Encontro de Culturas sob o Manto Mariano
A Igreja Católica em Macau assinala esta sexta-feira, 12 de Fevereiro, o primeiro dia do Ano Novo Chinês, unindo-se a Nossa Senhora Padroeira da China. Desta forma, a Igreja pretende encomendar os fiéis para mais um Ano Lunar aos cuidados da Mãe do Salvador. Sendo o ex-librisdo território a fachada “Mater Dei” (Mãe de Deus), e pela fervorosa devoção a Nossa Senhora de Fátima, poder-se-á dizer que Macau é terra de Maria Santíssima. Recordamos que hoje, 11 de Fevereiro, a Igreja Católica celebra Nossa Senhora de Lourdes.
Estando os fiéis católicos de Macau intimamente ligados à cultura chinesa, seja por laços familiares ou pela já longa presença nestas paragens, aquando da entrada no Ano Novo Lunar unem-se, a bem dizer, à Virgem Maria que também agraciou a China, mais precisamente a vila de Donglu, com aparições hoje centenárias.
Neste âmbito, O CLARIMrecorda a história destas aparições e de como na China se propagou a devoção a Nossa Senhora e seus santuários. Os dois locais marianos mais visitados e conhecidos na China são: Donglu, a sul de Pequim, e Sheshan, em Xangai – este último é um forte ponto de atracção de peregrinos desde 1920. No entanto, o título de Nossa Senhora da China não foi usado inicialmente em Xangai, mas na vila de Donglu, local de peregrinação no Norte da China, na diocese de Baoding, em Hebei.
Em 1924, o delegado apostólico na China, arcebispo D. Celso Costantini, convocou o primeiro Concílio da China em Xangai. Uma das principais resoluções do Conselho foi elevar a devoção a Nossa Senhora na Igreja da China. A Mãe de Deus de Donglu foi considerada o retrato-padrão de Nossa Senhora da China. Desde então, a igreja da Virgem Santíssima em Donglu tem sido um importante local de peregrinação para os católicos.
AS APARIÇÕES EM DONGLU
Nossa Senhora da China é o nome dado à Santíssima Virgem Maria que apareceu pela primeira vez na vila de Donglu, em 1900, na época da “Rebelião dos Boxers”.
De acordo com o padre Jean Charbonnier, sacerdote da Sociedade para as Missões Estrangeiras de Paris, em Junho de 1900, quarenta mil boxers atacaram a vila de Donglu, que fica a cerca de 150 quilómetros a sul de Pequim. Cerca de setecentos cristãos, juntamente com mais de nove mil refugiados, organizaram a sua defesa. Quatro vezes os boxers os atacaram e quatro vez foram derrotados. Segundo consta, a vila sobreviveu a todos os ataques com poucas baixas.
Vários boxers tornaram-se cristãos em sequência do que viveram e presenciaram. Relataram que aquilo que mais os assustou foi uma Senhora de Branco, que frequentemente aparecia no alto do lugar. Sinal claro, pensavam eles, de que quem entrasse na aldeia não sairia com vida.
Os cristãos acreditaram que foram as aparições da Virgem Maria que salvaram a comunidade fiel do seu inimigo. Começaram então a adoração a Nossa Senhora na enorme igreja da aldeia.
A Virgem Santíssima apareceu vestida de branco acompanhada por uma multidão de anjos e um cavaleiro impetuoso (acredita-se ser São Miguel Arcanjo) que expulsou os inimigos.
A aprovação do facto miraculoso pelas autoridades eclesiásticas ocorreu em 1924, em Xangai, por ocasião do Sínodo dos Bispos Chineses. O bispo jesuíta D. Henri Lecroart propôs que a China fosse consagrada a Nossa Senhora, sob a invocação de Nossa Senhora Imperatriz da China. O pastor de Donglu, padre Wu, encomendou então uma pintura da Virgem Maria a segurar ao colo o Menino Jesus, vestido com mantos imperiais dourados. Esta pintura tornou-se a imagem de Nossa Senhora, Rainha da China. A imagem foi abençoada e promulgada pelo Papa Pio XI em 1928.
O SANTUÁRIO DE SHESHAN
O santuário dedicado a Nossa Senhora em Sheshan está localizado no distrito de Song Jiang, próximo da grande metrópole de Xangai; é dedicado a Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos de Sheshan. É um dos santuários de peregrinação mais visitados na China.
Curiosamente, Xangai é a cidade natal de Xu Guangqi, considerado um dos três pilares do cristianismo laico no Século XVI.
Em 1863, o então superior da comunidade jesuíta de Xangai comprou a encosta sul da montanha de Sheshan, com uma bela paisagem em que se avista a floresta de bambu. Nesse local foi edificada uma casa de retiro para padres jesuítas, com uma pequena capela ao lado, e deu-se início à construção do santuário. No dia 1 de Março de 1868, o bispo de Xangai, D. Adrien Languillat SJ, consagrou a capela e benzeu a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos.
Volvidos mais de vinte anos, em 1894, no meio da montanha, os católicos construíram a igreja de Zhong Shan (que significa, precisamente, “no meio da montanha”), dedicada a Nossa Senhora como Medianeira. Pouco depois deste acontecimento, foram erguidas três capelas, respectivamente dedicadas à Virgem Maria, a São José e ao Sagrado Coração de Jesus.
A razão pela qual uma pequena capela acabou por ser reconstruída, tornando-se numa enorme basílica, varia de acordo com diferentes fontes.
A basílica de Sheshan foi construída em 1935 e escolhida para ser a primeira basílica no Extremo Oriente, pela mão do Papa Pio XII, em 1942. Uma estátua de Nossa Senhora foi colocada no topo da estrutura. Durante a Revolução Cultural a estátua e a basílica foram destruídas e o espaço confiscado pelo Governo local.
Em Maio de 1981, o Governo Popular de Xangai devolveu a basílica de Sheshan à diocese de Xangai. A basílica viria a ser renovada na década de 1980 e a estátua substituída no topo em 2000.
Depois de várias obras de restauração e ampliação, o moderno santuário dedicado a Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos de Sheshan apresenta uma arquitectura de estilo romano, com 56 metros de comprimento, 25 metros de largura e 17 metros de altura, com uma torre sineira de 38 metros. No topo das torres sineiras está colocada uma estátua de bronze da Virgem Maria – pesa duas toneladas e tem 3,87 metros de altura. A basílica de Nossa Senhora de Sheshan tem capacidade para três mil fiéis e ostenta o título de ser a primeira basílica da Ásia Oriental.
Desde a consagração da igreja em honra da Mãe de Deus por D. Languillat no topo da montanha, Nossa Senhora de Sheshan tornou-se a protectora especial da diocese de Xangai.
Todos os anos, nos dias 1 e 24 de Maio, a basílica acolhe um avultado número de peregrinos, não só da China mas também de outros países da Ásia.
Miguel Augusto
com Agência Fides e Sunday Examiner