ANGELA HUI, PRESIDENTE DO FESTIVAL DE HINOS DE HONG KONG

ANGELA HUI, PRESIDENTE DO FESTIVAL DE HINOS DE HONG KONG, EM ENTREVISTA A’O CLARIM

«Queremos em atmosfera de unidade louvar o Senhor»

O Festival de Hinos de Hong Kong decorreu entre os dias 20 de Novembro e 2 de Dezembro. Com o objectivo de homenagear o Maestro Domingos Lam, este ano o concerto de encerramento foi realizado na Sé Catedral de Macau, com a colaboração da Associação Católica Cultural de Macau. O espectáculo intitulado “Tributo ao Maestro Domingos Lam”, contou com a actuação do Coro Perosi. Angela Hui, presidente do Festival, esteve à conversa com O CLARIM.

O CLARIM – O aparecimento de um festival de música tem sempre uma razão de ser. Neste caso, de onde surgiu a ideia e o conceito?

ANGELA HUI – Foi ideia de um grupo de amantes de música. A intenção é que através da promoção do Festival mais pessoas conheçam os hinos da Igreja. Daí que no planeamento da programação procuremos incluir hinos com interpretações e influências de diferentes culturas, além de incentivar mais jovens a compor com recurso a esta plataforma. Deste modo, podem revelar os seus talentos. Atribuímos à iniciativa o nome “Festival de Hinos” no intuito de, para além dos concertos, serem organizadas palestras e outras actividades por forma a aumentar a compreensão e o interesse de todos pelo repertório oferecido ao público em cada Festival. Além disso, trata-se de um evento de longa duração, isto é, não se trata de um evento momentâneo. A ideia é que o público possa assistir ao Festival num período alargado de tempo. O facto de haver uma continuidade entre o primeiro e o último concerto permite chegar a mais pessoas, permitindo, por exemplo, que amigos de diferentes paróquias, mas com a mesma fé, ou até amigos de outras religiões, se reúnam. Para quem gosta de música, o Festival é também uma oportunidade para todos se relacionarem.

CL – Depreende-se pelas suas palavras que o Festival não se destina apenas aos católicos, mas sim também a outras religiões cristãs, e até não cristãs…

A.H. – As pessoas podem sentir que o Festival está intimamente ligado ao Catolicismo. De certo modo, é verdade, pois o grupo de amigos que é responsável por o organizar é católico na sua totalidade. No entanto, o nosso objectivo é que todas as pessoas, sejam católicas, não católicas ou de outra qualquer religião, assistam aos concertos. No que respeita aos cristãos, claro que há outro saber, e logo outra sensibilidade, em relação ao que nos chega do palco. Para nós, o mais importante, é estarmos centrados em Jesus Cristo. Quer sejamos católicos, protestantes ou anglicanos, todos servimos o mesmo Senhor. Quando em conjunto dizemos “Louvado seja o Senhor” – tema, aliás, de muitas peças musicais – esquecemo-nos por completo se pertencemos a determinada igreja ou denominação. Desde o primeiro Festival, realizado em 2021, que convidamos padres anglicanos. Depois das devidas apresentações, também eles sobem ao palco e cantamos em conjunto. Acima de tudo, queremos criar uma atmosfera de unidade para juntos louvarmos o Senhor e promovermos a Música Sacra.

CL – Falou no ano de 2021. Significa que o Festival arrancou em plena pandemia. Com que dificuldades se depararam?

A.H. – Essa é uma boa pergunta! Sim, somos um projecto que nasceu durante a pandemia. Mas foi precisamente devido à pandemia que mais sentimos necessidade de avançar com esta ideia. Através do evento, tentámos aproximar-nos mais e não perdermos o contacto entre nós, cristãos. Como é sabido, durante a pandemia, muitos tiveram de cumprir quarentena e outros ficaram doentes. Foi um período de grande alienação. Ao mesmo tempo, o Festival fez com que muitos saíssem de casa e socializassem. Na verdade, tivemos de enfrentar muitas dificuldades durante a pandemia. O primeiro obstáculo foi encontrar um local onde se pudesse realizar o Festival, com a agravante de que nunca sabíamos quantos assentos seriam disponibilizados. Recorde-se que o Governo [de Hong Kong] alterava as políticas de resposta à pandemia com muita frequência; umas vezes apenas permitia que se ocupasse metade da sala, noutras ocasiões podíamos ir até aos 75 por cento da lotação máxima. Assim, tornava-se difícil estimar quantos assentos iriam ser ocupados, o que nos complicava em termos de publicidade e venda de bilhetes. Mais tarde, com a melhoria da situação pandémica, acabámos por poder vender oitenta por cento dos lugares. O segundo obstáculo foi a obrigação de todos os cantores terem de utilizar máscara, o que complica a actuação dos intérpretes. Para além de dificultar a respiração, não se conseguem ver os rostos, as bocas (um pormenor muito importante para os maestros), enfim, passa a haver uma barreira entre os cantores, o maestro e o público. Contudo, todos deram sempre o seu melhor, e mesmo com máscara trabalharam duro para alcançarem um bom desempenho. O terceiro obstáculo foi o medo generalizado que se instalava sempre que o número de infectados aumentava. Mesmo que não estivessem infectadas, as pessoas preferiam ficar em casa. Mesmo nos ensaios o número de cantores era menor e vendiam-se poucos bilhetes. Felizmente, a pandemia terminou e tudo voltou à normalidade. Agora, até artistas de outros países podemos convidar; antes só podíamos contar com artistas locais. Este ano, convidámos o primeiro artista estrangeiro, mais precisamente, o padre Ray Kelly, da Irlanda. Subiu ao palco e connosco partilhou vários cantos irlandeses. Ficámos muito contentes por ter estado em Hong Kong e nos ter proporcionado momentos tão agradáveis.

Jasmin Yiu

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