CARDEAL D. JOHN HENRY NEWMAN É CANONIZADO ESTE DOMINGO
Um cristão ao defender que o aborto é sempre mau em todas as circunstâncias e que o casamento é só entre um homem e uma mulher, poderá ser um bom político e de confiança para os Governos?
Esta questão não é nova, e com este problema se debateu, há 150 anos, o cardeal D. John Henry Newman (1801-1890), sacerdote anglicano inglês convertido ao Catolicismo, nomeado cardeal pelo Papa Leão XIII em 1879, beatificado em 19 de Setembro de 2010, em Birminghan (Inglaterra), por Bento XVI, que na homilia recordou o seu lema “Cor ad cor loquitur” – “O Coração fala ao coração”, citando um pequeno trecho dos seus escritos: “O hábito da oração, que é a prática de se dirigir a Deus e ao mundo invisível em cada época, em todos os lugares, em qualquer emergência, a oração, digo, possui aquilo que pode ser chamado um efeito natural no espiritualizar e elevar a alma. Um homem já não é o que era antes; gradualmente, interiorizou um novo sistema de ideias e tornou-se impregnado de princípios límpidos”.
Newman considerava a consciência como a voz de Deus falando ao coração de cada pessoa, ajudando-a a actuar de forma justa. Esta visão da consciência é muito diferente da que têm habitualmente a ciência, a literatura e a opinião pública, nos nossos dias. Ela está fundamentada na doutrina que considera a consciência como a voz de Deus, enquanto agora o “politicamente correcto” é considerá-la como um mero produto ou capricho construído pelo homem.
Newman defendeu a existência de uma consciência pessoal, mas não subjectiva, pelo que os católicos deveriam segui-la sabendo que esta tinha de ser orientada pela Fé. Sendo Deus omnipotente é também a Verdade e o Bem, logo a consciência não é arbitrária e com o estudo e o uso da razão pode ajudar-nos a discernir na procura do bem e da verdade, quer na vida real quer na política. Por conseguinte, nas questões morais, a Igreja só nos recorda o que a consciência adequadamente formada deve conhecer por si mesma.
Esta visão de Newman sobre a consciência implica que um cristão deva estar movido por uma consciência rectamente informada para actuar segundo um modelo mais elevado, quer na vida privada quer na pública, pois assim terá um sentido mais claro do que está bem ou está mal, do que é bom e verdadeiro. O seu próprio juízo de consciência leva-o a actuar de acordo com as regras divinas, a plasmar-se no criador e não a submeter-se a ideologias do poder ou das massas.
Profundamente subversivo para uns, terrivelmente actual para outros, a visão da consciência para Newman foi um caminho doloroso que o levou à Santidade, sendo canonizado este Domingo, 13 de Outubro, pelo Papa Francisco, na Praça de São Pedro, em Roma.
Susana Mexia
Professora