Os padres Yassa e Domingos Santamaria
Integrada no Vicariato Apostólico da Arábia do Norte, a comunidade copta católica no Kuwait conta com mais de cinco mil membros e interage directamente com outras denominações cristãs, maioritariamente constituídas por trabalhadores imigrantes de países asiáticos como a Malásia, o Brunei, Singapura, Indonésia, Filipinas, Sri Lanka, Bangladesh, Índia e Paquistão, bem como cristãos árabes do Líbano (ritos Maronita e Melquita), Egipto (ritos coptas), Jordânia, Palestina e Síria (rito Sírio, Melquita ou Latino). Trata-se de pessoas simples que trabalham arduamente e vivem uma vida de sacrifício para sustentar as suas famílias que deixaram nos distantes países, onde regressam de dois em dois anos para ali ficarem um mês ou dois. Vivem oito ou dez pessoas num mesmo quarto e todos os dias economizam o mais que podem, mantendo escasso intercâmbio social. A catedral da Sagrada Família, na Cidade do Kuwait, é o único lugar onde os “filhos de Cristo” passam algum tempo em espírito de comunhão.
O padre Yassa Ghobrial, à frente da comunidade copta católica no Kuwait, foi este ano, a 5 de Maio, o responsável pelas celebrações da Páscoa de acordo com o Calendário Juliano. Participar nos longos ritos da liturgia copta católica transporta-nos até às origens do culto, ao Século I d.C. São horas de cânticos seguidos, fervorosamente interpretados por todos, miúdos e graúdos, e acompanhados com a queima de incenso e aspersão de água benta.
Ordenado a 10 de Junho de 2000, o padre Yassa serviu como pároco durante quase uma década no Alto Egipto, inicialmente na paróquia da catedral da Divina Misericórdia e depois na da igreja da Virgem Maria. Após um interregno europeu – primeiro na Irlanda e depois em Londres – regressou ao Egipto para paroquiar a igreja de São Jorge, durante um ano, e a igreja de Santa Teresa, nos cinco anos subsequentes. Com tamanho “currículo” não admira que o Patriarcado Católico Copta de Alexandria, Ibrahim Isaac Sidrak, o tenha recomendado ao Vicariato Apostólico da Arábia do Norte, onde o padre Yassa, desde Agosto de 2022, passou a servir a comunidade copta católica no Kuwait.
Mas há uma figura religiosa mais conhecida ainda naquelas paragens: falamos do padre indiano Domingos Santamaria, ordenado sacerdote em Jerusalém, a 27 de Junho de 1970, que vive no Kuwait desde Outubro de 1973. O número de Liturgias e Sacramentos celebrados até a Páscoa de 2024 diz muito acerca do ministério deste sacerdote de origem portuguesa, nascido em Goa: mais de dezoito mil missas, oito mil 140 baptismos e 748 casamentos. Actual responsável-mor pela catedral da Sagrada Família, Santamaria foi o primeiro padre a ser incardinado no Vicariato Latino, e até hoje, na companhia de dez outros sacerdotes, exerce o seu serviço pastoral na maior igreja católica do País sob a liderança do vigário apostólico da Arábia do Norte, D. Aldo Berardi, OSsT.
«Aos 25 anos, fui nomeado pároco da paróquia da Sagrada Família em Crater (Iémen), onde permaneci até ser incardinado aqui no Kuwait», disse o sacerdote católico numa recente entrevista à agência noticiosa do Vaticano. Este goês, uma figura carismática em todo o Vicariato Apostólico da Arábia do Norte, é conhecido como “Padre Pio do Kuwait”, pois passa imenso tempo no confessionário. Também o denominam carinhosamente de “Dom Bosco”, porque quando dá os seus passeios diários rodeiam-no sempre inúmeras crianças e jovens. «Até agora baptizei oito mil 140 crianças e espero baptizar muitas mais ainda. É uma alegria incomensurável poder dar-lhes Jesus», referiu, acrescentando: as pessoas «ouvem-me porque tenho um tom muito claro e falo alto». Todos os dias convida os seus paroquianos a repetir “Jesus-Maria-José”, tantas vezes quanto possível. É por isso que também o apelidam de “sacerdote Jesus-Maria-José”.
Porque ama sinceramente o que faz, o padre Santamaria presta atenção à sua saúde, que mantém através de uma alimentação simples e económica, «sem doces, sem chocolate, sem vinho, sem café».
Tendo permanecido no seu posto durante a invasão do Kuwait pelo Exército iraquiano, o sacerdote goês recebeu um primeiro reconhecimento do Vaticano durante o Pontificado de São João Paulo II; e a 30 de Novembro de 2005 conceder-lhe-ia o Papa Bento XVI a Cruz de Honra “Pro Ecclesia Et Pontifice”. Este prémio, criado em 1888 para marcar o Jubileu de Ouro do Papa Leão XIII, é concedido em reconhecimento ao serviço prestado à Igreja e ao Papado.
A Igreja Copta Católica é uma Igreja Católica “sui iuris”, de Rito Alexandrino, com título de Patriarca e em comunhão com a Igreja de Roma. É no Egipto – com 115 milhões de habitantes – que encontramos a sua maior expressão: trezentos mil crentes distribuídos por nove dioceses. Uma gota de água se comparada com os treze milhões de coptas ortodoxos, mas a igualar os protestantes, que também contam com trezentos mil fiéis. No universo católico do Egipto, após os coptas, os mais numerosos são os católicos de Rito Latino, que incluem grupos de refugiados sudaneses. Em Maadi existe um Seminário copta católico com 23 seminaristas e muitas escolas católicas.
Joaquim Magalhães de Castro