CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CCXIV

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CCXIV

Adventistas do Sétimo Dia – XI

O comportamento e a ética nos Adventistas do Sétimo Dia são levados muito a preceito. O estilo de vida adventista é simples e, para os padrões seculares, é considerado bastante puritano. Os Adventistas consideram esse tipo de comportamento como benéfico e profundamente recompensador, definindo o seu modo de vida.

A vida saudável, ligada ao comportamento e modo de vida, é outro imperativo dos Adventistas do Sétimo Dia (ASD). Como já vimos, a saúde pessoal é referida e enfatizada especificamente na doutrina adventista, que recomenda aos seus fiéis que considerem os seus corpos como se fossem templos do Espírito Santo. Os adventistas, de facto, acreditam que o que é bom para o corpo é bom para a alma e vice-versa, sendo instruídos ao longo da vida de que é um dever religioso a observância das leis da saúde, tanto para o próprio bem-estar e felicidade de cada crente como para um serviço mais eficiente a Deus e ao próximo.

Ellen G. White, nesse sentido, assim defendeu: “Tanto o vigor mental como o espiritual dependem em grande parte da força física e da actividade; tudo o que promove a saúde física, promove o desenvolvimento de uma mente forte e de um carácter bem equilibrado”. Uma das maneiras pelas quais os adventistas se tentam manter saudáveis é através da prática de uma dieta saudável, seguindo as regras alimentares estabelecidas em Levítico, 11. Uma dieta vegetariana é por isso recomendada, mas não é exigida. Recordemos, neste âmbito, a popularização dos cereais ao pequeno-almoço, uma invenção do adventista John Harvey Kellogg, que com os seus flocos de milho substituiu os tradicionais e calóricos ovos e bacon. Por outro lado, os adventistas não usam álcool, tabaco ou drogas recreativas. A saúde, refira-se, tem um vincado propósito missionário e também individual. Os adventistas acreditam que “é desígnio do Senhor que a influência restauradora da melhoria de saúde seja parte do último grande esforço para a proclamação da mensagem do Evangelho”, conforme declara solenemente o Ministério Médico, uma espécie de guia de saúde dos ASD.

O QUOTIDIANO

No vestir se vê também o rigor e simplicidade de um adventista. Vestem-se com recato e discrição, seguindo a orientação da sua igreja, que determina: “O vestuário deve ser simples, modesto e elegante, adequado àqueles cuja verdadeira beleza não consiste em adornos exteriores, mas no ornamento imperecível de um espírito manso e quieto”, conforme está plasmado no “Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia”, outra publicação essencial na vida de um adventista.

Mas, atenção, os ASD não adoptam um estilo de vestir antigo, como os Amish, por exemplo, preferindo usar estilos conservadores e que consideram sensatos e de bom gosto de acordo com os seus preceitos, que são aliás comuns em qualquer época. Ou seja, não chocam nem regridem no “dress code”, antes estão no estilo corrente, mas de forma simples e contida. Como referem alguns, não são “os primeiros a adoptar os novos estilos ou a moda, nem são também os últimos a pôr os estilos antigos de lado”… As roupas são escolhidas pela sua durabilidade, desaconselhando-se vivamente a “ornamentação abundante” e a “exibição espalhafatosa”, que aliás são mesmo inaceitáveis para a maioria dos ASD. Outro aspecto relevante: os adventistas não usam joias ou adornos, excepto a aliança de casamento.

No que concerne ao entretenimento, mantêm um registo de contenção. Rádio e televisão: são correntes, mas privilegiam os programas educacionais, as notícias e actualidades, bem como programas de música clássica ou erudita. Os adventistas evitam programas que não sejam “saudáveis nem edificantes”. O teatro e o cinema têm, porém, já algumas restrições. Com efeito, os adventistas são aconselhados a não irem ao teatro, cinema (ou, presumivelmente, assistir a vídeos, canais na Internet, DVDs), que a par de outros entretenimentos são considerados por eles como parcialmente responsáveis pelo “pobre estado moral do mundo”. Dançar em ambientes públicos, de forma social, não é permitido. Na música, as regras existem também: algumas músicas são de grande valor, enquanto outras formas de música são consideradas como perigosas, recomendando-se muito cuidado na escolha da música. Qualquer melodia que comungue na natureza do jazz, rock ou formas híbridas relacionadas, ou qualquer linguagem que expresse sentimentos “insanos ou triviais”, deve ser rejeitada por pessoas de verdadeira cultura, como se consideram os ASD. Assim recomenda, uma vez mais, o “Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia”.

O mesmo Manual aborda também o que se deve ter em conta quanto a eventos sociais. Assim, estabelece um código de prática para os mesmos, que deverão ser por norma realizados em casas de família, em vez de locais comerciais de entretenimento.

As reuniões sociais para os mais velhos e para os jovens, recomenda o mesmo Manual, devem ser ocasiões não para divertimento “banal e insignificante”, mas para uma “feliz comunhão e aperfeiçoamento das faculdades da mente e da alma”.

Posto isto, que haja então boa música, conversas animadoras, bons recitais ou performances artísticas sãs, imagens estáticas ou em movimento adequadas, jogos cuidadosamente seleccionados pelo seu valor educacional e, acima de tudo, a “(…) elaboração e o uso de planos de esforço evangelístico (missionário) podem fornecer programas para encontros sociais que abençoarão e fortalecerão a vida de todos”. O Manual assim estipula.

Depois vem o comportamento sexual. Os adventistas consideram que adoptam os mais altos padrões de comportamento sexual. Sexo fora do casamento é proibido e espera-se que os pais acompanhem as reuniões entre os jovens. Espera-se que os jovens, por sua vez, assumam a responsabilidade de evitar encontros sexuais. O adultério, as práticas homossexuais em ambos os géneros, o abuso sexual dentro do casamento, o incesto e o abuso sexual de crianças são proibidos pelos ASD. A pornografia deverá ser evitada.

No casamento, a união monogâmica de um homem e uma mulher é afirmada como o fundamento divinamente ordenado da família e da vida social e o único local moralmente apropriado de expressão sexual genital ou íntima relacionada, refere-se numa declaração oficial dos ASD sobre o matrimónio, “Uma Afirmação de Casamento”, de 1996. Neste contexto, refira-se que os ministros adventistas do sétimo dia não casarão membros da igreja com não membros. Casamentos mistos só se celebrarão fora da igreja adventista. Adultério, perversão sexual e “abandono por um cônjuge descrente” são motivos válidos para o divórcio entre os adventistas, embora a igreja tente primeiro mediar e reconciliar o casal. Se a reconciliação não for possível, o casal pode-se divorciar e o cônjuge que permaneceu fiel tem o direito de se casar novamente. O cônjuge que quebrou o voto de casamento não pode casar-se novamente enquanto o ex-parceiro viver.

Vítor Teixeira

Universidade Católica Portuguesa

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