IGREJA NO CONCELHO DE LOURES É OBRA DE AFAMADOS ARTISTAS
Sempre que vos escrevo sobre as nossas andanças por Portugal faço-o de forma retrospectiva. Pois hoje também será assim. Há já alguns dias fizemos uma viagem desde o Norte, em Paredes de Coura, até ao Sul, que terminou em Moscavide, no Concelho de Loures.
Se muito recentemente escrevi sobre Guimarães e acerca da nossa passagem pela vila que serve de palco ao festival de música mais antigo de Portugal, desta vez debruço-me sobre a vila de Moscavide – mais concretamente sobre uma paróquia que a mim, desde a infância, me é sentimentalmente próxima. Ali viviam, e ainda hoje vivem, uns amigos de família.
Participámos em mais um evento de cariz vegetariano, realizado nas antigas piscinas dos Olivais, e pernoitámos em Moscavide. É desta freguesia de Loures que guardo memórias de infância, mas que não visitava há mais de duas décadas. Muito mudou e a vila de Moscavide é hoje, na minha opinião, uma das zonas mais aprazíveis da Área Metropolitana de Lisboa.
Quanto ao evento em que participámos, pouco haverá a dizer: apenas que foi pouco frequentado pois destinou-se somente a umas dezenas de pessoas que participaram num “workshop” sobre água e vida saudável. Já sobre a nossa estada em Moscavide, além da boa comida com que fomos presenteados e das pessoas que nos receberam de braços abertos, gostaria de salientar a imponente igreja de Santo António de Moscavide. Por mera infelicidade, devido ao horário da nossa actividade profissional, nunca encontrámos a igreja de portas abertas. Ainda assim, o seu exterior e toda a zona envolvente deixou-nos muito surpreendidos. A igreja, dedicada ao santo padroeiro da cidade de Lisboa, Santo António, fica bem no centro da vila, que dificilmente se consegue distinguir da zona urbana da capital portuguesa, tendo o Parque das Nações como vizinho. Com os arranjos efectuados nos anos mais recentes ganhou uma nova face, o que melhorou a qualidade de vida dos residentes do bairro onde a igreja se encontra.
Se o edifício em si não é muito exuberante, já a torre sineira, localizada junto à estrada e separada da estrutura principal, não deixa ninguém indiferente. Podem alguns não ficar surpreendidos com a configuração da torre sineira, mas não ficarão certamente insensíveis ao bater das horas! É uma torre com quase dez metros de altura, detentora de linhas muito elegantes e que ostenta uma cruz de cada lado ocupando toda a fachada, encimada por um conjunto de sinos que a cada hora brindam os residentes com a mais maravilhosa melodia. Por cima de cada cruz foi colocado um relógio. Durante o tempo que estivemos em Moscavide acordámos sempre com um sorriso nos lábios, com os sinos a bater as oito horas da manhã.
Uma pesquisa rápida sobre a igreja permite-nos partilhar com os leitores que a igreja data da década de sessenta do século passado e que a sua construção foi decidida logo após a elevação de Moscavide a freguesia (e paróquia) em 1949. A autoria é do arquitecto António Freitas Leal, sendo que a azulejaria na fachada do edifício foi pintada por Manuel Cargaleiro, na época ainda pouco conhecido. Desde a década de oitenta que o comendador Manuel Cargaleiro tem levado o nome de Portugal a todo o mundo com as suas obras em azulejo e tela. Na lista dos nomes responsáveis pela existência da igreja de Santo António não podemos deixar de referir o autor da estátua do santo padroeiro, esculpida em pedra de Ançã. Esta obra, que apenas conheço de fotografias, ficou a cargo do não menos conhecido escultor Lagoa Henriques. Infelizmente já falecido em 2009, Lagoa Henriques ficará para sempre na história como o autor da escultura do poeta Fernando Pessoa que se encontra em frente ao café “A Brasileira”, na baixa lisboeta, para além – claro está – de inúmeras outras obras marcantes.
A vila de Moscavide, hoje localizada no Concelho de Loures, foi capaz ao longo dos últimos anos de contornar a normal confusão que se vive em qualquer grande cidade. Actualmente está mais ordenada em termos urbanísticos, permitindo um estilo de vida muito aprazível, para o qual muito contribuiu a construção do Parque das Nações em resultado da requalificação da zona ribeirinha para a realização da EXPO’98. É uma área com muita vida, sendo os seus residentes de longa data, pelo que toda a gente se conhece e cumprimenta com “boa dia”, “boa tarde” ou “boa noite”, hoje algo pouco frequente nas sociedades modernas.
Quando se trata de eventos mais direccionados a um determinado público, como aconteceu em Paredes de Coura, as nossas horas de trabalho são mais reduzidas e não se prolongam noite fora. Daí que ao final do dia, por volta das seis horas da tarde, aproveitávamos para “dar uma volta” no centro de Lisboa, junto ao rio Tejo, não deixando nós de subir aos bairros mais tradicionais, como Alfama ou o Bairro Alto, antes de rumarmos à base em Moscavide. Esta também outra das razões porque nunca apanhámos a igreja aberta.
Entretanto, no final de uma tarde de sábado, depois de jantarmos no Martim Moniz, andámos a pé até ao Terreiro do Paço, e dali até Alfama e ao Panteão Nacional, que nunca tinha visto à noite. Parámos no conhecido “Ferroviário” para retemperar forças ao sabor de um copo de vinho de Lisboa, enquanto apreciávamos a vista para o Tejo numa noite de Outono muito agradável. A caminhada continuou pelo Museu Nacional do Azulejo, que estava fechado devido ao tardio da hora, por Xabregas e pelo Beato. Foi então que decidimos regressar a Moscavide de comboio.
A estação do Braço de Prata foi em tempos o coração ferroviário da zona oriental de Lisboa, onde a maioria dos negócios se concentrava, mas nos últimos anos com o metropolitano e a melhoria da rede de autocarros entrou em declínio. Felizmente, “novo sangue” tomou em mãos alguns dos conhecidos restaurantes e tascas, o que deu nova vida às artérias circundantes. E foi mesmo por ali, no “Gaveto”, um dos mais conhecidos locais para comer boa comida em Moscavide, que acabámos por comer camarão e lingueirão (navalhas), acompanhados de bom vinho tinto e pão com alho, antes de rumarmos ao quarto que nos acolheu durante a nossa curta passagem por terras tão acolhedoras.
Ficámos bem impressionados com tudo o que vimos, ouvimos e saboreámos, pelo que esperamos em breve poder regressar. Até porque os nosso amigos e anfitriões merecem que os voltemos a visitar.
João Santos Gomes