Dogma de Fé

Jesus um génio?

Jesus, neste sentido, não foi, nem é, um “génio”. Trata-se de fé e não de gnose ou de génio. A luz de Jesus Cristo é uma revelação e não uma auto-iluminação de conhecimento esotérico.

O americano Harold Bloom é o autor do bestseller “O Código Ocidental” e reconhecido como um dos maiores críticos literários do nosso tempo. Escreveu, em 2002, o livro “Genins – A mosaic of one hundred exemplary creative minds”, traduzido este ano para Português pela “Círculo de Leitores”, com o título “Génio, os 100 autores mais criativos da história da literatura”.

De entre os génios da literatura portuguesa escolheu Camões, Eça de Queirós e Fernando Pessoa. O pronunciamento sobre estes cem génios varia entre as sete e dez páginas. O livro é de 902 páginas.

O maior de todos os génios é William Shakespeare. Há, portanto, um antes e um depois de Shakespeare. Mas também se agigantam Dante, Cervantes, Goethe, Emerson, Machado de Assis…

Da bíblia hebraica apresenta o génio do “Javista”, autor-redactor anónimo que terá escrito, durante o exílio babilónico, as narrativas e memórias de história e saga dos patriarcas, Moisés, Josué, Samuel, David… O Deus monoteísta deste autor pouco tem a ver com mandamentos e receitas identitárias do judaísmo rabínico. É um Deus carregado de ironia e mistério de vida e acção.

Do Novo Testamento apresenta São Paulo como génio pelo que escreveu e, sobretudo, pelo que fez. Para o autor, Paulo é o verdadeiro fundador do cristianismo universal. É o judeu fariseu esmagado pela Lei de Moisés (como também Lutero), da qual se liberta por um acto de génio na crença da ressurreição: «Ó morte, onde está a tua vitória!».

O autor fala de Jesus com esta afirmação: «A lenda de Jesus é a mais poderosa que o Ocidente conheceu, transcendendo os mitos de Homero, a bíblia hebraica e o alcorão. Apesar da longa história do cristianismo, com a sua enorme variedade de componentes, a lenda baseia-se numa voz: Acendi um fogo na Terra e vigiá-lo-ei até que ele nos ilumine».

O autor refere o texto de Lucas 12, 49 (Par. Mateus 10, 34-36): «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado!» Os conteúdos são bem diferentes.

Harold Bloom afirma-se continuamente como judeu gnóstico e defensor da cabalística judaica. Os gnósticos, à maneira da caverna de Platão, defendem a ideia do homem “carnal-corpóreo”, ser prisioneiro da verdade que nos vem por obra e graça da plenitude da gnose (conhecimento) que reside numa outra instancia extraterrestre. O “carnal” esmaga-se a si mesmo para se abrir ao “espiritual” gnóstico. E é neste processo, mais ou menos consciente, que reside o “génio” do escritor, romancista, poeta, dramaturgo…

Jesus, neste sentido, não foi, nem é, um “génio”. Percebê-lo, compreendê-lo é viver de acordo com Ele. Trata-se de fé e não de gnose ou de génio. A luz de Jesus Cristo é uma revelação e não uma auto iluminação de conhecimento esotérico.

 Frei Joaquim Carreira das Neves

In Mensageiro de Santo António

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