O Pentecostalismo – XII
Falar de Pentecostalismo é falar de inúmeras dissidências, divisões, denominações e grupos. São centenas, senão milhares, todas as divisões deste tronco pentecostal. Cada uma destas ramificações é também um fenómeno multiplicativo, integrando milhares de templos e comunidades, cada qual com uma série de fiéis. O fenómeno, no entanto, no seu todo, tende a crescer e a multiplicar-se nas denominações.
Assim, por exemplo, de acordo com um censo efectuado no seio da denominação em 2020, a Assembleia de Deus, a maior denominação pentecostal do mundo, tem 368 mil 703 igrejas e 55 milhões e 500 mil membros, embora nos meios pentecostais se refira setenta milhões de membros. As outras grandes denominações pentecostais internacionais são a Igreja Apostólica com quinze milhões de membros, a Igreja de Deus (sede em Cleveland) com 36 mil igrejas e sete milhões de membros, além da Igreja Foursquare (com sede em Los Angeles) com 67 mil e 500 igrejas e oito milhões e 800 mil membros. Estas denominações estão presentes em pelo menos 150 países do mundo, em média, senão mais em algumas delas.
De acordo com o “Pew Research Center”, o Pentecostalismo em 2011 contava 279 milhões de pessoas. No entanto, os movimentos carismáticos que são inspirados pelo Pentecostalismo, mas que são fiéis à teologia e à organização de outras igrejas cristãs (protestantes, principalmente), contam, segundo o PEW, com cerca de 305 milhões de seguidores. Mas somando todos os grupos de cristãos de matriz pentecostal, na actualidade as estimativas apontam para cerca de seiscentos milhões de fiéis (muito mais, seguramente), ou seja, cerca de 27 por cento dos cristãos no mundo e por volta de nove por cento da população mundial, números provavelmente maiores, mas seguramente em crescimento.
PENTECOSTALISMO GLOBAL
É de facto cada vez mais avassaladora a presença global do Pentecostalismo. Em 2020, a presença das denominações pentecostais em cada continente tende a crescer ainda mais. Vejamos alguns exemplos. Em África, temos o caso da Igreja Cristã Redentora de Deus, que conta já com catorze mil igrejas e cinco milhões de membros. Na América do Norte, as Assembleias de Deus nos Estados Unidos contam com doze mil 986 igrejas e um milhão 810 mil e 93 membros. Na América do Sul, a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil – uma das mais importantes e poderosas organizações pentecostais – regista doze milhões de membros. Na Ásia, a Igreja Bethel, de origem indonésia, possui cinco mil igrejas e três milhões de membros, não apenas na Indonésia, atente-se. Na Oceânia, as Igrejas Cristãs Australianas, por exemplo contam com mil igrejas e 375 mil membros.
No último censo efectuado no universo das Assembleias de Deus, em 2020 (sem contar a América do Norte) existiam em África 18,7 milhões de fiéis em 87 mil 741 igrejas; na Ásia-Pacífico 6,3 milhões de membros em 33 mil 248 igrejas; na Eurásia (Europa + Rússia) 1,9 milhões de crentes em 33 mil 248 igrejas; na Europa ocidental e meridional 1,5 milhões de seguidores em dez mil 636 igrejas. A finalizar, na América Latina e Caraíbas contaram-se, em 2020, 27,2 milhões de fiéis em 210 mil 539 igrejas, provavelmente a área onde maior crescimento se regista actualmente.
Em cada 62 segundos, adere um novo crente às Assembleias de Deus, como em cada sessenta minutos, um novo ministro é incorporado. A cada 1,3 horas, uma nova igreja é estabelecida. Esta é a dinâmica das Assembleias de Deus no mundo, a qual se compagina perfeitamente com o universo pentecostal, cujas estatísticas são também muito dinâmicas. O impacto global do Pentecostalismo é cada vez maior, com uma crescente pegada organizacional, além de financeira e assistencial.
Pentecostais e carismáticos, designações que se confundem porque da mesma matriz, são no todo um grupo bastante amplo e diversificado, compreendendo 26 por cento de todos os cristãos em todo o mundo, de acordo com o relatório de 2020 do “Center for the Study of Global Christianity”, com uma presença crescente no mundo em desenvolvimento.
Mas, curiosamente, nos Estados Unidos, onde nasceu o Pentecostalismo, o movimento não é dominante nem regista um crescimento como noutras regiões do planeta. O pentecostalismo global tem historicamente as suas raízes nos Estados Unidos, todavia, apesar do crescimento em todo o mundo, como nos próprios Estados Unidos (embora não tão expressivamente), continua a ser o protestantismo evangélico que domina no País. Alguns estudos referem até que o evangélico americano já não se afilia muitas vezes, além de manifestar a sua dissociação em relação ao Pentecostalismo ou às formas carismáticas do Cristianismo. Todavia, muitos dos missionários pentecostais são de origem americana. Os pentecostais e carismáticos têm sido também mais propensos a envolverem-se em evangelismo e publicação no exterior, no que designamos como “missão”, enquanto que as agências evangélicas são mais propensas a evangelizar através da televisão e da rádio, meios em que têm consolidado as sua posição e atingido níveis de audiência bastante relevantes. O fenómeno dos “mass media” tem sido mais evidente no Novo Mundo, embora esteja a crescer noutras regiões planetárias.
Os pentecostais estão também a ir para “além” do seu nome ou conceito matricial, estamos, pois, no tempo em que mais de um quarto da igreja global se enquadra num novo e propalado rótulo: “Cristianismo empoderado [empowered] pelo espírito”. Alguns sociólogos do fenómeno religioso têm recentemente sugerido a importância das diferenças dentro do campo evangélico (um dos três do Protestantismo, além do tradicional/ histórico e do denominado “protestantismo africano”), entre pentecostais/carismáticos, evangélicos e fundamentalistas, enquanto categorias-chave. A diversidade dentro de cada grupo é cada vez maior, esbatendo muitos dos estereótipos tradicionais dos pentecostais e carismáticos. Muitos afirmam também que as diferenças entre grupos evangélicos e pentecostais/carismáticos em termos do que fazem e onde operam podem mesmo vir a ter implicações para a sobrevivência dos seus ministérios internacionais num futuro próximo.
Contudo, apesar de algumas restrições de alguns Governos em certos países, ou mesmo oposição de outras confissões cristãs, mesmo evangélicas (estas no Protestantismo), os pentecostais e carismáticos têm tido mais sucesso em aprofundar a fé dos protestantes activos em ou desencadear uma nova prática naqueles que estavam em hibernação espiritual, ou seja, que eram apenas cristãos estatísticos. A América Latina tem sido uma das regiões onde as denominações pentecostais/ carismáticas mais têm lavrado o seu terreno missionário, obtendo a maior fatia de conversões, a par de África, onde estão a “explodir” em termos de efectivos e de influência social e caritativa.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa