Laudato si’ reforçou mensagem científica em prol do planeta

COP27: GUERRA NA UCRÂNIA ENSOMBRA CIMEIRA DO CLIMA DAS NAÇÕES UNIDAS

Laudato si’reforçou mensagem científica em prol do planeta

Publicada em 2015 pelo Papa Francisco, a encíclica Laudato si’ teve o condão de reforçar a mensagem científica de que é preciso agir para evitar uma catástrofe climática. Quem o diz é Nuno Bento, investigador integrado do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) com um doutoramento em Economia pela Universidade de Grenoble.

Especialista em economia ambiental e energética e em políticas de mudança climática, Nuno Bento lamenta o impasse que se apoderou das negociações sobre as questões climáticas e os poucos avanços registados desde que o Acordo de Paris foi adoptado em 2015. «Este longo impasse prolongou uma trajectória insustentável de emissão de gases com efeito de estufa que é responsável pela subida de 1,15 graus Celcius das temperaturas médias globais face ao início da Revolução Industrial. Já estamos a presenciar alterações dramáticas em termos de picos de calor mais frequentes, secas prolongadas e fogos florestais, para dar alguns exemplos», começou por referir o investigador português, acrescentando: «Em suma, algumas das previsões sobre os efeitos das alterações climáticas estão já aí e a causa deste fenómeno, o aumento das emissões de gases com efeito de estufa originados pela actividade humana e mais precisamente pela combustão de energias fósseis, ainda não foi atacada devidamente».

A problemática das alterações climáticas está uma vez mais na ordem do dia, com a realização no Egipto da COP27. Na edição de 2022 da Cimeira do Clima das Nações Unidas, uma das discussões mais relevantes passa pela criação de um fundo para perdas e danos e pelo estabelecimento de um mecanismo de financiamento que permita que os países mais desenvolvidos possam compensar os países mais pobres e mais afectados por fenómenos extremos. A crise global causada pelo conflito na Ucrânia pode dificultar a obtenção de consensos e atrasar mais ainda um processo que se tarda a afirmar. «As políticas existem, mas são claramente insuficientes. Desde logo, não parecem alinhadas com o objectivo de cortar cerca de metade das emissões até 2030 para visar a neutralidade carbónica em meados do século», sublinhou Nuno Bento. «Por exemplo, na Europa como em Portugal, teríamos de começar a preparar alterações significativas em áreas como a habitação, mobilidade, indústria ou alimentação para serem introduzidas no prazo de três a cinco anos, mas vemos muita discussão sobre melhorias incrementais que não colocam em causa a organização actual das actividades nesses sectores», defendeu.

A forma mais fácil de fazer frente ao desafio do aquecimento global, admitiu Nuno Bento, poderá passar pela tomada de consciência de que os desafios ambientais constituem uma ameaça para todos e cada um de nós, uma mensagem que se prefigura como essencial no âmbito da carta encíclica Laudato si’, publicada pelo Papa Francisco no mesmo ano em que foi assinado o Acordo de Paris. «O cuidado da Casa Comum deve ser uma preocupação de todos, independentemente das nossas crenças. A publicação desta encíclica teve uma importância muito grande para reforçar a mensagem científica de que é preciso agir para evitar uma catástrofe climática. Repare que a Encíclica foi publicada em 2015 e a mensagem continua actual e com repercussão – ao contrário dos epifenómenos que se sucedem e desaparecem na propagação da mensagem climática», disse o docente.

M.C.

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