«Pude constatar o grande trabalho e esforço de missionários de todo o mundo»
O bispo de Macau deslocou-se a Ulan Bator a fim de participar em diversos momentos da visita do Papa à Mongólia. Deste país, D. Stephen Lee trouxe no coração alegria e sentimento pelo esforço dos missionários que servem a minoria de católicos mongóis, e na memória as manifestações de carinho de Francisco para com o povo chinês. A’O CLARIM, o prelado falou um pouco sobre a experiência vivida com outros bispos, sacerdotes e fiéis, e até com representantes de outras religiões.
O CLARIM– Da visita do Papa à Mongólia, qual o momento que mais o impressionou?
D. Stephen Lee –O Santo Padre não é jovem, mas apesar de alguns inconvenientes dispôs-se a passar longas horas a viajar para uma região tão distante; este é um ponto muito comovente e mostra fortemente o seu carinho pelas minorias, o que me deixa muito impressionado. A Mongólia é um país pequeno em termos de população, havendo apenas mil católicos. Esta viagem revelou, de facto, a solidariedade do Papa para com as pequenas comunidades e periferias. Ele vive, definitivamente, o que tem pregado: «na Igreja, ninguém fica para trás!». Também fiquei muito impressionado com os gestos de solidariedade para com o Papa. Estiveram presentes muitos bispos, sacerdotes e fiéis, provenientes de diversos países e regiões da Ásia, incluindo a Coreia, o Vietname, a Tailândia e Hong Kong, e até alguns oriundos do Continente. Demonstra que há plena solidariedade e comunhão com o Santo Padre, e também com as dioceses vizinhas. Em terceiro lugar, também fiquei muito impressionado com o carinho e a preocupação do Papa para com os missionários. Passou uma tarde inteira a conhecer os missionários da região, quase que cumprimentando cada um deles. Agradeceu aos missionários pelo seu esforço e testemunho, e encorajou-os a continuar a sua missão centrada em Jesus Cristo, que é o conceito principal da evangelização. Não esteve muito tempo à conversa comigo, mas as palavras proferidas foram, sobretudo, de encorajamento. Finalmente, outro momento impressionante e comovente foi – como muitos de vós já saberão – o carinho demonstrado pelo Santo Padre para com todo o povo chinês. Na missa de encerramento, tanto o bispo D. Stephen Chow como o cardeal D. John Tong foram convidados a subir ao palco, na qualidade de representantes de todos os chineses. Esta foi uma iniciativa repentina do Papa; não fomos informados antes, apenas durante a Santa Missa. Este gesto mostra completamente o seu carinho, amor e cuidado para com todos os chineses, e o seu desejo de visitar a China.
CL– O Papa convidou-o a estar na Mongólia?
D.S.L. –Na verdade, foi uma iniciativa da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas. Na verdade, a Mongólia aderiu à FABC no ano passado, e o cardeal D. Giorgio Marengo, prefeito apostólico de Ulan Bator, convidou os membros da FABC a estarem presentes com o objectivo de mostrarem o seu apoio e unidade com o Santo Padre. Ao todo, dezassete bispos da FABC estiveram na Mongólia.
CL– Que retrato faz da comunidade católica e da fé católica na Mongólia?
D.S.L. –Em comparação com outros países, a Mongólia é um país pobre e ainda está em fase de desenvolvimento, tal como a comunidade católica. Mas o mais importante é ter podido constatar o grande trabalho e esforço de missionários de todo o mundo que trabalham na Mongólia, como por exemplo os Salesianos, os Missionários da Caridade ou os Missionários da Congregação do Imaculado Coração de Maria. A evangelização na Mongólia é muito difícil, por razões políticas e geográficas. O País, a estrutura social, tem uma forte influência da Rússia. A título de exemplo, a casa salesiana é um edifício patrocinado pelo Governo, logo, os temas relacionados com fé e religião estão proibidos. Tudo o que podem fazer é difundir a fé através das suas obras de caridade. Acredito que a visita do Papa à Mongólia tenha sido um momento de enorme encorajamento para os missionários católicos, para reorientarem o núcleo e o foco da evangelização que é Jesus Cristo, embora seja sempre difícil conseguir fazer aumentar o número de conversões ao Catolicismo.
CL– Esteve presente na reunião inter-religiosa presidida pelo Papa. Que nos pode dizer sobre este encontro?
D.S.L. –Os organizadores convidaram todas as religiões a participarem na reunião. Foi um belo gesto de respeito que contribuiu para fortalecer a nossa motivação. A Igreja Católica é minoritária entre a população mongol e os recursos são muito limitados. No entanto, a Igreja realiza uma reunião para mostrar a fraternidade e respeito pela nação mongol e logo aparecem monges da Tailândia… Também estiveram presentes outros representantes religiosos do Budismo, do Islamismo, do Xamanismo, e protestantes, mórmons, baháʼí, etc.
CL– Na sua opinião, o que fica de mais significativo desta viagem, especialmente para o Papa e para a Igreja na Mongólia?
D.S.L. –Como mencionei anteriormente, penso que o ponto mais importante e significativo desta viagem foi a demonstração da Igreja universal de que está sempre disposta a apoiar as minorias, mesmo a mais pequena das comunidades católicas. Nas palavras do Papa, proferidas na Jornada Mundial da Juventude, “na Igreja, ninguém é esquecido”. A Mongólia não é um lugar muito conhecido, mas também não é um mundo abandonado. Acredito, verdadeiramente, que a presença do Papa demonstrou que a solidariedade para com a mais pequena comunidade católica pode ser plenamente exercida por todos nós.
CL– De um modo geral, como viveu a sua estadia na Mongólia? Que sensações trouxe do País?
D.S.L. –Durante esta viagem tive também a oportunidade de visitar missionários, como o padre Paul Leung, delegado salesiano na Mongólia. Foi um prazer testemunhar o seu trabalho e poder realmente ver como se têm oferecido aos mongóis que vivem nas periferias. De um modo geral, durante a nossa visita, pude sentir os passos dos missionários e os seus testemunhos são realmente muito comoventes.