Editorial

Tento na língua

Falar sem pensar é lamentável, é descuido, é mau para quem o faz e para quem ouve. É atirar para o ar sem medo de poder cair em desgraça, é ser infeliz.

Raimundo do Rosário chegou a Macau com vontade de mudar, mudar o que estava mal, tentando, ao mesmo tempo, aperfeiçoar o que estava bem.

Logo depois de tomar posse, o secretário para os Transportes e Obras Públicas deu umas voltas pelo território para aferir a pesada herança deixada por Lau Si Io. Deitou as mãos à cabeça com o que foi vendo e interrogou-se sobre a forma de resolver, por exemplo, o caos rodoviário. Tomou então a decisão de obrigar os automobilistas a deixarem os carros em casa e passarem a andar nos transportes públicos. De que forma? Abolindo os passes mensais dos silos automóveis e aumentando as tarifas destes e dos parquímetros.

Claro está que mal abriu a boca – veio depois dizer que houve um problema de tradução, mas nós bem sabemos o que ouvimos… – os proprietários dos lugares de estacionamento subiram os preços do arrendamento, não restando a Raimundo do Rosário dar o dito por não dito, o que não fez baixar os preços entretanto inflacionados.

Parece agora que se mantém a intenção de aumentar os preços das tarifas dos silos automóveis e dos parquímetros, o que não irá resolver o problema do congestionamento das vias, pois basta olhar para a qualidade do parque automóvel de Macau para perceber que não serão mais umas patacas que farão os proprietários trocar o carro pelo autocarro. Sim, porque o Metro Ligeiro é uma miragem.

Enfim, a tentativa de Raimundo do Rosário em resolver a questão não terá o efeito desejado, estando já a prejudicar quem arrenda lugares de estacionamento, uma vez que a aquisição de um qualquer cubículo em Macau tornou-se um luxo apenas acessível a alguns.

Outro exemplo do extremo cuidado que os nossos governantes devem ter quando falam está relacionado com o futuro do Hotel Estoril. Alexis Tam foi até à cidade do Porto, onde se encontrou com Siza Vieira – autor do Bairro da Malagueira em Évora e de outras obras que redundarem em autênticos cancros de manutenção para as falidas Câmaras Municipais de Portugal – e de lá veio com a intenção de demolir o devoluto edifício que ladeia a Praça do Tap Seac.

Estranho que, mais uma vez, tenha a opinião de um “estrangeiro” prevalecido sobre a dos arquitectos “locais”, sendo estes com toda a certeza mais conhecedores da História de Macau.

Daqui a umas semanas o “mestre” – como alguns o apelidam – irá poisar em Macau para comunicar a sua decisão e, quiçá, negociar o preço para o desenho da “Sizada” que ali irá nascer. Sem concurso público, mais uma vez!

José Miguel Encarnação

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