Enquanto o Cão não chega

Entre o frio de Mira e o calor de Curaçao.

As minhas crónicas a partir de Portugal intercalam as nossas vivências na “metrópole” com assuntos ligados a Macau – observações da actualidade do território, com a devida distância que a Europa nos proporciona.

Quem me conhece e acompanha nestas coisas da escrita sabe que sempre fui crítico, muitas vezes com razão de o ser; outras vezes sem qualquer fundamento! No entanto, é a minha opinião e espero ir ao encontro de muitos leitores.

Esta semana, enquanto espero pelos festejos do Ano Novo Chinês (do Cão) aqui em Portugal, junto da comunidade macaense (será comemorado no dia 17 de Fevereiro num restaurante chinês em Coimbra), aproveito para revelar um pouco do que tem sido a nossa vida em Mira.

A aventura na “restauração”, durante esta pausa forçada na viagem de veleiro, está a ter um impacto maior do que esperávamos!

Quando, em Outubro ou Novembro do ano passado, decidimos que deveríamos fazer algo para nos entretermos enquanto estivéssemos em Portugal a tratar do problema oncológico da NaE, estávamos longe de imaginar que o que era para ser um negócio de Verão se tornasse num empreendimento a tempo inteiro. Vender comida tailandesa numa vila com pouco mais de dez mil habitantes era algo que, a princípio, estava destino ao fracasso. Mas depois de um Verão bem sucedido a marca Dee (Dee Thai Food Truck) já extravasa em muito as fronteiras deste concelho e até mesmo do distrito de Coimbra (tem cerca de 430 mil habitantes). A nossa clientela chega das aldeias vizinhas e também dos distritos de Leiria, Aveiro, Viseu, Castelo Branco e de outros locais mais distantes.

O facto de termos participado em diversos eventos de norte a sul de Portugal ajudou a divulgar a marca e a nossa comida. Também estarmos presentes nas plataformas sociais, nomeadamente no Facebook, ajuda a passar a mensagem. Estivemos em rádios nacionais e regionais, o que funcionou como bola de neve. Por diversas vezes fomos entrevistados para programas de rádio, o que fez com que mais pessoas ficassem a conhecer o projecto e com curiosidade de experimentar diferentes sabores.

No seguimento deste impacto, decidimos apostar em publicidade numa das rádios com maior audiência junto do grupo etário que mais nos visita. Certamente irá dar mais um impulso à dinâmica que temos tido até ao momento.

A Vila de Mira é um município que dentro das suas restrições orçamentais vai apresentando um calendário de eventos que atrai milhares de pessoas, especialmente nas ditas épocas mais baixas, o que contribui igualmente para passarmos a mensagem da comida tailandesa a outros clientes. Há dias decorreu em Mira o campeonato europeu de corta-mato de clubes, com o Sporting Clube de Portugal a sagrar-se campeão em masculinos e femininos. Só este evento trouxe milhares de pessoas de toda a Europa por diversos dias à vila, ajudando a dinamizar vários tipos de negócio. Em breve vai ter lugar outro evento internacional, desta vez será o encontro internacional de Minis. Para os amantes dos pequenos veículos é uma oportunidade para trocarem experiências, enquanto o pequeno negócio pode engrossar as vendas. Felizmente o município é dinâmico. Aliás, sempre o foi, independentemente da cor partidária que esteja no poder.

Entretanto, confirmámos os nossos planos a médio e longo prazo. Como já havia referido em crónicas anteriores, temos o desejo de regressar em Novembro ao nosso veleiro, que se encontra do outro lado do mundo, em Curaçao. Claro está que estamos dependentes do andamento dos tratamentos oncológicos da NaE e da autorização do médico que coordena todo o processo. Felizmente, na última consulta de rotina, deu-nos luz verde – sinal de que tudo está a evoluir dentro dos prognósticos mais positivos, o que tem sido sempre confirmado pelo corpo clínico do Instituto Português de Oncologia de Coimbra e pelas análises realizadas periodicamente.

Assim sendo, começámos já a planear a nossa vida, contando viajar para Curação no final do ano, por um período entre quatro a cinco meses. Possivelmente teremos tempo para colocar o veleiro na água e pouco mais. Há imenso trabalho mecânico a realizar e há que tratar das velas e do casco. Antevemos que seja necessário pelo menos um mês para que o Dee possa tocar na água. Depois veremos se seguimos prosseguir viagem para a Colômbia e Panamá (até Abril ou Maio de 2019), onde o veleiro poderia ficar durante o nosso regresso a Portugal, para voltarmos a trabalhar no Dee Thai Food Truck entre o Verão e Novembro, e retomar todos os exames clínicos necessários.

A viagem de veleiro é sempre tema de conversa com os clientes e nas entrevistas à Comunicação Social – querem sempre saber o que iremos fazer. As respostas, essas, são sempre as mesmas. Temos de nos sujeitar ao programa clínico de cinco anos (habitual nestes casos), sendo que tal obriga a que a passagem para o lado do Pacífico só possa acontecer depois desse período de tempo. A passagem para o Pacífico, com a consequente travessia para as Marquesas e Polinésia, levará um ano, pois só velejamos em períodos de acalmia e queremos visitar vários locais – Marquesas, Polinésia, Ilhas Cook, Fiji, Vanuatu, Nova Caledónia, ilhas Salomão, Papua Nova Guiné e Timor-Leste). Há outras duas hipóteses: ficar nas Caraíbas a queimar tempo ou subir mais a norte, de preferência até Nova Iorque, e rumar aos Açores e Portugal Continental, de onde retomaríamos a viagem. Isto é, partiríamos do local onde queríamos terminar inicialmente.

Enfim, não sabemos o que o futuro nos reserva, mas a opção de estar em Portugal com a nossa casa flutuante é atractiva. Ter o Dee em Portugal iria permitir que pudéssemos consertá-lo e melhorá-lo com maior frequência e de acordo com o nosso magro orçamento.

A finalizar, queria pedir aos leitores que visitassem o nosso canal do Youtube (procurem SailingDee, subscrevam e ajudem a divulgar a página). Uma nova regra imposta pelo Youtube obriga a que os canais tenham – no mínimo – mil subscritores para que possam aparecer com frequência. O canal SailingDee serve, em Inglês e Tailandês, para acompanharem o nosso dia-a-dia em Portugal e a viagem de veleiro.

Kung Hei Fat Choi!

João Santos Gomes

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