Qual o lugar de Maria na nossa vida?
Todas as pessoas têm alguém por quem nutrem um amor especial. É a sua mãe. Pela mãe temos uma enorme ternura porque nos teve nove meses no seu seio, antes de chegarmos à vida, nos acarinhou nos primeiros anos, aos seis anos nos levou à escola, nos acompanhou nos primeiros amores, quaisquer que eles foram e de quem só nos desprendemos no início de uma vida activa e autónoma. Mesmo nestes termos, a mãe é sempre uma referência nas horas felizes e nas horas de sofrimento. Para o ser humano a mãe é mesmo uma pessoa muito especial. Pode haver excepções, mas são raríssimas.
Foi assim também para Jesus. O Filho de Deus, porque é «em tudo igual a nós excepto no pecado» (Hb., 4,15), teve também uma mãe, profetizada em Isaías: «Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho chamado Emanuel» (Is., 7,14), e anunciada pelo Arcanjo Gabriel, que disse: «Não tenhas medo Maria, porque serás a Mãe do Filho de Deus» (Lc., 1,31), nascido em Belém, numa gruta por não haver lugar na estalagem (Lc., 2,6), depois fugido para o Egipto (Mt., 2,13), mais tarde apresentado no templo (Lc., 2,22) e depois vivendo com a sua mãe na família de Nazaré (Lc., 2,39). Maria, sua mãe, não O abandonou aquando da sua vida pública: encontrámos Maria preocupada com o seu filho Jesus na cidade de Jerusalém; uma vez condenado, Maria acompanhou-O na subida ao Calvário, esteve de pé junto à cruz, acolheu-O morto no seu regaço e ficou serena numa imensa dor até sabê-l’O ressuscitado. Maria, mãe de Jesus, foi sempre uma presença na vida de Jesus em Nazaré, em Jerusalém e no Calvário.
Provavelmente, Maria esteve também no Cenáculo, e, sobretudo, no Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre todos para que a Igreja fosse constituída. Depois disso, acompanhou sempre a Pessoa de Jesus transfigurada na Igreja. Por isso, São Lucas conta as conversas com Maria dando aos crentes o Evangelho da Infância. Ela própria se deu a conhecer para que nos desse a garantia da sua presença na vida de Jesus. Então, se queremos seguir Jesus temos de seguir também Maria, Virgem Santíssima.
À pergunta que me fazem hoje, qual o lugar de Maria na vida de Jesus, eu respondo com São Lucas: Maria aceitou ser na virgindade a Mãe de Jesus, respondendo ao Anjo: «Servirei o Senhor como Ele quiser, faça-se em mim a vontade de Deus». A partir daí o cristão é também ele acompanhado por Maria: tem amor como ela o fez deslocando-se a Ein Karem, ajudando Isabel no nascimento do precursor João Baptista, acompanhando Jesus em todas as situações da vida, até à mais dura, a morte. Por isso invocamos Maria também como Senhora das Dores.
Como deveremos tratá-la? Muitos dizem que a adoram, mas a nossa relação com Maria é a da veneração porque ela não participa da divindade de seu filho. Uma das páginas mais belas do Evangelho é aquela em que Jesus, no Calvário, pendurado na cruz, tem aos seus pés Maria e as outras mulheres que a acompanhavam em Jerusalém. Jesus chamou Maria, dizendo-lhe ao apontar João: «mulher, eis aí o teu filho», e dizendo a João: «filho, eis aí a tua mãe» (Jo., 19,26-27). Desde essa altura, João, encarnando toda a Humanidade, é o filho de Maria. Os cristãos são de uma maneira privilegiada filhos muito queridos de Maria e por isso todo o cristão é mariano. Então visitam-na com a veneração de multidões, quer em Fátima, quer em Lourdes, em Czestochowa, em Éfeso ou em Loreto, quer em todos os santuários marianos, como em Jerusalém, no grande santuário da morte de Maria, a igreja de Dormitio Mariae no monte Sião.
Por tudo isto Nossa Senhora tem um lugar privilegiado no coração e na vida do cristão. Todo o cristão, se é verdadeiramente cristão, tem Maria com Jesus na sua vida.
MONSENHOR FEYTOR PINTO
Antigo sacerdote da paróquia do Campo Grande, em Lisboa. Faleceu no passado dia 6 de Outubro.
In Família Cristã
FOTO:Ivan Leong