O clima aqui por Portugal não tem dado tréguas; temos tido chuva, daquela a que na gíria chamamos “molha tolos”, há mais de um mês! Este tipo de condições meteorológicas, como podem imaginar, não é o ideal para actividades ao ar livre. Como tal, a nossa actividade de venda de sabores asiáticos vem estando seriamente afectada. O último evento em que participámos ocorreu em inícios de Outubro. Desde então apenas estivemos na Avenida da Liberdade, em Lisboa, numa iniciativa que durou somente um dia.
Trata-se de um evento organizado pela Câmara Municipal da capital, que uma vez por mês tem lugar ao Domingo entre Julho e Dezembro. A ideia traz as pessoas de volta à emblemática avenida, podendo estas passear sem o incómodo dos carros nas suas artérias durante a manhã e parte da tarde.
Denominada “A Rua é Sua”, a iniciativa tem registado uma excelente receptividade e participação por parte de artesãos, vendedores de comida e de outros itens. A população residente e os turistas aprovam a ideia e pedem que a mesma se realize noutras zonas da cidade e um pouco por todo o País, o que na realidade até já vai acontecendo nas principais cidades portuguesas.
Quer isto dizer que embora as condições meteorológicas estejam a levar ao cancelamento de inúmeros eventos, nós não temos estado propriamente parados. Continuamos, sempre que possível, a trabalhar no tal outro projecto sobre o qual já aqui falei há umas semanas. A “roulotte” está quase pronta no que respeita a pinturas, devendo a fase da instalação eléctrica e da aplicação dos equipamentos ter início dentro em breve. Se tudo decorrer conforme o planeado, talvez ainda durante este mês de Dezembro possamos testar o equipamento num evento de pequena escala. Até lá é preciso muita paciência, perseverança e continuar a trabalhar.
Infelizmente, nos últimos dias, o que realmente nos tem dado mais trabalho e mais preocupações tem sido o nosso adorado cachorro – o buldogue francês que muitos de vós conhecem por meio da crónica intitulada “Rota dos 500 anos”, que invariavelmente escrevo sempre que andamos embarcados.
O Nöel, que vive connosco desde 2010 (nasceu a 25 de Dezembro de 2009, em Taiwan), começou a vomitar de forma sistemática há cerca de duas semanas. Dado que no período de dois dias não melhorou, decidimos levá-lo ao veterinário que o acompanha e foi medicado; regressou a casa nesse mesmo dia. No entanto, a situação continuou a piorar: já não bebia água e toda a comida era rejeitada pelo organismo. Regressámos com ele ao veterinário, tendo ficado na clínica para observação.
Segundo nos foi explicado, um dos medicamentos injectados no dia anterior deveria ter parado os vómitos. Chegada a hora de levarmos o Noël para casa, deparámo-nos com uma situação ainda mais complicada. Os sintomas demonstravam que algo de muito pior podia estar a acontecer, pelo que o veterinário esperou que chegássemos para eu o ajudar a tirar um radiografia ao Noël. Examinada a radiografia chegou-se à conclusão que havia uma massa alojada nos intestinos. Sem mais delongas, o médico entrou em contacto com o Hospital Veterinário da Universidade de Coimbra para que o Nöel fosse para lá enviado o mais rápido possível.
Com a ajuda da minha mãe, levei o Noël para o hospital veterinário. Lá chegados, uma médica explicou-nos que teria de ser realizada uma ecografia para só depois definir o que fazer. O prognóstico era bastante reservado, sendo certo que a cirurgia iria demorar algumas horas. Assinei o obrigatório termo de responsabilidade e esperei angustiado pelo fim da cirurgia.
Apesar de sabermos que a cirurgia poderia ser fatal, tentava não pensar na hipótese de perdermos o Noël. Ele faz parte da nossa família; é o amigo mais fiel da NaE e da Maria. Da minha mulher porque o criou desde um mês de idade, quando todos haviam desistido de acreditar que poderia vir a ser um animal saudável, e a Maria porque desde o dia que ela deixou o Centro Hospitalar Conde de São Januário nunca mais o Noël saiu do seu lado. E houve quem tivesse tido a insensibilidade de nos dizer para darmos o cão quando a bebé nasceu… Ainda hoje, quando a Maria chora (a maior parte das vezes por birras), o cão chora com ela!
Ainda a cirurgia não havia terminado e já uma das enfermeiras nos informava que estava tudo a decorrer como previsto, sem qualquer complicação. A dúvida mais séria, e da qual poderia depender o sucesso da intervenção, era a existência de roturas no intestino. Felizmente tal não se veio a confirmar, segundo a médica que efectuou a cirurgia.
Numa das ocasiões que veio falar connosco a enfermeira entregou-nos um pequeno frasco com o objecto que estava alojado no intestino do animal: metade de uma rolha de garrafão! Por sorte, foi uma rolha. Fosse um objecto com arestas mais duras e a recuperação poderia estar comprometida. No dia seguinte fomos visitá-lo e lá estava todo bem-disposto. Da equipa responsável foram-nos dados os melhores prognósticos.
Curiosamente, no momento em que redigia este texto recebi o telefonema de uma enfermeira a informar que o Noël passou bem a noite. A cirurgia teve lugar numa sexta-feira; no dia seguinte ainda vomitou, mas parece que é normal, embora só estivesse a ser alimentado com água e açúcar. No Domingo, dado que estivemos a trabalhar em Lisboa, não o podemos visitar, mas fomos sendo informados pelo hospital sobre o seu estado de saúde. Na segunda-feira voltámos ao hospital e tivemos a feliz notícia de que os resultados da última ecografia foram manifestamente positivos. Esperamos que possa vir para casa o mais rapidamente possível e que junto de nós recupere totalmente. Para já, parece que podemos afirmar que desta está safo. E tudo isto por causa de uma rolha!
João Santos Gomes