Evocação do espírito da Quaresma
Num comunicado emitido no final da 57.ª Assembleia Plenária da Conferência dos Bispos Católicos da Rússia, realizada na Casa de Exercícios Espirituais “Betlemme”, perto da cidade de Novosibirsk, de 28 de Fevereiro a 2 de Março, os prelados chamaram mais uma vez a atenção dos fiéis para a realidade do mundo actual, pleno de sofrimento “causado pela guerra, a violência generalizada e os desastres naturais”. Foram salientadas em particular as crises humanitárias na Ucrânia, no Cáucaso, na Síria e na Turquia, assim como todo o tipo de “feridas infligidas às pessoas e à sociedade devido a separações, divórcios, violência doméstica, abortos, miséria dos famintos, dos sem tecto e dos indigentes”. Por essa razão, pediram os bispos das quatro dioceses da Federação Russa – não só aos católicos locais, mas também “a todas as pessoas de boa vontade” – que meditassem no conteúdo da Carta do Papa Francisco para a Quaresma 2023, na qual ele nos convida “a sair ao encontro do Senhor e do nosso semelhante”.
A Conferência Episcopal de Novosibirsk apontou três caminhos essenciais para conseguir “caminhar e trabalhar juntos face às peculiares condições históricas do tempo presente”. O primeiro de todos é a oração, acompanhada do jejum e da contemplação “do amor que levou Cristo a dar a vida até à morte na cruz e a Ressurreição”. Segue-se o diálogo. Os fiéis são convidados a partilhar as suas preocupações com os entes queridos e amigos. “Não há cura possível sem ouvir e levar a sério o que o outro tem a dizer, mesmo que seja difícil de compreender ou desagradável ou, às vezes, doloroso até”, salienta o documento. Finalmente, apelam os bispos à prática do “amor activo”, a exemplo dos católicos do Sudoeste da Federação Russa, que prestam ajuda a todos os que dela necessitam, independentemente das suas crenças religiosas, origens ou convicções pessoais. Em Novosibirsk os bispos apelaram também a uma reflexão contínua, “tanto a nível pessoal como comunitário”, sobre o que significa viver hoje em dia a conversão pastoral e missionária sugerida pelo Papa Francisco.
Confrontados com a expulsão do País de alguns padres e leigos católicos, a Conferência Episcopal convidou o Governo e todos os fiéis a estarem receptivos “aos valores evangélicos dos quais a Igreja Católica é portadora” enquanto parte integrante da sociedade russa. Recorde-se que em Setembro do ano passado D. Paolo Pezzi, arcebispo Metropolitano da Mãe de Deus em Moscovo, em nome da Conferência dos Bispos Católicos da Rússia, assinou um documento dando orientações aos leigos e religiosos católicos de nacionalidade russa confrontados com a difícil escolha que o decreto de mobilização parcial no Exército da Federação Russa obrigava. Citando o Papa Pio XII, “nada se perde com a paz, tudo se perde com a guerra”, e seguindo o ensinamento da Igreja, para a qual “a guerra nunca foi nem será um meio de resolver os problemas entre as nações”, o texto da Conferência Episcopal lembrava que a Constituição da Federação Russa protege “aqueles que repudiam o uso de armas por razões de consciência”. Ao confirmar a impossibilidade de tomar um rumo diferente, visando evitar mais derramamento de sangue, pediram na altura os bispos que fossem tidas em conta as palavras de Francisco em Nur-Sultan, aquando da recente viagem apostólica do Santo Padre ao Cazaquistão: «Não nos acostumemos à guerra (…)Ajudemos os que sofrem e insistamos para que a paz seja verdadeiramente alcançada. O que mais deve ainda acontecer, quantas mortes mais devemos esperar antes que as rivalidades dêem lugar ao diálogo para o bem dos povos e da Humanidade? A única saída é a paz e a única forma de alcançá-la é através do diálogo».
Entre os muitos pontos abordados na recente Conferência Episcopal de Novosibirsk está o da correcta formação dos fiéis sobre os conteúdos da fé e do Magistério da Igreja Católica, com base em fontes oficiais de informação, nomeadamente os canais da Santa Sé, a Conferência dos Bispos Católicos da Rússia e as dioceses católicas. Quanto à Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá em Lisboa de 2 a 6 de Agosto, os bispos eslavos mantêm a esperança de que um grupo de católicos russos possa também participar, lembrando a todos os jovens católicos, entre os dezasseis e trinta anos de idade, o encontro que em São Petersburgo, entre 23 a 27 de Agosto, lhes será dedicado.
A liturgia eucarística no final dos trabalhos foi presidida por D. Geovanni D’Aniello, núncio apostólico na Federação Russa. A sua presença atraiu fiéis católicos de várias paróquias da diocese da Transfiguração, que é, juntamente com a diocese de São Clemente em Saratov e a diocese de São José em Irkutsk, uma diocese sufragânea da arquidiocese da Mãe de Deus em Moscovo: todas as quatro constituem a província eclesiástica da Igreja Católica na Rússia. Como os católicos na Federação Russa representam menos de um por cento da população total, é normal que se apresentem em comunidades pequenas, ou até mesmo minúsculas, algumas das quais sem a presença contínua de um padre ao longo do ano. A próxima Assembleia Plenária da Conferência dos Bispos Católicos da Rússia será realizada na cidade Togliatti, entre 22 a 24 de Novembro do corrente ano.
Joaquim Magalhães de Castro