Pão ao Pobre
A propósito do padre (brasileiro) que disse a seguinte frase: «se eu dou pão a um pobre, chamam-me santo; se eu pergunto porque é que o pobre não tem que comer, chamam-me comunista», considero que algumas das ilações sobre o crescimento metropolitano acelerado na quinta maior cidade dos Estados Unidos da América, Phoenix – a capital do Estado do Arizona, antes da crise financeira global no final da década passada, podem ter algum interesse para o território de Macau.
Tal como refiro num capítulo do meu mais recente livro, “Walkable Cities Revitalization, Vibrancy, and Sustainable Consumption” (Cidades Pedonais Revitalização, Vitalidade e Consumo Sustentável), publicado pela SUNY Press em Outubro 2019, a intervenção pública não é apenas necessária para criar espaços urbanos de qualidade, ela deve também manter níveis adequados de vitalidade urbana, sem crime e sem o monopólio de interesses fortes que muitas vezes tendem a privatizar e a excluir os cidadãos da esfera pública. Os centros e os bairros mais centrais das cidades passam por ciclos de crescimento, declínio e revitalização, mas nem todos beneficiam de igual modo. Acredito que acabar com a falta de habitação a preços acessíveis deve ser parte integrante do processo de revitalização de áreas urbanas. Entre outros objetivos a revitalização urbana deve primar-se pelo erradicar da pobreza urbana da sociedade e pela resolução da tragédia dos sem-abrigo.
As ilações resultantes da investigação dos sem-abrigo em Phoenix no Arizona traduzem-se em sete conclusões principais: (1) as cidades não devem esconder a falta de habitação para aqueles que apenas possuem parcos recursos e se encontram em situações sociais debilitadas; (2) as cidades devem convidar e receber novos voluntários para programas não-governamentais de ajuda à erradicação da pobreza urbana e à resolução da falta de habitação; (3) as cidades devem dedicar uma percentagem dos fundos públicos para ajudar a combater a falta de habitação social e criar novas habitações a preços acessíveis; (4) as cidades podem também fomentar “empreendimentos de negócios sociais”; (5) as cidades podem ainda implementar práticas de desenho urbano de espaços públicos não discriminatório; (6) as cidades podem e devem fomentar colaborações locais e regionais no âmbito da governança urbana; e finalmente (7), as cidades podem com certeza também desenvolver uma rede de campos de serviços humanos de auxílio aos sem-abrigo de cariz religioso ou secular.
Deste modo a revitalização urbana não será, anos mais tarde, acusada de ter piorado as divisões sociais, regredido o progresso humano, e ter levado à nobilização de áreas centrais que, acima de tudo, apenas beneficiou aqueles que afinal de contas não tinham falta de pão.
Carlos J. L. Balsas
Professor