A concatedral de Cáceres

DEDICADA A SANTA MARIA

A concatedral de Cáceres

Dentro de alguns dias estaremos de volta à estrada, a fazer aquilo que gostamos (eventos gastronómicos), antes de rumarmos à nossa nova vida.

Agora que o episódio do restaurante de comida tailandesa em Aveiro terminou, fomos convidados a participar no Festival Callejeando Internacional de Cáceres, em representação da Tailândia. Na verdade, foi a terceira vez que nos convidaram, mas só agora aceitámos participar neste que é o maior evento de comida de rua em toda a Europa.

Esta cidade da Estremadura espanhola tem uma história que remonta a muitos milhares de anos e, à semelhança de Macau, também tem o seu centro histórico classificado como Património da Humanidade da UNESCO, desde 1986. Aqui o trabalho de reclassificação, manutenção e promoção é aposta prioritária das autoridades municipais e tal pode ser testemunhado no primor em que se encontra toda a cidade; muito em especial, a área abrangida pela classificação da UNESCO. Esta, já em 1968, havia sido declarada Conjunto Monumental Europeu. A “Cidade Monumental de Cáceres” foi o terceiro local com esta distinção depois de Praga (República Checa) e Talim (Estónia).

Como sabíamos que iríamos participar no evento deste ano, no regresso da última viagem que fizemos ao centro da Europa fomos visitar o parque onde se irá realizar o evento – em 2019, último ano em que foi efectuado, juntou cerca de 75 mil pessoas. E também por sabermos que a cidade partilha com Macau a classificação de Património da UNESCO, decidimos visitar o que todos consideram ser o seu mais emblemático monumento: a Concatedral de Santa Maria.

No sítio oficial do Turismo de Espanha, na secção dedicada a Cáceres, é explicado que se trata da igreja mais importante da cidade, tendo-lhe sido atribuída a categoria de “concatedral” em 1957, partilhando a sede episcopal com a Catedral de Coria.

Foi construída entre os Séculos XV e XVI sobre uma obra anterior. As portadas seguem o modelo gótico e na porta do Evangelho destaca-se um pilar amparando a Virgem. A torre é constituída por três corpos – o central tem um medalhão com um jarrão de lírios, símbolo da Virgem.

O interior é de planta rectangular com três naves, arcos pontiagudos e abóbadas de cruzeiro, de onde se destaca o retábulo do Século XVI, de cedro e pinho, dedicado à Assunção da Virgem. Do lado de fora, existe uma escultura de São Pedro de Alcântara, famosa por trazer fortuna àqueles que lhe tocarem os dedos dos pés. Aliás, a grande adesão dos populares a esta crença contribui para o particular brilho dos pés do santo.

Ao chegar a Cáceres sabíamos que não iria ser fácil visitar a cidade porque as instalações para auto-caravanas ficam todas muito distantes do centro histórico, o que obriga a grandes caminhadas a que o sol da Estremadura não convida. Nunca apanhámos menos de quarenta graus. Ainda assim, ao final do dia e antes da concatedral encerrar, tivemos a oportunidade de nela entrar e apreciar a magnificência do interior do conjunto arquitectónico, que não deixa ninguém indiferente.

A obra de transição do Romântico para o Gótico foi feita apenas com granito, o que lhe dá um aspecto austero, especialmente quando ao seu redor predominam os tons amarelo torrado tão típicos da Estremadura espanhola.

Uma vez dentro do templo e abrigados da canícula do exterior, foram bem visíveis as três naves da estrutura, especialmente a central, a do Evangelho (na foto), e as cinco abóbadas em torno da Capela Maior. Curiosamente, a imponência de toda a infraestrutura não oprime. Antes pelo contrário, cria uma sensação estranhamente acolhedora, que nos faz perder a noção do tempo. Aliás, não fosse um dos seguranças a informar que estavam para encerrar o espaço e ali teríamos ficado largas horas a apreciar o ambiente sereno e fresco que se vive no local.

Aconselhamos todos os que queiram visitar a concatedral que o façam nas primeiras horas da manhã pois merece várias horas para ser bem apreciado.

Pessoalmente, fiquei muito absorvido pela imagem do Cristo Negro, uma escultura ao estilo gótico do Século XV, muito venerada pelas gentes de Cáceres.

O estilo sóbrio e algo austero do exterior do templo contrasta com todo o esplendor do seu interior, embelezado por inúmeros detalhes.

Da visita algo apressada – será pois completada na próxima estada na cidade – ficaram dois locais que queremos visitar com tempo. O primeiro, a Torre do Campanário, a que é possível subir para apreciar todo o conjunto arquitectónico da concatedral e da Cidade Antiga de Cáceres. Desta forma, iremos aferir melhor a importância do legado cultural e da distinção feita pela UNESCO. O segundo, o Museu Diocesano que faz parte integrante do referido conjunto arquitectónico, onde se podem apreciar exemplares de incalculável valor histórico-religioso.

João Santos Gomes

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