Cinemas, Destinos… e Arquitectura

1– Longe vão os tempos em que ir ao cinema era todo um ritual que exigia informação prévia, ponderação acerca do filme que se pretendia ver (e não consumir) e do dinheiro despendido com tal acto cultural. Agora é toda uma romaria rumo aos centros comerciais de gente disposta a queimar o crédito dos cartões plastificados e que nas horas mortas dá um salto a uma das salas dos múltiplos “multiplex” para assistir à sessão que lhe der mais jeito. Como dizia um amigo, e muito acertadamente, «o negócio cinematográfico de agora não é propriamente vender filmes, mas sim despachar pipocas e cachorros quentes e oferecer o filme em forma de cupão-bónus». Nada mais verdadeiro! Até porque a maioria dos espectadores assiste a filmes com o mesmo empenho com que mastiga o milho insuflado, caramelizado ou não.

Produtos de consumo agora também extremamente populares são as viagens “à la carte”, associadas a revistas de Domingo de jornais ou com existência própria mês após mês. Os responsáveis editoriais de uma conceituada revista de viagens brasileira têm por hábito, numa legítima manobra de “marketing”, promover concursos que consistem em levar os leitores a responder a um determinado número de perguntas relativas a uma foto-mistério e a tentar descortinar qual o país, cidade ou região a que ela se refere. Num exemplar que me veio parar às mãos deparei com a foto de um rio (claramente o Mekong) fotografado a partir de Luang Prabang, no Laos. A primeira das seis perguntas reza assim: “O rio desta foto banha seis países, é um dos mais longos do mundo e, acredita-se, foi atravessado por Marco Polo”. Infelizmente continuam a ser tidas como credíveis e irrefutáveis algumas das ficções engenhadas pelo distinto veneziano baseadas em relatos que lhe foram feitos por outros mercadores. Sim, pessoas do mesmo ofício, mas não europeus. Se os nossos correligionários brasileiros averiguassem melhor os factos históricos e relativizassem as tendenciosas páginas da Internet talvez incorressem menos em inverdades. E então, a pergunta atrás citada seria reformulada da seguinte maneira: “O rio desta foto banha seis países, é um dos mais longos do mundo e foi inúmeras vezes atravessado por aventureiros portugueses”. Não acham mais bonito?

2– O Simpósio Internacional de Intercâmbios Arquitecturais na Ásia é um evento realizado de dois em dois anos, de forma rotativa, pela Associação de Arquitectos do Japão e as suas congéneres da China e da Coreia do Sul. Trata-se de um simpósio de carácter académico, já que a maior parte dos participantes são professores e alunos que preparam teses de mestrado ou de doutoramento. Na cidade de Matsue, a sede anfitriã, encontramos os primeiros e mais genuínos templos xintoístas, bem diferentes dos templos budistas ou taoistas. Matsue conta ainda com um castelo datado do início do século XVI que denota, no seu estilo, uma clara influência portuguesa, de resto à semelhança do que acontece com muita da arquitectura militar na Índia, na Malásia e também em Macau onde existiu outrora uma torre de artilharia antes da modernização da actual Fortaleza da Monte.

Joaquim Magalhães de Castro

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