Epifania – Dia de Reis

A Manifestação do Senhor aos Reis da Terra.

O dia da Epifania é mais conhecido entre nós como o Dia de Reis, comemorado tradicionalmente no dia 6 de Janeiro, ou, desde a reforma litúrgica de 1969/70, no Domingo entre os dias 2 e 8 de Janeiro.

O Nome da Festividade

A etimologia por trás da palavra Epifania é o verbo grego πιφαίνω “mostrar-se” ou “aparecer” e a sua tradução é “Manifestação”. Já Θεοφανεία “Teofania”, a palavra utilizada pela igreja grega, é composta de Θεός “deus” e φανεία “aparição”, traduzindo-se normalmente por “Manifestação de Deus”.

O Episódio

Esta festividade refere-se ao episódio contado no Evangelho de São Mateus (2:1-12) quando os μάγοι “Magos” vieram do Oriente até Jerusalém seguindo uma estrela para adorar o recém-nascido Rei dos Judeus. Os Magos vêm ter com Herodes para saber do recém-nascido Menino e depois de lhe prometerem que o informariam do paradeiro do Menino-Rei, estes partem e seguindo a estrela chegam à casa onde está o Menino e aí adoram-n’O.

Na narrativa bíblica este episódio tem particular relevância, na medida em que o texto diz que os Magos adoraram o menino em sua casa (κα ἐλθόντες εἰς τὴν οἰκίαν Mat.2:11), e não no estábulo, onde, de acordo com o evangelista São Lucas (Luc.2:7) e a tradição, Jesus nascera, e também porque oferece contexto para o massacre dos Santos Inocentes.

Mas nada é dito acerca destes magos, quantos eram eles, quem eram, ou de onde vinham. No Ocidente a tradição estabelecerá o número de três magos e posteriormente atribuir-lhes-á os nomes de Gaspar, Baltazar e Melchior.

 

Os Magos eram Reis?

A palavra que o original grego usa para magos está normalmente associada com astrólogos orientais, como sejam os babilónicos. A origem desta palavra é possivelmente persa já que no âmbito do Zoroastrismo, a antiga religião persa que adorava o fogo, a palavra avéstica maguš referia-se a um tipo de sacerdote, ainda que mesmo aí seja de difícil interpretação.

Foi a tradição que determinou que estes magos fossem Reis mas o facto de que estes seguiam uma estrela parece confirmar a escolha da palavra grega normalmente reservada à astrólogos e outros praticantes de adivinhação e/ou magia. A tradução inglesa usada pelos anglicanos traduz a palavra μάγοι como “wise men from East”, ou seja “sábios do Oriente”.

 

Quantos eram os Magos?

A sagrada escritura é também silente no que diz respeito ao número dos (reis) magos que vieram do Oriente. O número três vem provavelmente do facto de que estes traziam três presentes diferentes, a saber ouro, incenso e mirra. A igreja oriental varia no número de reis; os sírios ortodoxos apontam para o número de doze magos.

 

A origem dos Magos

O texto bíblico diz que os Magos vêm do Oriente; a forma grega usada π ἀνατολῶν não sugere mais nada do que “d(as terras d)o Levante”. A tradição não demorou muito para tentar estabelecer com mais precisão a procedência destes magos. Desde cedo foram oferecidas como terra de origem a Babilónia, a Pérsia, a Índia, o Yemen, a Arábia, etc. O venerável Beda (séc. VII/VIII) não só propõe a origem dos Reis Magos com precisão, a saber Melchior era de Ur, a cidade de Abraão na Caldeia, Gaspar de junto do Mar Cáspio e Baltazar da Arábia, como vai mais longe dando detalhes acerca da idade dos Magos e a sua aparência física. Claro está que Beda não estaria a inventar estes dados, eles representariam apenas a tradição da sua época e da sua região.

Na iconografia da idade media os Reis Magos começam a representar diferentes raças e, como tal, Baltazar é normalmente retratado como sendo de raça negra; os outros dois são representados com barba e cabelo de tons diferentes e trajes sugestivos de outras civilizações, com a intenção marcar a origem geográfica diferente dos três Magos.

 

O Destino dos Magos

A tradição diz que os Reis Magos se tornaram bispos e posteriormente foram martirizados. Santa Helena terá encontrado os ossos dos três e tê-los-á enviado para a Basílica de Santa Sofia em Constantinopla onde foram entronizados como relíquias. No tempo das Cruzadas estas relíquias foram parar a Milão e no séc. XII quando partes do Norte de Itália foram absorvidas pelo Sacro Romano Império, estas foram levadas para a Catedral de Colónia onde ainda hoje estão num relicário sobre o altar mor.

 

O significado religioso da Epifania

A factualidade do episódio dos Reis Magos tem sido contestada e há quem defenda que este foi introduzido apenas para confirmar a profecia que reis estrangeiros viriam adorar o Messias de Israel (Is. 60; sal 72).

Contudo o episódio dos Reis Magos tem grande significado teológico. Os Magos foram identificados como reis e não como meros sacerdotes ou astrónomos orientais porque foi profetizado que o Messias de Israel seria servido pelos reis da terra (cf. Is. 60:10 E os filhos dos gentios edificarão os Teus muros, e os seus reis Te servirão) e estes trazer-lhe-iam ofertas dignas de um rei (Is.60:6 A multidão de camelos cobrir-te-á, os dromedários de Midiã e Efa; todos virão do Sabá, trarão ouro e incenso e farão públicos os louvores do Senhor).

A identificação dos Magos como reis comporta um grande simbolismo na medida em que o Rei dos reis é adorado pelos reis da terra no momento do seu nascimento quando os Reis Magos “prostraram-se diante d’Ele e adoraram-n’O” (Mat.2:11), como fora previsto no salmo 72(: 10-11) “Os reis de Társis e das ilhas apresentarão os seus presentes; os reis de Sabá e de Sebá oferecerão os seus dons, e todos os reis se prostrarão perante Ele; todas as nações O servirão”. Essa é a Epifania do Senhor, a sua manifestação perante os homens da terra simbolizados aqui pelos três Reis Magos. Para além disso, o Menino-Deus manifesta-se perante os representantes de todas as nações da terra, como fora profetizado por Isaías, quando por volta da Idade Média, os três reis passaram a representar as três raças dos três continentes conhecidos até então, a Europa, a Ásia e a África.

Cheios de significado são também os presentes oferecidos pelos Reis Magos, a saber: ouro, incenso e mirra. Estas três oferendas simbolizam as três facetas da pessoa de Jesus Cristo incarnado Homem: Deus, sacerdote e rei.

A mirra era um tipo de perfume, muito caro, que se utilizava, entre outras coisas, na confecção do incenso e também na preparação dos mortos. Este perfume simboliza a o aspecto sacerdotal de Cristo na medida em que cabia aos sacerdotes preparar o incenso para ser queimado nos altares; o ouro representa a o cariz Real de Cristo, na medida em que ouro é o que se oferece aos reis; e, por fim, o incenso representa a Divindade de Cristo porque somente aos deuses é oferecido incenso.

Assim, é por meio destes três Reis Magos que Jesus se manifesta a todas as nações da terra pela primeira vez, e através das suas ofertas as nações reconhecem Jesus como o seu sacerdote, o seu Rei e o seu Deus. É esta a Epifania do Senhor.

Roberto Ceolin 

Universidade de São José

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