedem de sermos felizes.
Nada mais longe da realidade!
A formação moral ajuda-nos a encontrar o caminho para sermos felizes nesta vida – e também na outra.
É muito oportuno explicar que um animal pode viver bem deixando-se arrastar pelos seus instintos – mas o homem não.
O homem é um ser especial porque é um ser livre.
Precisa de ser educado para viver de acordo com aquilo que é. Nem tudo o que pode fazer – roubar, mentir, drogar-se – ele deve fazê-lo. Não porque não seja livre, mas porque não lhe convém.
Não se pode confundir – e muitas vezes confunde-se – a liberdade com a espontaneidade. O homem, para agir bem, deve pensar antes de actuar – coisa que os animais não fazem.
Por isso, a educação moral não tira nem diminui a liberdade do ser humano – muito pelo contrário!
Dá-lhe luz para que – se ele quiser – possa viver de acordo com aquilo que é.
É verdade que o saber moral é difícil e delicado. Mas também é verdade que vale a pena esforçar-se por obtê-lo.
Porquê?
Porque é o saber mais valioso para o homem. É o saber que o ensina a usar bem a liberdade.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia