Dizer que não
«Gosto muito do meu filho – dizia um senhor numa reunião de pais na escola – e procuro que ele se dê conta disso. No entanto, reconheço que algumas vezes o meu filho porta-se mal. É verdade que ele só tem sete anos de idade. Mas também é verdade que eu tento não me esquecer desse “pormenor” quando converso com ele sobre o seu comportamento.
No outro dia, um psicólogo disse à minha mulher que nessas idades ninguém se porta propriamente mal.
Simplesmente, faz com inocência algo que ainda não aprendeu que está mal. Eu, que não sou psicólogo nem nada que se pareça, não estou nada de acordo com isso. Já vi o meu filho portar-se mal. São coisas pequenas, evidentemente, mas ele sabe o que faz e tem consciência disso.
E para o seu bem, procuro actuar com firmeza – não é sinónimo de violência – e dizer-lhe claramente que “não”. Ser claro, para mim, não é o mesmo que gritar. Também procuro explicar-lhe o porquê do meu “não”, de modo que ele possa entender.
Muitas vezes, apercebo-me de que ele obedece não tanto por entender o que lhe digo, mas por confiar em mim. Porque sou seu pai. E, além disso, seu amigo. A paternidade é um facto. A amizade é uma conquista diária. E essa amizade entre nós também cresce quando ele percebe que eu lhe digo que “não” – quando seria muito mais fácil não lhe dizer nada».
Que gosto dá ouvir umas palavras tão sensatas!
Os pais, se amam de verdade os seus filhos, não terão receio de, algumas vezes, lhes dizer que não. Que pena se, por temor a contristar o filho ou a passarem eles um mau momento, se habituem a ceder naquilo que não devem ceder!
Quantos remorsos depois com o passar dos anos – e eles passam rapidamente – de não ter sabido dizer que não a tempo!
Como diz o povo, cheio de sabedoria, é de pequenino que se torce o pepino.
Não é nada lógico dar aos filhos tudo aquilo que eles pedem. Nem deixá-los fazer tudo aquilo que lhes apetece. É preciso manter-se firmes – com uma firmeza amável e delicada que procede do amor.
Convém não esquecer que a primeira qualidade do amor é a força para fazer o bem.
E se, depois de ter dialogado com os filhos e ouvido os seus argumentos, eles não gostam ou não entendem uma indicação dos pais?
Nesse caso, os pais não devem ceder naquilo que verdadeiramente consideram ser importante. O contrário seria claudicar num ponto nevrálgico da educação.
Mais tarde, serão os próprios filhos a ouvir esse não no seu interior diante daquilo que poderiam fazer mas sabem que não devem fazer.
No entanto, não nos enganemos: é muito difícil que esse não seja interiorizado pelos filhos se antes não foi pronunciado pelos pais.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia