Um zoológico diferente
Um dia que estava programado para ser de praia, com o tradicional frango de churrasco para almoço, seria a experiência ideal para a mais pequena aqui de casa e ao mesmo tempo uma boa forma de lhe explicar como eram passados os dias das férias grandes quando o pai tinha a sua idade. Mas, como quase sempre acontece com tudo o que é planeado com antecedência e causa muita expectativa, o dia teve de ser alterado à última da hora devido a instabilidade climatérica. No início de Agosto um dia de chuva é algo que mesmo em Portugal não é muito usual. Com o dia de praia estragado havia duas opções: ficar em casa sem grande coisa para fazer ou elaborar planos alternativos e assim proporcionar um dia em cheio à mais pequena e aos pais.
Sem grandes dificuldades, a decisão foi unânime em visitarmos um local que já vínhamos falando há algum tempo. Apesar de ser, peremptoriamente, contra animais fora do seu habitat natural, acedi a que visitássemos um jardim zoológico que ainda não conhecia, mas que muitos falavam ser diferente pela positiva.
A pouco mais de meia hora de viagem de onde vivemos e a uns minutos da cidade do Porto, o Zoo Santo Inácio está localizado em Vila Nova de Gaia, mais propriamente em Avintes; nasceu da ideia de uma família ligada ao grupo Aveleda. É relativamente recente – foi inaugurado em 2000 – mas já recebeu mais de dois milhões de visitantes. Fazendo agora parte de um grande grupo francês ligado a jardins zoológicos e à conservação da natureza, os seus responsáveis apostam num crescimento contínuo, apesar do Covid-19 ter metido um travão nas ambições. Segundo nos foi dito, há planos para acolher um casal de elefantes, mas tal teve de ser adiado devido à situação que se vive actualmente.
À chegada aos terrenos da família Guedes, na encosta virada para o Douro, ficamos com a sensação de chegar a algo que é mais do que um simples local onde se podem ver animais. Ali tudo foi pensado ao pormenor com o objectivo de dar aos visitantes a sensação de estarem numa reserva onde os animais andam à solta. E a verdade é que dentro dos limites de cada recinto, assim o é. Na zona da savana podemos ver girafas a coabitarem com impalas e gnus; mais ao lado existe uma outra zona com um ambiente tipicamente africano, onde estão enormes rinocerontes que partilham um amplo espaço com algumas zebras, em perfeita harmonia. Noutras áreas há lémures, suricatas, capivaras e muitas aves.
Como não podia deixar de ser, a maior atracção são os felinos, que vivem em espaços abertos muito semelhantes ao seu habitat natural. Numa destas zonas foi construído um túnel de vidro que acabou por se tornar numa das atracções mais visitadas, pois os felinos – devido ao conforto que o vidro aquecido pelo Sol lhes proporciona – resolveram fazer daquela estrutura o seu local preferido para as sestas. Como o leitor deverá imaginar, tal permite aos visitantes um momento de proximidade com o animal muito difícil de ter noutras situações. Poder-se-á dizer que andamos – literalmente – por baixo dos leões.
Na área reservada aos tigres da Sibéria está um casal que já teve três crias, sendo que nenhuma delas se encontra no Zoo, dado que foram entretanto enviadas para outro zoo na Europa ao abrigo de um programa de preservação desta espécie. Trata-se de uma prática normal com o intuito de preservar muitas das espécies em vias de extinção, como nos explicaram.
Pessoalmente nunca fui um grande apreciador de animais em espaços fechados para deleite de quem os visita e acho o normal funcionamento de um jardim zoológico algo desumano para os animais. No entanto, e como também considero essencial que as pessoas sejam educadas para a necessidade de se proteger todas as espécies animais, este tipo de zoo mais aberto, sem jaulas e com o máximo de espaço, é um mal menor. Especialmente porque todos os animais que ali estão foram criados em cativeiro desde a nascença e nenhum foi apanhado no seu habitat natural e colocado em exibição.
Durante a visita, apesar de toda a excitação da nossa filha, tivemos sempre o cuidado de lhe ir explicando que apesar dos animais ali parecerem estar contentes e saudáveis eles merecem estar em completa liberdade. E ao passarmos por algum dos animais com um comportamento menos normal, não deixámos de explicar, usando esse mesmo exemplo, que se o animal estivesse no seu habitat natural, em sã convivência com outros animais da sua espécie, não se comportaria dessa forma. Aliás, o exemplo mais flagrante foi uma lontra, espécie muito usual de norte a sul de Portugal que conheço desde a minha infância dos cursos de água em Mira. Estivemos bem mais de meia hora no local, que ficava mesmo ao lado de um bar onde comemos um gelado. Durante todo esse período, uma das lontras, do duo que ali estava, fazia constantemente os mesmos movimentos, entrando e saindo da água. Ora, não deixa de ser um comportamento muito pouco usual nestes animais que em alturas de calor preferem ficar dentro de água a boiar ou em algum local mais fresco.
Os jardins zoológicos como os conheci em criança eram um amontoado de jaulas onde os animais estavam sem as mínimas de condições. Felizmente perece ser coisa do passado, fruto do trabalho de fiscalização realizado pelas autoridades nacionais e internacionais. O resultado está à vista, com os animais a viverem em recintos mais dignos e em ambientes muito semelhantes aos da vida selvagem.
Mais um exemplo é o facto da possível vinda do já referido casal de elefantes só vir a ser uma realidade depois dos responsáveis do Zoo garantirem a reserva de uma área equivalente de 3,5 hectares, sendo que o parque tem oitenta hectares. Só este projecto está orçamentado em mais de dois milhões de euros.
No final do dia ficámos a saber um pouco mais de algumas espécies e do trabalho que é feito no Zoo de Santo Inácio, no sentido de educar as diferentes gerações e assim contribuir para a preservação das espécies animais mais ameaçadas de extinção.
João Santos Gomes