Neste Portugal pacificado por uma governação atenta aos seus principais problemas, mas que, de vez em quando, deixa algumas migalhas mal digeridas para “entreter” a oposição que, poucas vezes com razão e muitas vezes sem ela, faz o seu papel de vigilância ao Governo do País, os portugueses divertem-se com as suas tradições, marchando em tom crítico aos seus fulambós.
Ainda com a memória presente do soar das botas cardadas do nossos militares, nos desfiles comemorativos do 10 de Junho que, em marchas lentas e apressadas nas calçadas da cidade do Porto, deram expressão aos heróis nacionais e encantaram os mirones, eis-nos já em plena celebração dos Santos Populares.
Após os casamentos de Santo António, na Sé de Lisboa, com milhares de pessoas e, entre elas, centenas de turistas encantados com esta tradição que, para alguns lisboetas cinquentenários, já não é o que era uma vez que já não é exigida prova de virgindade às noivas, começam as marchas populares na sua eterna competição entre os bairros populares da capital. Uma noite de desfiles marchantes, com roupas a rigor e arranjos musicais originais, com princípio na Avenida da Liberdade e final, para todos os “motivados”, em Alfama, Mouraria, Graça, Bairro Alto e restantes bairros lisboetas, entre jarros de vinho tinto e apetitosas sardinhas assadas.
Se Lisboa está em festa e o Porto prepara o São João, as nossas comunidades espalhadas pelo mundo também dão a mão à tradição. Os portugueses são assim: marcharam ao som de “Grândola Vila Morena”, marcham para fora do País, quando este não lhes oferece condições de vida; marcham para regressar, quando a saudade e a recepção lhes é favorável e marcham até nos países para onde emigraram, mesmo sabendo que dificilmente vão voltar.
Curiosamente, parece que a moda das marchas pegou para lá dos Pirinéus, dando ao “República Em Marcha”, do novíssimo partido do Presidente francês Emmanuel Macron, uma enorme vitória na primeira volta das eleições legislativas francesas.
Quem diria que um recém-eleito Presidente, sem historial político que, há poucos meses, nem partido organizado tinha, poderia vencer as presidenciais e prepara-se para, na segunda volta das eleições legislativas de 18 de Junho, alcançar (de acordo com as projecções) mais de 70% dos deputados? Resposta: os franceses! Fartos dos partidos tradicionais, da sua incúria perante as dificuldades do País, do carreirismo político das suas hostes; da estabilidade conveniente à sua permanência no poder; dos jogos de poder entre si e da sua falta de genialidade na arte de governar, os franceses decidiram votar massivamente no “em Marcha”.
Só que, desta vez e em virtude do que se ignora, ninguém sabe muito bem para onde vai “marchar” o “em Marcha”. Com a sua linha política a (in)definir-se como “nem direita nem esquerda” e uma grande parte dos seus eleitos sem nenhuma experiência de governação. Por isso há quem duvide se os franceses pensam que o que é novo é bom, ou pensam assim porque o que era velho não prestava. “Affaire à suivre”!…
Em “marcha atrás” está a Primeira-Ministra da (ainda) Grã-Bretanha, Theresa May.
Após uma campanha eleitoral a pedir, senão exigir, uma sólida maioria para o seu Partido Conservador, capaz de enfrentar as difíceis negociações do Brexit, que deveriam iniciar-se no próximo dia 19 de Junho, os ingleses “torceram a porca” e deixaram Theresa a gritar “May Day” com o inferior resultado eleitoral que veio a obter.
Sem maioria para governar, o Partido Conservador inglês tenta agora chegar a um acordo com os ultra-conservadores da Irlanda do Norte, os chamados “Unionistas”, para formarem um Governo maioritário. Mas as contradições entre uns e outros são de tal forma que muito boa gente esclarecida não dá muita vida a esta coligação.
Quem não está muito pelos ajustes com toda esta saga inglesa é a Comissão Europeia, que tinha tudo preparado para discutir o Brexit em “marcha avante”. Como ninguém sabe como isto vai acabar. “To be continued”!…
LUIS BARREIRA